sábado, 24 de julho de 2010

Odisseu ou Ulisses





Odisseu ou Ulisses foi um herói da guerra de Troia. Rei de Ítaca, indicou Menelau como pretendente de Helena e dai surgiu a amizade com Menelau e Agamemnon. Casou-se com Penélope e teve um filho, mas logo partiu para lutar ao lado dos nobres em Tróia. 

Foi um dos elementos mais atuantes no cerco de Tróia, destacando por sua prudência e astúcia. Durante a batalha, os gregos venceram pelos conselhos de Odisseu. Tentou em vão convencer Aquiles a cessar sua ira contra Agamemnon, porém sem sucesso. 

Um de seus mais famosos ardis foi sua estratégia de construir um cavalo de madeira, que permitiu a entrada dos exércitos gregos na cidade, o cavalo de Tróia. Após a derrota dos troianos, Odisseu iniciou uma viagem de dez anos de volta para Ítaca onde, apesar da demora,  sua mulher o esperava com uma fidelidade obstinada, 

Durante sua longa viagem, Odisseu chegou à ilha dos Cíclopes e aventurou-se em uma grande gruta. E assim, ele e seu companheiros entraram e começaram a banquetear com a comida que ali tinha. 

Eles não sabiam que aquela gruta era o lar de Polifemo e de suas ovelhas, e assim eles foram encerrados dentro da caverna. O cíclope começou a devorar cada um deles, mas Odisseu armou um plano para escapar com os amigos.

Para conquistar a confiança de Polifemo, Odisseu lhe deu um barril cheio de vinho. Quando Polifemo lhe perguntou seu nome, Odisseu disse que se chamava Ninguém. O gigante bebeu todo o vinho e, bêbado, caiu dormido, 

Odisseu e seus homens tomaram uma lança e cravaram no único olho de Polifemo. Enquanto o gigante  gritava em desespero, Ulisses tentava sair dali com seus amigos, mas não conseguiam porque havia uma grande pedra que impedia a saída. Eis que surgiu uma grande ideia.

Pela manhã, Odisseu e seus homens se ataram ao ventre das ovelhas. Quando o ciclope abriu a caverna, por não conseguir ver ele apalpava cada ovelha para assegurar que nenhum dos homens pudesse fugir. Sentindo apenas a lã, Polifemo deixou que as ovelhas saíssem.

Quando já estavam na embarcação, Odisseu gritou: " Ninguém te feriu, senão odisseu" ... Eles n~so sabiam que Polifemo era filho de Poseidon, o deus dos mares do qual tinha se tornado inimigo devido a destruição de Tróia. 

Polifemo lançou uma maldição sobre Odisseu e Poseidon criou-lhe inúmeros problemas durante a viagem. Com a ajuda de Zeus e de outros deuses, Odisseu chegou em casa para encontrar sua esposa Penélope, que era importunada por diversos pretendentes. 

Disfarçado como mendigo, certificou-se da fidelidade da amada e exterminou os pretendentes. Vencendo muitas guerras contra insurgentes que queriam vingar seus mortos, a paz foi restaurada por Atena.


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O mito de Ulisses com Polifemo mostra a vitória da razão contra a força física. Apesar da grande diferença de tamanho: Polifemo era um gigante e Ulisses e seus companheiros eram à sua frente apenas seres humanos indefesos. 

A razão e inteligência de Ulisses, garantiu a sua sobrevivência e de seus amigos. É normal que durante nossa vida nos deparemos com diversos momentos onde é necessário ter uma tomada de decisão. Você já parou para se perguntar como isso acontece?

O cérebro humano é dividido em duas partes: esquerdo – da razão – e direito – da emoção. Suas funções se relacionam ao intelecto, aos controles musculares, à regulação interna de variadas funções corporais e aos centros emocionais. Cada lado cumpre funções específicas e é por meio da interação entre eles que acontece a organização neurológica. 

O racional, que corresponde ao lado esquerdo, é responsável por processar as informações que adquirimos, selecionando as que possuem aplicação prática, além de estruturar os dados de maneira racional.

O emocional, que fica do lado direito, tem a função de dar sentido à percepção e de interagir com o meio, sendo intuitivo, emocional e criativo. Em cada pessoa, um desses lados é mais predominante que o outro.

Mas, afinal, razão ou emoção? O que é melhor para uma tomada de decisão mais assertiva? Este é um conflito que há muito tempo permeia nossas vidas, relações e decisões. A resposta é simples: é preciso saber equilibrar os dois para chegar aos nossos objetivos. Mas como equilibrar razão e emoção? 

Nossas decisões são regadas por razão e emoção. Ambas são extremamente importantes e precisam estar harmonizadas para tomar uma decisão. Isso porque, apesar de sempre ouvirmos que precisamos ser racionais na hora de decidir alguma coisa, é a emoção que mede a razão.

Antes de qualquer coisa, é necessário avaliar emocionalmente as consequências de nossas ações, bem como balancear os pontos negativos e positivos. Assim, tendemos a evitar as perdas do que desejar os ganhos.

As decisões que tomamos são processadas no nosso cérebro no neocórtex frontal, percursor da fala e do pensamento, onde se produz linguagem. Quando recebemos uma informação, nosso neocórtex interpreta as sensações e envia sinais para o sistema límbico – que tem a habilidade de aprendizagem e memorização –, que os transforma em emoções.

Assim, aprendemos com nossas experiências passadas e conseguimos entender melhor o que fazer quando diante de uma situação decisiva. A emoção: cheia de vida, age de forma ilógica, intempestiva, sem pensar nas consequências. Porém a razão usa a lógica e a ponderação para avaliar os fatos antes de qualquer coisa. 

Se permitirmos ser guiados pela emoção, logo nos perderemos no caminho e não chegaremos ao nosso objetivo. Por outro lado, se permitirmos ser guiados apenas pela razão, podemos não sair do lugar. 

Como a Inteligência Emocional pode ajudar no equilíbrio de ambos os lados? É preciso encontrar uma maneira de harmonizar os lados para conseguir tomar uma decisão. Precisamos ponderar pontos positivos e negativos por meio da razão, mas sem deixar de lado a emoção. 



Hércules ou Héracles




Hércules ou Héracles, o maior de todos os heróis gregos, era filho de Zeus e Alcmena. Alcmena era a virtuosa esposa de Anfitrião e, para seduzi-la, Zeus assumiu a forma de seu marido enquanto este estava ausente de casa. Quando seu marido retornou, descobriu o que tinha acontecido e ficou tão irado que construiu uma grande pira para queimar Alcmena viva. Mas Zeus mandou nuvens de chuva para apagar o fogo e Hera, a esposa de Zeus, passaria a perseguir Hércules por toda sua vida.

Ainda recém-nascido, Hércules rapidamente revelou seu potencial heróico. Ainda no berço ele estrangulou duas serpentes que a ciumenta Hera, esposa de Zeus, mandou para atacá-lo. E ainda menino, ele matou um leão selvagem no Monte Citéron. Na vida adulta, as aventuras de Hércules foram maiores e mais espetaculares do que as de qualquer outro herói.

Por toda a antiguidade ele foi muito popular e se tornou o assunto de numerosas estórias e incontáveis obras de arte. Apesar das mais coerentes fontes literárias sobre suas façanhas datarem apenas do século III a.C., citações espalhadas por vários locais e a evidência de fontes artísticas, relatam que suas aventuras eram bem conhecidas em tempos mais antigos.

Hércules realizou seus famosos doze trabalhos sob o comando de Euristeu, Rei de Argos de Micenas. Existem várias explicações da razão pela qual Hércules foi obrigado a realizar os pedidos cansativos e aparentemente impossíveis de Euristeu. Fontes sugerem que os trabalhos eram uma penitência imposta pelo Oráculo de Delfos quando, num acesso de loucura, ele matou todos os filhos de seu primeiro casamento.

Enquanto os seis primeiros trabalhos se passam no Peloponeso, os últimos levam Hércules a vários lugares na orla do mundo grego e além. Durante os trabalhos, Hércules foi perseguido pelo ódio da deusa Hera, que tinha ciúmes dos filhos de Zeus com outras mulheres. A deusa Atena, filha de Hera, era uma defensora entusiasta de Hércules e também desfrutava da ajuda ocasional de seu sobrinho Iolau.

Hércules deveria matar o leão de Neméia, uma enorme fera invulnerável a qualquer arma. Hércules lutou com ele e estrangulando-o apenas com suas mãos, removeu sua pele e passou a utilizá-la como uma capa protetora que o tornava também invulnerável a qualquer arma.

Exigia a destruição da Hidra de Lerna, um monstro de várias cabeças que flagelava os pântanos perto de Lerna. Sempre que Hércules decepava uma cabeça, duas cresciam. Mas Iolau o ajudou e, enquanto cortava as cabeças de Hidra, seu sobrinho as cauterizava com uma tocha flamejante, evitando que novas cabeças surgissem. Em seguida, Hércules embebeu suas flechas no sangue venenoso de Hidra, tornando-as venenosas.

No Monte Erimanto havia um feroz javali. Euristeu ordenou que Hércules lhe trouxesse o animal vivo à sua presença. As antigas ilustrações deste episódio mostram principalmente Euristeu acovardado refugiando-se num grande jarro, sugere que ele veio a se arrepender desta ordem. Hércules levou um ano para realizar o trabalho a seguir, que era capturar a Corça do Monte Carineu.

Os Pássaros Estinfalos eram tão numerosos que estavam destruindo todas as plantações nas vizinhanças do Lago Estinfalo em Arcádia. Eles eram comedores de homens, ou pelo menos podiam atirar suas penas como se fossem flechas, e Hércules os afugentou.

O Rei Áugias de Élida possuía grandes rebanhos de gado, cujos currais nunca tinham sido limpos, assim o estrume tinha vários metros de profundidade. Euristeu deve ter pensado que a tarefa de limpar os estábulos num único dia seria impossível, mas Hércules uma vez mais conseguiu resolver a situação, desviando o curso de um rio e as águas fizeram todo o trabalho por ele.

Euristeu então pede que Hércules capture o selvagem touro de Creta, o Minotauro. Assim que Euristeu viu o animal, Hércules o soltou até que Teseu foi capturar o Touro em Maratona. A seguir, Euristeu enviou Hércules à Trácia para trazer os cavalos devoradores de homens de Diomedes. Hércules amansou estes animais alimentando-os como seu brutal senhor, e os trouxe de maneira segura a Euristeu.

A seguir, ele foi imediatamente mandado, desta vez para as margens do Mar Negro, para buscar a cinta da rainha das Amazonas. Hércules levou um exército junto consigo nesta ocasião, mas nunca precisaria dele se Hera não tivesse criado problemas. Quando chegou à cidade das Amazonas de Temisquira, a rainha das Amazonas estava até feliz que ele levasse sua cinta. Hera, sentindo que estava sendo fácil demais, espalhou um boato que Hércules pretendia levar a própria rainha, iniciando-se uma sangrenta batalha. Hércules, conseguiu escapar com a cinta, mas após duros combates e muitas mortes.

Depois foi mandado além da borda do Oceano no extremo ocidente, para buscar o Rebanho de Gérião. Gérião era um formidável desafio; não apenas tinha um corpo triplo, mas para ajudá-lo a tomar conta de seu maravilhoso rebanho vermelho, também utilizava um feroz pastor chamado Euritão e um cachorro com duas cabeças e rabo de serpente chamado Orto. Orto era o irmão de Cérbero, o cão que guardava a entrada do Mundo Inferior. O encontro de Hércules com Gérião é algumas vezes interpretado como seu primeiro encontro com a morte. Apesar de Hércules ter se livrado de Euritão e Orto sem muito dificuldade, Gérião, com seus três corpos pesadamente armados, provou ser um adversário mais formidável, e apenas após uma terrível luta Hércules conseguiu matá-lo.

Quando retornou à Grécia, Euristeu enviou para uma jornada ainda mais desesperadora, descer ao Mundo Inferior e trazer Cérbero, o próprio cão do Inferno. Guiado pelo deus mensageiro Hermes, Hércules desceu ao lúgubre reino dos mortos e, com o consentimento de Hades e Perséfone, tomou emprestado o monstro assustador e de três cabeças para mostrá-lo ao aterrorizado Euristeu. Depois devolveu o cachorro a seus donos de direito.

Mesmo assim, Euristeu solicitou um último trabalho: que Hércules lhe trouxesse os Pomos do Ouro de Hespérides. Estes pomos, a fonte da eterna juventude dos deuses, era um jardim nos confins da terra e dava as frutas douradas, que eram cuidadas pelas ninfas chamadas Hespérides e guardadas por uma serpente.

Além dos doze trabalhos, muitos outros feitos heróicos e aventuras foram atribuídos a Hércules. Como era um adivinho Cipriota e tornou-se a primeira vítima de seu próprio conselho. Quando o método se mostrou efetivo, Busíris ordenou que todo o estrangeiro temerário o suficiente a entrar em seu reino seria sacrificado. Na vez de Hércules, deixou-se ser aprisionado e levado ao local do sacrifício antes de se voltar contra seus agressores e matar uma grande quantidade deles.

Hércules era muito leal aos seus amigos; mais de uma vez ele arriscou sua vida para ajudá-los. Hércules era o super-homem grego, sendo muitas das estórias de seus feitos interessantes contos de realizações sobre-humanas e monstros fabulosos. Ao mesmo tempo Hércules, assim como Ulisses, também atua como se fosse um homem comum, sendo suas aventuras como parábolas exageradas da experiência humana.

Irritadiço, não extremamente inteligente, apreciador do vinho e das mulheres, com inúmeras aventuras amorosas, era uma figura simpática. Destruía o mal e defendia o bem, superando todos os obstáculos que o destino lhe colocava. Além de tudo, ofereceu alguma esperança para a derrota da ameaça última e crucial do homem, a morte.

O fim de Hércules foi caracteristicamente dramático. Uma vez, quando ele e sua nova noiva Dejanira estavam atravessando um rio, o centauro Nesso ofereceu-se para transportar Dejanira e no meio da correnteza tentou raptá-la. Hércules matou-o com uma de suas flechas envenenadas. Ao morrer, Nesso simulando arrependimento, incentivou Dejanira a pegar um pouco de sangue do seu ferimento e guardá-lo. Se Hércules algum dia parecesse cansado dela, deveria embeber um traje no sangue e dá-lo para que ele o vestisse; após isso, ele nunca mais olharia para outra mulher.

Anos mais tarde Dejanira lembrou-se deste conselho quando Hércules, voltando de uma distante campanha, mandou à frente uma linda princesa aprisionada pela qual estava evidentemente apaixonado. Dejanira mandou a seu marido um robe tingido pelo sangue. Ao vestir a roupa, o veneno da Hidra penetrou na sua pele e ele tombou em terrível agonia. Seu filho mais velho, Hilo, levou-o ao Monte Eta e depositou seu corpo numa pira funerária. Entretanto, os trabalhos de Hércules asseguraram-lhe a imortalidade, assim ele subiu ao Olimpo e assumiu seu lugar entre os deuses que vivem eternamente, pois Gerião e Cérbero representavam a morte e as maçãs eram o fruto da Árvore da Vida.

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A luta de Héracles ou Hércules com as feras representa a constante luta que temos para conter a fera que mora dentro de nós, ao mesmo tempo que preservamos nosso instinto vital e criativo. O leão está sempre associado à realeza, e mesmo em sua forma destrutiva, é o rei dos animais, egocêntrico e selvagem, o princípio infantil. Dessa forma sempre que derrotamos e vestimos a pele do leão, as opiniões dos outros, que antes nos intimidavam, já não tem mais valor, pois estamos vestidos com uma poderosa couraça, nossa própria identidade.

No entanto, por mais heróica que seja, a pele do leão sempre representa o egocentrismo, a dificuldade de lidar com a frustração e com a raiva contida. É quando não sabemos lidar com a frustração por não conseguirmos o que queremos, a auto-importância inflamada e o orgulho desmedido. Entretanto quando dominamos essa fera poderemos utilizá-la de forma construtiva. Essas conquistas e vitórias exigem que deixemos para trás as couraças, que carregam uma alma sem paixão.

Iris, deusa mensageira




Iris, a deusa do arco colorido do céu e mensageira de Hera, representa o lado feminino de Hermes. Era adorada pelos deuses e pelos mortais por sua natureza de bondade. Sempre quando havia uma mensagem para os mortais, Iris tomava a forma humana ou se apresentava como uma mulher alada. Ás vezes cortava o céu com a mesma rapidez que seu marido, Zéfiro, o vento oeste. Outras vezes descia suavemente através do arco íris que ligava o céu à terra.

Ela penetrava em todos os lugares e até mesmo o mundo das trevas abria suas portas para ela entrar. Ela sempre recepcionava os deuses com néctar e ambrosia quando eles retornavam de suas viagens. Iris preparava os banhos para Hera e lhe prestava serviços dia e noite, estando sempre à sua disposição. Assim Hera também a utilizava em suas vinganças, embora sua tarefa fosse o consolo e a pacificação.


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Iris representa a construção de uma personalidade estável e equilibrada. É a temperança e verdadeira misericórdia, sendo ligada ao sentimento que nos leva à escolha refletida de afeto. Isso é diferente da emoção, que se relaciona apenas como uma reação visceral às situações. O sentimento é uma constante variação dos opostos, uma cuidadosa percepção de uma situação específica com objetivo de preservar a harmonia.

Em sua representação, Iris derrama água de um vaso a outro, porque o sentimento deve fluir e se renovar. Ela se presta aos serviços e às vinganças de Hera, mas sua finalidade será sempre de cooperação, harmonia, conduzindo com delicadeza o julgamento dos sentimentos que é diferente do sentimentalismo.

Em nome da harmonia, Iris não discute, não provoca conflito mas também não cresce. esmo que não exista espaço para a solidão, manter relacionamentos estagnados é uma forma de estagnação que asfixia.  Iris operando em todos os níveis serve devotamente aos deuses e não sobrevive sem alguém para servir. Ela também se faz presente naquelas pessoas que sempre dizem "sim" para evitar qualquer conflito com os outros, assim que possa criar um conflito interno para si....


Atena




Atena, deusa da justiça, é filha de Zeus e de Métis, a deusa da Prudência, a primeira esposa de Zeus. Quando Métis estava ainda grávida, Zeus recebeu a previsão de que a criança poderia ser mais poderosa que o pai. Para impedir que a profecia se concretizasse, Zeus pediu à mulher para se transformar numa mosca. Sem perceber as intenções de Zeus, ela voa e pousa em suas mãos. Imediatamente, ele a aprisiona e a engole.

Métis estava grávida e a cabeça de Zeus crescia a cada dia, até que da cabeça de Zeus nasceu Atena, já adulta, e a profecia não se cumpriu. Dançando triunfante, Atena com suas armas soltou um grito de guerra. Mais tarde tornou-se a filha favorita de Zeus despertando ciúme nos outros deuses.

A inclinação guerreira de Atena foi reconhecida a partir de seu nascimento e era diferente de Ares, o deus da guerra. Atena cultivava seus altos princípios e ponderação sobre a necessidade de lutar para preservar e manter a verdade. Era estrategista e equilibrava a força bruta de Ares com sua lógica, diplomacia e sagacidade. Ela oferecia aos heróis as armas que deveriam ser usadas com inteligência, maestria e planejamento.

Atena era uma exceção no Olimpo conservando sua castidade. Ela ensinou aos homens a doma de cavalos e às mulheres a arte de bordar, além das coisas práticas da vida e da arte em geral. Atena era uma deusa civilizada e ao mesmo tempo uma guerreira que protegia e preservava a pacifica civilização.

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Atena, a deusa da justiça, é a imagem do julgamento reflexivo e da racionalização, o que diferencia o homem do animal. Eles consideravam que por ela não ter nascido de uma mãe, ela estaria livre para julgar com imparcialidade todos os aspectos de uma situação. Sua castidade representa além da pureza, o seu caráter reflexivo que jamais se deixava influenciar pelo desejo humano e pessoal.

Seu desejo de lutar por princípios ao invés das paixões, vem da capacidade de fazer escolhas refletidas mantendo sob controle os instintos. Ela congrega a força, a justiça, a temperança e a reflexão, quatro aspectos necessários e que contribuem para a formação do ego. Essas faculdades nos permitem enfrentar os desafios da vida com base estável e verdadeira.

Ares e Afrodite





Ares, deus da guerra, foi concebido por Hera sem a semente masculina. Alegrava-se com a luta e junto com seus dois filhos, Deimos - o espanto e Phobos - o terror, estavam sempre em batalhas. Ares era oposto a Atena, a divindade guerreira representada pela estratégia e coragem refletida, enquanto Ares amava o calor da batalha e exultava em derrotar o inimigo. Ares sempre foi repelido pelos deuses pois estava sempre associado aos conflitos e guerras sangrentas, usando sua força bruta e sem refinamento.

Afrodite era casada com Hefesto, irmão de Ares, um deus ferreiro, doente e deformado. Porém, impressionada pelo vigor do jovem guerreiro, correspondia aos encantos de Ares. Hefesto descobriu o adultério e planejou uma terrível vingança. Em segredo forjou uma rede muito fina, quase invisível, porém muito forte que não podia ser destruída, e pendurou-a sobre o leito.

Quando Ares e Afrodite adormeceram, Hefesto soltou a rede sobre ambos e chamou todos os deuses para testemunhar o adultério. A paixão de Ares jamais foi suplantada pela vergonha. Tempos depois nasceu Harmonia, estabelecendo uma ligação equilibrada entre o amor e a paixão.


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Ares é a imagem dos instintos guiados pela vontade do consciente. Ares, nascido sem o pai, representa a competição do ser humano, sem o arquétipo do pai, para lhe oferecer um código de ética ou uma visão adequada da situação. Porém, sua vontade e coragem são imensuráveis necessária à personalidade humana, pois apenas a visão espiritual não garante a sobrevivência num mundo competitivo.

Após o conflito como resultado de suas escolhas, aprende-se que com a utilização dos ímpetos irrefletidos deverá assumir as consequências de seus atos. Na mitologia, Ares sempre estava envolvido num conflito ou numa disputa. Apesar das humilhações e da derrota, ele conseguiu a serenidade, através da harmonia, conduzida com criatividade e firmeza.

Ares simboliza a luta necessária e, embora haja o comprometimento espiritual, os impulsos existem. Podem ser suprimidos a nivel inconsciente, mas surgirão mais tarde na forma de problemas ou então projetados nos outros que descarregarão sua agressividade sobre nós. Quando conseguimos enfrentar o desafio de Ares, podemos conter e direcionar essa força para nos desenvolvermos com maturidade.

Páris - o mito do signo de Libra



Quando Páris nasceu, um oráculo previu que o menino seria a ruina do império do seu pai, o rei Priamo de Tróia. Com medo da profecia, o pai condenou o filho à morte, abandonando-o no alto nas montanhas. Porém Páris foi salvo por um pastor que o criou e ensinou-lhe a cuidar das ovelhas. Quando Páris cresceu, tornou-se muito bonito e sedutor e, constantemente, estava envolvido em façanhas amorosas.

No Monte Olimpio havia uma questão entre as deusas Hera - rainha das deusas, Afrodite - deusa do amor e Atena - deusa da justiça, para saber qual era a mais bela. Zeus designou Páris para essa missão, justamente por sua variada experiência junto às mulheres. Sabiamente Páris recusou a escolha pois qualquer decisão colocaria as outras contra ele, mas foi persuadido a aceitar a proposta.

Nos dias anteriores à escolha, as três lhe fizeram propostas, caso fosse escolhida. Hera ofereceu-lhe o império do mundo; Atena prometeu fazer dele o melhor guerreiro; Afrodite ofereceu-lhe a taça do amor, prometendo-lhe a mulher mais linda do mundo. Páris era jovem e não tinha outros interesses, senão as mulheres. Assim, Páris escolheu Afrodite e sua recompensa foi Helena, a esposa de Menelau. Preteridas e humilhadas, Hera e Atena delataram a traição de Helena e com a fúria de seu marido foi conflagrada a Guerra de Tróia que terminou com a destruição total da cidade. Mais uma vez, o oráculo confirmou suas profecias.

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Páris representa o primeiro grande desafio da vida para o desenvolvimento individual: a escolha no amor, que não restringe a escolha entre duas pessoas, mas aos nossos valores uma vez que nossas escolhas nos remete ao tipo de pessoa que queremos nos tornar. Páris escolheu com imaturidade vinculando-se aos seus desejos e não à sua pessoa. É o livre arbitrio e a compulsão instintiva.

As consequências das escolhas são muitas e afetam todos os níveis da vida. A escolha compulsiva de Páris resultou na destruição de Tróia. Ele não decidiu errado mas não estava preparado para discernir entre os apelos eróticos e a gravidade de possuir a esposa de outro homem. Também não sabia avaliar os poderes que teria como grande guerreiro e imperador do mundo.

Isso mostra que às vezes diante dos desafios da vida temos de estar preparados para fazer nossas escolhas de forma responsável. Se não aprendemos, podemos culpar o destino ou por a culpa em alguém, sem perceber que os fracassos podem ocorrer exclusivamente pela nossa falta de reflexão.



Zeus, o mito do signo de capricórnio




Zeus era filho do Titã Cronos e Réia. Cronos engolia os filhos ao nascer, e quando nasceu Zeus, temendo por seu destino, Réia o entregou a Gaia para criá-lo. A cabra Amaltéia se tornou a sua ama de leite e o instruiu que usasse sua pele indestrutível quando fosse enfrentar seu pai e levasse seus chifres que iriam alimentá-lo. Amaltéia se entregou à morte para dar a Zeus sua pele e seus chifres.

Quando cresceu, Zeus partiu levando consigo as instruções de Amaltéia. Deu a seu pai uma poção que o fêz vomitar todos os filhos engolidos. Assim Zeus fêz renascer seus irmãos e assumiu o poder se tornando o rei dos deuses, criador do mundo e soberano dos homens, criando uma nova hierarquia de deuses. Agradecidos pela lição de responsabilidade e generosidade de Amaltéia, os deuses a transformaram na constelação de capricórnio.


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Zeus representa a experiência da paternidade, o pai interior que incorpora nossos ideais espirituais, nossos códigos de ética e nossa auto-suficiência que nos faz sobreviver. É a nossa ambição que nos impulsiona e sugere a disciplina e antevisão que precisamos para atingir nossos objetivos. É o princípio paternalista dentro de cada um de nós que nos dá o auto-respeito, pois é exatamente esse aspecto da personalidade que nos faz saber escolher ou estabelecer um princípio para aceitar os desafios da vida.

Zeus era piedoso, protetor e complacente mas se tornava vingativo quando suas leis eram desafiadas. Assim Zeus mostra sua inflexibilidade e autoridade excessiva. Para se relacionar com esse pai interior, existente em todos nós, é necessário lidar com nosso potencial, com nossa capacidade de planejar e concretizar. Ser dominado pelo pai interior é ser inflexível, dominado por crenças que se transformam em arrogância.

Assim como Zeus, temos de abrir mão de certos preceitos ou normas para inaugurar novos padrões, caso contrário podemos sucumbir à tirania do mundo exterior. Mas também temos de nos ater aos princípios morais e éticos para não nos tornarmos meros joguetes do destino, ou colocar a culpa em outros pelos nossos fracassos. 


Perséfone - o mito do signo de Virgem




Perséfone era a rainha das trevas, filha de Deméter, a guardiã dos segredos dos mortos. Ela foi raptada por Hades, o deus das trevas que, enlouquecido de amor, a raptou enquanto ela colhia flores nos campos. Levada até seu reino sombrio, Hades deu-lhe a romã, a fruta dos mortos, e ela ficou ligada a ele para sempre, tendo de permanecer com ele durante 3 meses do ano. Embora Perséfone ficasse com a mãe durante 9 meses do ano, ela não podia revelar a ninguém os segredos do mundo de Hades.

O reino de Hades era cheio de mistérios, protegido pelo rio Estige, que nenhum ser humano podia cruzar e apenas Hermes podia guiar os poucos escolhidos na escuridão da travessia. E nem as almas podiam atravessá-lo sem dar uma moeda a Caronte, o velho barqueiro do rio, que os levava até o reino de Hades, onde ficava Cérbero, o terrível cão de três cabeças e cauda de serpente que devorava quem ultrapassasse os limites impostos pelos limites do reino invisível.

Perséfone está relacionada à imagem do nosso misterioso e insondável mundo interior que a psicologia denomina inconsciente, como se por detrás do mundo diário, sob a luz do dia, existisse um outro mundo cheio de riquezas e mistérios a serem desvendados. Nesse universo interior estão nossos potenciais a serem desenvolvidos e também as facetas sombrias e mais primitivas da personalidade. Perséfone é aquela parte que cada ser humano quer conhecer e onde guarda os próprios segredos do seu mundo interior.

Entretanto, só consegue ter uma vaga noção com o despertar da consciência e que aparece por meio de fragmentos de sonhos ou através de estranhas coincidências da vida que nos faz questionar a respeito da existência de algum padrão oculto que opera dentro de nós. Perséfone é sedutora e fascinante porém jamais fala de seus segredos. Da mesma maneira, o mundo do inconsciente penetra nos sonhos e nas intuições que também seduzem e são fascinantes. Contudo quando tentamos dominá-lo através do intelecto, esse mundo escapa ao nosso alcance.

Quiron, o curador ferido



Os centauros nasceram de um grande mistério. Diz a lenda que Ixion, filho de Ares, durante um banquete junto aos deuses tentou seduzir a esposa de Zeus. Percebendo as intenções de Ixion, Zeus moldou uma nuvem à semelhança de sua mulher Hera. Sem perceber, Ixion se uniu à nuvem dando origem aos centauros.

Apesar de Quíron ser o rei dos centauros, ele não era filho de Ixion. Quíron era filho de Cronos e da oceanide Filira. Conta a lenda que, para fugir da desconfiança de sua mulher, a deusa Réia, Cronos transformou-se em um cavalo para amar a bela Filira. Dessa união nasceu no monte Pélion,um menino metade homem, metade cavalo. Inconformada em ter gerado um Centauro, Filira teve repulsa do filho. Para não sofrer com a imagem do pequeno monstro, ela pediu aos deuses para que a transformassem em uma árvore.

Compadecidos, os deuses a transformam em uma Tília. Ao ver a amada imóvel em forma de árvore, só restou a Cronos protegê-la dos raios e dos lenhadores, fazendo com que a Tília exalasse para todo sempre um agradável e inebriante perfume quando floresce na primavera. Quiron foi entregue para ser educado por Apolo - o deus sol e por Ártemis, a deusa-lua. Por sua sabedoria, virtudes e grande espiritualidade, foi sagrado rei dos centauros recebendo a incumbência de educar os jovens quanto ao respeito às leis divinas.

Cronos amava o filho e decidido a evitar que ele tivesse o mesmo destino dos centauros que eram violentos e cruéis, Cronos lhe deu as suas virtudes de deus do tempo, fazendo-o o mais sábio dos Centauros. Quiron herdara de seu pai os conhecimentos da magia, da astronomia e o dom de prever o futuro. Mesmo tendo o seu lado bestial, Quiron era um Centauro sábio e gentil, conhecedor das artes e da música.

Certa vez, quando seu amigo Héracles ou Hércules ao vencer e matar a mostruosa Hidra de Lerna, mostrando-lhe suas cabeças envenenadas, acidentalmente feriu Quiron na coxa com uma das flechas impregnadas com o sangue do monstro. Quiron era um ser imortal mas não conseguia curar a si mesmo. Assim ficou condenado a viver em sofrimento, sacrificando sua felicidade terrena e devotando-a inteiramente aos ensinamentos da sabedoria espiritual.

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Quiron representa a parte do ser humano que se eleva às questões do espirito para compreender o mestre espiritual que existe em cada ser humano. Era considerado como um Pontífice que significa "o construtor de pontes", que são os padres e os pastores que servem de guia espiritual, estabelecendo uma relação entre Deus e o homem. É o intérprete que esclarece a natureza das leis que regem a sintonia com o divino. As leis de Quiron, o Hierofante, dizem respeito à boa conduta aos olhos de Deus.

Quiron não representa qualquer sistema religioso. Ele é uma criatura selvagem, metade homem, metade animal, que nos transmite uma lei individual em que o homem só se encontra no seu próprio mestre interior. Por isso, as pessoas experimentam Deus de uma forma individual, com o que Ele representa para cada um.

Os ferimentos de Quiron o transformaram no curandeiro ferido, aquele que, por meio de sua própria dor, é capaz de compreender a dor dos outros. Quiron representa a parte ferida de cada um simbolizada por alguma deficiência, limitação ou problema, que o torna benevolente em relação aos que o cercam, pois entende-lhes o sofrimento com compaixão.

O paradoxo se apresenta na forma do centauro, metade deus e metade cavalo, na capacidade de compartilhar o instinto e o espírito, contendo a dualidade própria da condição humana. Nunca o ser humano será capaz de ser totalmente humano e nunca será totalmente um animal, tendo que aprender a conviver com as duas partes. Dessa mistura vem a sabedoria do centauro, que compartilha do conhecimento de Deus e do conhecimento das leis naturais.

Deméter




A deusa Deméter ou Ceres, soberana da natureza e protetora das criaturas jovens e indefesas, era a responsável pelo amadurecimento anual do grão e ao final do verão todos lhe agradeciam pela fatura. Ela regia os ciclos da natureza e de todas as coisas vivas, usando suas múltiplas cores. Presidia a gestação, o nascimento e abençoava os ritos do matrimônio como perpetuação da natureza. Deméter é a deusa matriarcal, que ensinou aos homens as artes de arar, plantar e colher, e ensinou às mulheres a arte de fazer o pão.

Deméter vivia em harmonia com sua filha Perséfone, que gostava de passear pelos campos. Mas um dia Perséfone saiu e não retornou. Depois de muitos anos de busca, Deméter descobriu que Hades, o senhor das trevas, havia raptado sua filha e a tinha levado ao mundo subterrãneo. Enfurecida Deméter ordenou que a terra secasse e recusou a devolver a abundância.

Embora sua filha Perséfone tenha se tornado a rainha das trevas e era bem tratada por Hades, Deméter não se conformava e queria a filha de volta. Hermes, o mensageiro dos deuses, foi incumbido de intervir para resolver a questão e fizeram um acordo. Durante nove meses do ano Perséfone viveria com sua mãe mas durante três meses deveria retornar para o marido.

Embora mantivesse o acordo, Deméter nunca se conformou. Em todos os anos, durante a ausência da filha, Deméter chorava e se lamentava; a terra se tornava fria, as folhas caiam e nada produzia, dando origem ao inverno. Mas logo quando a filha retornava, Demeter fazia florescer as flores, iniciando a primavera.


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Deméter reflete a experiência da maternidade que não está restrita à gestação, nascimento e aleitamento mas também à descoberta do corpo como algo precioso e que merece cuidados e atenção. É a conscientização de sermos parte da natureza, de estarmos ligados à vida natural e apreciar os prazeres da vida diária. Se não temos Deméter dentro de nós não podemos gerar, dar frutos, pois esse é o aspecto que nos faz ter paciência para esperar que as coisas amadureçam e assim podemos agir. É saber respeitar os limites da realidade.

Deméter é sábia e sua sabedoria vem da natureza que se movimenta em ciclos e sabe que deve esperar pois tudo amadurece na hora certa. No entanto, Deméter mostra seu lado sombrio, apático e enlutada que não consegue abrir mão do que julga possuir e se rebela contra qualquer invasão ao seu mundo harmônico. Então quando ocorre alguma intromissão, ela se torna rancorosa e magoada, mesmo sabendo que a vida é cheia de separações e mudanças.


Lenda de Eco




Eco era uma linda ninfa que amava os bosques e os montes, onde se dedicava a distrações campestres. Porém tinha um grave defeito: falava demais e em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.

Um dia a deusa Hera saiu à procura do marido, de quem desconfiava, que sempre estava se distraindo com as ninfas. Mas Eco conseguiu entretê-la com sua conversa até as ninfas fugirem. Percebendo isso, Hera a condenou: “Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste, para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas nunca poderá falar em primeiro lugar”.

Certa manhã a ninfa viu Narciso, um belo jovem que perseguia a caça na montanha. Apaixonada por ele, começou a seguir os seus passos, desejando ardentemente poder dirigir-lhe a palavra, e dizer-lhe frases gentis e agradáveis, para assim conquistar-lhe o afeto. Mas como não conseguia fazê-lo, em virtude do castigo imposto pela deusa Hera, não teve melhor alternativa senão esperar que ele falasse primeiro, para que ela finalmente pudesse responder. Quando Narciso procurava pelos companheiros ele gritava bem alto mas Eco só conseguia responder a última palavra. Quando Narciso viu a jovem, fugiu dela.

Eco foi esconder sua vergonha no recesso dos bosques e passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo se transformou em rochedos e só restou a sua voz. A ninfa continua ainda disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.

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O mito de Eco revela que a pior prisão é aquela em que o ser humano não pode expressar o que pensa ou o que sente; é a tortura de conviver com seus pensamentos e sentimentos presos pelo medo ou pelas convenções ameaçadoras.

Lenda de Pã




Pã, antiga divindade, era o guardião dos rebanhos e tinha por missão fazê-los multiplicar. Deus dos bosques e dos pastos, protetor dos pastores, veio ao mundo com chifres e pernas de bode. Filho de Dríope, uma das Plêiades, e de Hermes, o mensageiro dos deuses, sendo considerado o deus intermediário, era natural que estabelecesse a transição entre os deuses de forma humana e os de forma animal.

Contudo Pã foi abandonado por sua mãe no nascimento, assustadíssima com sua esquisita conformação, com pés de bode e chifres na testa e barba espessa. Quando Hermes levou o filho ao templo, todos do Olimpo ridicularizaram a criança. Em vista disto, Hermes pediu que a criança nunca o chamasse de pai.

Era temido por todos aqueles que necessitavam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão da travessia provocava pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente e que eram atribuídos a Pã; daí o nome pânico. Os latinos chamavam-no também de Fauno e Silvano.

As ninfas zombavam incessantemente de Pã em virtude do seu rosto repulsivo, ele tomou a decisão de nunca amar. Porém um dia desejando lutar corpo a corpo com Eros, foi vencido e abatido diante das ninfas que riam. Percorrendo os bosques encontrou a ninfa Syrinx que jamais quisera receber homenagens das divindades e só tinha uma paixão: a caça. Aproximou-se dela e, como nos costumes campestres, lhe cortejou. Porém Syrinx, pouco sensível às declarações de amor saiu correndo e vendo-se detida, rogou ajuda às suas irmãs ninfas.

Quando Pã quis abraçá-la, ela foi transformada em caniços. Suspirando sobre os caniços agitados, Pã ouviu um som e criou a flauta syrinx. O Cupido lhe anunciou que os sons amorosos da flauta atrairia, apesar de sua aparência grotesta, as belezas que o desdenhavam. Com efeito, em breve, os melodiosos acordes fatrairam de toda parte as ninfas que vinham dançar em volta do deus chifrudo. A ninfa Pítis mostrava-se tão enternecida, que Pã renascia com a esperança, crendo que o seu talento faria com que fosse esquecido o rosto.

Sempre tocando a flauta de sete tubos, começou a procurar lugares solitários e percebeu, finalmente, um rochedo escarpado no alto do qual resolveu sentar-se. Pítis segue-o e para melhor ouvi-lo, aproxima-se cada vez mais. Pã vendo-a tão perto, julga o momento oportuno para lhe falar. Pítis era amada por Bóreas, o terrível vento do norte, que naquele instante soprava com grande violência. Vendo a amada, teve um acesso de ciúme e não se contendo, soprou com tal impetuosidade que a ninfa caiu no precipício. Imediatamente o corpo de Pitis foi transformado em pinheiro. Pitis em grego significa pinheiro, consagrada a Pã. Por esse mesmo motivo, nas representações figuradas, a cabeça de Pã está coroada de ramos de pinheiro.

Mas o destino de Pã era amar sem que nunca conseguir se unir à criatura amada. Continuando a fazer música na montanha, ouviu no fundo do vale uma terna voz que parecia repetir-lhe os acordes. Era a voz da ninfa Eco, filha do Ar e da Terra. Embora a seguisse e ela respondesse, ele nunca conseguia alcança-la. Assim Pã residia em grutas e vagava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas, trazendo sempre consigo uma flauta.

Pã estava com outros deuses e surgiu Tífon, inimigo dos deuses. O medo transformou cada um dos deuses em animais e Pã assustado, mergulhou num rio e disfarçou assim metade de seu corpo, sobrando apenas a cabeça e a parte superior do corpo, que se assemelhava a uma cabra. Zeus considerou uma estratégia muito esperta e, como homenagem, transformou Pã na constelação de Capricórnio.

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Hermes, o mensageiro dos deuses

Hermes, deus dos viajantes, protetor da magia e da advinhação, responsável pelos golpes de sorte e pelas súbitas mudanças de vida, patrono dos ladrões e dos trapaceiros, era filho de Zeus e da misteriosa Ninfa Maia, a mais jovem das Plêiades, também chamada de noite. Chamado de trapaceiro por sua ambiguidade, ao mesmo tempo era mensageiro dos deuses e também fiel mensageiro do mundo das trevas. Hermes é filho da luz espiritual com as trevas primordiais. Suas cores vermelho e branco refletem a mistura de paixões terrenas com a clareza espiritual que fazem parte de sua natureza.

Ainda muito pequeno, Hermes conseguiu sair do berço, roubou um rebanho de seu irmão Apolo, criou o fogo e assou duas reses. Para enganá-lo, calçou as sandálias ao contrário para que o irmão seguisse a pista falsa. Quando Apolo descobriu o roubo foi exigir de Hermes a devolução das reses. Mas Hermes negou tudo desculpando-se por ser ainda uma criança. Apolo previu que Hermes se tornaria o mestre dos ladrões. Mais uma vez, Hermes enganou o seu irmão Apolo e deu-lhe uma lira feita de casco de tartaruga dizendo ser uma homenagem por suas habilidades musicais. Apolo encantado com a homenagem esqueceu-se do gado.

Apolo, temendo que no futuro Hermes voltasse a enganá-lo, exigiu que o irmão jurasse nunca mais enganá-lo e em troca ele o tornaria rico, honrado e famoso, hábil em tudo que empreendesse honestamente, tanto na palavra como nos atos, e capacidade de concluir o que tivesse iniciado. Deu a Hermes três virgens aladas que ensinavam a divinação e diziam a verdade quando alimentadas com mel. Hermes tornou-se o mestre dos quatro elementos e ensinou aos homens as artes da advinhação.

Retratado por Homero e Hesiodo, com suas habilidades e benfeitor dos mortais, portador da boa sorte e também das fraudes. Autores clássicos também adornaram o mito com novos acontecimentos. Ésquilo mostrou Hermes a ajudar Orestes a matar Clitemnestra sob uma identidade falsa e outros estratagemas,e disse também que ele era o deus das buscas, e daqueles que procuram coisas perdidas ou roubadas.

Sófocles fez Odisseu invocá-lo quando precisou convencer Filocteto a entrar na Guerra de Tróia do lado dos gregos, e Eurípides o fez aparecer para ajudar Dolon na espionagem da armada grega. Esopo, que pretensamente havia recebido o seu dom literário de Hermes, o colocou em várias de suas fábulas, como regente do portão dos sonhos proféticos, como deus dos atletas, das raízes comestíveis, da hospitalidade.

Também disse que Hermes havia atribuído a cada pessoa o seu quinhão de inteligência. Píndaro e Aristófanes documentam também a sua recente associação com a ginástica, que não existia no tempo de Homero, Aristóteles sistematizou o conceito da hermenêutica, a ciência da interpretação, da tradução e da exegese, a partir dos atributos de Hermes. Eudoxo de Cnido, um matemático, chamou de Hermes o planeta hoje conhecido como Mercúrio, mudança ocorrida graças à influência romana posterior.

Divindade muito antiga, era cultuado como um deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da divinação, das estradas e viagens, entre outros atributos. Ao longo dos séculos seu mito foi extensamente ampliado, tornando-se o mensageiro dos deuses e patrono da ginástica, dos ladrões, dos diplomatas, dos comerciantes, da astronomia, da eloquência e de algumas formas de iniciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de Hades. Com o domínio da Grécia por Roma, Hermes foi assimilado ao deus Mercúrio, e através da influência egípcia, sofreu um sincretismo também com Toth, criando-se o personagem de Hermes Trismegisto - O três vezes grande.

A Hermes são atribuidos uma grande quantidade de amores com deusas, semideusas e mulheres mortais, gerando numerosa descendência. Gerou Hermafrodito, Eros e talvez Príapo junto com Afrodite; Pã junto com ninfa Dríope; seduziu Hécate às margens do lago Boibes, relacionou-se com Peitho, a deusa da persuasão, tomando-a como esposa; tentou cortejar Perséfone, mas foi rejeitado.

Dáfnis, Kaikos, Keryx, Kydon, Ekhion e Eurytos, Eurestos, Norax, Céfalo, Elêusis, Polybos, Mirtilo, Lybis, Pharis, Arabos, três filhos sátiros: Pherespondos, Lykos e Pronomos; eram todos frutos de amores de Hermes com inumeras ninfas, mortais, e semi-deusas. Teve também romances com alguns homens, segundo algumas versões de sua história: Krokos, a quem matou acidentalmente em um jogo de disco, e a quem depois transformou em uma flor; Anfião, a quem teria concedido o dom do canto e a habilidade à lira, por cuja arte operou prodígios, e Perseu, a quem também manifestou especial proteção. Os romanos lhe deram mais um amor, Larunda, com quem gerou os Lares, importantes deidades domésticas.

Freqüentemente é representado como um jovem de belo rosto, vestido com uma túnica curta e trazendo na cabeça um capacete com asas, calçando sandálias aladas e na mão seu principal símbolo, o caduceu doado por Apolo. Como mensageiro ou intérprete da vontade dos deuses, deu origem ao termo hermenêutica.


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Hermes representa nossa capacidade de vislumbrar nossos talentos, mesmo que possamos nos sentir confusos, e pode nos indicar as melhores escolhas que podemos fazer em nossa vida. Hermes é brincalhão e às vezes não responde quando queremos uma direção.

Chega-nos disfarçado através de sonhos que nos perturbam ou na figura de uma pessoa que se torna importante, como se fosse catalizador de uma viagem. Hermes pode surgir sob uma súbita descoberta de que sempre sabemos mais do que imaginamos. Uma circunstância inesperada e corriqueira traz uma mudança em nossas vidas, como um mestre interior ou exterior. Tal como no mito de Dioniso, Hermes o protege até o seu nascimento e nós também podemos nos proteger ou ser protegidos.

Hermes era um deus em quem não se podia confiar, pois era traiçoeiro e maldoso e quase sempre desviava os viajantes das estradas. Assim, seguir o mestre interior nem sempre significa uma escolha segura e garantida. Muitas vezes dependemos de uma indicação externa para orientar-nos.



Dioniso ou Dionisio - Baco




Dioniso, o deus misterioso chamado de "O que nasceu duas vezes", era filho de Zeus e da mortal Sêmele, princesa de Tebas. Hera, a esposa de Zeus, enfurecida com a traição do marido disfarçou-se e encontrou Sêmele ainda grávida e a persuadiu a pedir a Zeus que lhe mostrasse todo o seu esplendor.

Zeus havia prometido a Sêmele jamais negar-lhe algo e ao satisfazê-la, Sêmele não suportou a visão de Zeus com um grande clarão e morreu fulminada. Mas Zeus na tentativa de salvar a criança ordenou a Hermes que a costurasse em sua coxa. Assim, ao terminar a gestação, Dioniso nasceu vivo e perfeito.

Contudo Hera continuou a perseguir a estranha criança de chifres e ordenou aos Titãs que a matassem. Mais uma vez Zeus interferiu e resgatou o coração da criança e o cozinhou junto com sementes de romã transformando numa poção mágica que deu a Perséfone, esposa do deus das trevas. Persefone engravidou e novamente Dioniso nasceu. Por isso passou a ser chamado "o que nasceu duas vezes", deus da luz e do êxtase.

Convocado por Zeus para viver na terra junto aos homens, Dioniso compartilhava com os mortais das alegrias e das tristezas. Mas Dioniso foi atingido pela loucura de Hera indo perambular pelo mundo junto aos sátiros selvagens, dos loucos e dos animais. Deu à humanidade o vinho e suas bençãos. Concedeu o êxtase da embriaguez e a redenção espiritual a todos que decidiam abandonar suas riquezas e renunciar ao poder material.

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Dioniso representa o impulso misterioso dentro de cada um de nós, aquilo que nos impele ao desconhecido e às mudanças. O deus surge como um animal e nos remete à dimensão intuitiva e irracional da personalidade humana, algo como um instinto ou sexto sentido. Representa nosso impulso para nos lançarmos a novos caminhos e horizontes desconhecidos.

No entanto, os impulsos irracionais podem nos levar à criatividade mas também podem nos levar à destruição, se nos lançarmos em situações perigosas, mas também não podemos nos lançar na monotonia de uma vida insignificante. No início de uma viagem não temos garantia de chegarmos e nem quando chegaremos mas pior é não partir pois estaríamos negando nosso potencial criativo, que é muito maior que nós mesmos.

As Moiras ou Parcas



Na mitologia grega as Moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida dos mortais. Durante o trabalho, as Moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio de cada pessoa em sua parte mais privilegiada, o topo; ou em sua parte menos desejável, o fundo, explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos.

As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos e criaram Têmis, Nêmesis e as Erínias. Pertenciam à primeira geração divina originadas do Caos. As Moiras eram filhas de Nix (a noite) e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens. Moira, no singular, era inicialmente o destino. Na Ilíada representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica.

Na Odisséia aparecem as fiandeiras. Os poetas da antiguidade descreviam as Moiras como donzelas de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas.
  • Cloto, em grego significa fiar, segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécate, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos. Láquesis, em grego significa sortear, puxava e enrolava o fio tecido.
  • Láquesis atuava junto com Tyche, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida.
  • Átropos, em grego significa afastar, ela cortava o fio da vida. Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida.
Os meses do calendário atual foram adaptados do antigo calendário lunar. Para os romanos, eram chamadas de Parcas e o significado do nome das Parcas vem do verbo parir, dar à luz. A gravidez humana dura nove luas e não nove meses. Portanto, a Nona lua, é a Parca que tece o fio da vida no útero materno.

No antigo calendário romano, Dezembro era o décimo mês chamado de Decem, uma homenagem à deusa Décima, uma das Senhoras do Destino. A Décima lua, é a do nascimento, o cordão umbilical sendo cortado, o começo de uma vida terrena. Morta, é a Parca que preside a outra extremidade da vida, o próprio fim que pode acontecer a qualquer momento. Conta-se que elas eram cegas.

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As Moiras configuram a misteriosa lei que atua em nossas vidas; que mesmo sendo desconhecida e invisível determina as subitas mudanças alterando os padrões pré-estabelecidos da vida. Em todas as nossas mudanças de vida, nunca paramos para pensar em suas causas, mas apenas pensamos em nossas próprias reações a tais mudanças.

Podemos ser lançados à sorte como também ser lançados ao fracasso, e ao invés de reconhecermos que existe uma força que pode nos abater ou pode nos elevar, preferimos acreditar que as mudanças ocorrem devido ao acaso, ou por acidente.

Estas figuras antigas que estão arraigadas nas profundezas da inconsciência, só nos damos conta delas quando através dos efeitos externos, que muitos denominam como destino, surgem diante de nós. É a vivência de outro eu que mora dentro de nós e que projetamos no mundo visível, e assim culparmos os outros ou às circunstâncias pelas mudanças repentinas em nossas vidas.

São as mudanças que nos fazem entender a inteligência desse outro eu oculto que escolhe ir em direção a várias situações, pessoas e caminhos. O destino não vem ao nosso encontro, somos nós que vamos de encontro a ele.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Erinias ou Fúrias






As Erínias, chamadas de Fúrias pelos romanos, eram personificações da vingança semelhantes a Nêmesis que punia os deuses enquanto as Erínias puniam os mortais. Tisífone - o castigo, Megera - o rancor e Alecto - a interminável, viviam no submundo onde torturavam as almas pecadoras que ali chegavam depois de passar pelo veredito de Hades.

Elas nasceram das gotas do sangue de Urano quando ele foi castrado por Cronos. Pavorosas e cruéis, as Erínias encarregavam-se de criar nas almas pecadoras o remorso e a necessidade de perdão.
  • Tisífone era a vingadora dos assassinatos e homicidios, principalmente aqueles praticados contra os pais, irmãos, filhos e parentes. Açoitava os culpados enlouquecendo-os.
  • Megera personificava o rancor, a inveja, a cobiça e o ciúme. Castigava principalmente os delitos contra o matrimônio, em especial a infidelidade. Era a Erínia que perseguia fazendo a vítima fugir eternamente. Gritando a todo momento nos ouvidos do criminoso, lembrava-lhe das faltas cometidas.
  • Alecto, a implacável e eternamente encolerizada, encarregava-se de castigar os delitos morais como a ira, a cólera, a soberba etc. Era a Erínia que espalhava as pestes e maldições. Seguindo o infrator sem parar, ameaçava-o com fachos acesos e não o deixava dormir em paz.
As Erínias eram divindades presentes desde as origens do mundo e, apesar de terem poder sobre os deuses e não estarem submetidas à autoridade de Zeus, viviam às margens do Olimpo. Os deuses as rejeitavam, mas as toleravam. Os homens fugiam delas. Sendo forças primitivas, atuavam como vingadoras dos crimes e reclamavam com insistência a punição do homicida com a morte.

Porém, visto que o castigo final dos crimes é um poder que não corresponde aos homens por mais horríveis que sejam, estas três irmãs se encarregavam do castigo dos criminosos, perseguindo-os incansavelmente até mesmo no mundo dos mortos, pois seu campo de ação não tinha limites.

As Erínias eram convocadas pela maldição lançada por alguém que clamava vingança. Eram deusas justas, porém implacáveis e não se deixavam abrandar por sacrifícios nem suplícios de nenhum tipo. Não levavam em conta atenuantes e castigavam toda ofensa contra a sociedade e a natureza, como o perjúrio, a violação dos rituais de hospitalidade e, sobretudo, os assassinatos e crimes contra a família.


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As Erínias são representadas normalmente como mulheres aladas de aspecto terrível, com olhos que escorrem sangue no lugar de lágrimas e madeixas trançadas de serpentes, estando muitas vezes acompanhadas por muitos destes animais. Aparecem sempre empunhando chicotes e tochas acesas, correndo atrás dos infratores dos preceitos morais.

Quando Saturno castra Urano, psicologicamente Saturno castra as novas idéias de Urano, uma nova ação ou direção. Pode ser por um senso de dever, compromisso e responsabilidade que mantém Urano sem ação ou uma necessidade básica de segurança, unindo-se ao medo do desconhecido que se sobreponha a qualquer iniciativa de mudança.

As consequências da castração de Urano por Cronos são retratadas na mitologia. Quando reprimimos ou bloqueamos as necessidades de mudanças que surgem em nós por Urano, nascem as Fúrias em nosso interior. Podemos ter um profundo ressentimento contra aqueles que estão impedindo nosso avanço ou sentimos inveja daqueles que tem liberdade para progredir, enquanto permanecemos parados.

Se usamos a energia de Urano e seguimos nossos impulsos uranianos para mudar e romper com as estruturas vigentes, indo em busca de algo novo, então quem se enfurece são as forças de Saturno. Aí descobrimos que essas Fúrias vem em nossa direção através daqueles que se sentem ameaçados por nossas ações rebeldes.

Tal fato não é incomum quando rompemos um relacionamento. Quando há um rompimento sempre o motivo está na insatisfação daquele que rompe, que sente necessidade de mudar algo. Aquele que se sente limitado no relacionamento acaba indo embora. Isto faz despertar as Fúrias no outro que não aceita o final do relacionamento, o que resulta em ameaças e outras manifestações graves.

As Fúrias despertam, como na Grécia antiga, para atormentar e podem acontecer também em outras esferas, como nas famílias, departamentos governamentais, onde as Fúrias são postas em evidência contra os dissidentes ou rebeldes que ameaçam o Estado.

Nas famílias formam-se sistemas e estruturas que organizam suas próprias regras que, apesar de não escritas, servem para criar limites - quem pode fazer ou dizer alguma coisa. Se um dos membros da família começa a agir de forma a ameaçar essa estrutura, é provável que as Fúrias sejam lançadas contra ele.

Por exemplo, a família deseja que o filho jovem seja um advogado. No entanto, o jovem pretende decidir sua vida e seguir uma carreira artística. Com certeza a família irá conspirar contra ele, lançando suas Fúrias de modo a impedí-lo de seguir a carreira escolhida. Mas se o jovem atender aos desejos da familia, então as Fúrias agitarão em seu interior, por não seguir sua vontade de decidir a própria vida. Instala-se um impasse.

Porém da castração de Urano por Cronos nasceu Vênus. Esta parte do mito sugere que Vênus - princípio do amor, da beleza, da harmonia, diplomacia e equilibrio - pode nascer da tensão entre as forças saturninas e as forças uranianas. Isso se traduz pela possibilidade de apresentar novas idéias e alternativas de forma habilidosa e diplomática que não seja ameaçadora para a ordem estabelecida das coisas. É abrandar a tendência uraniana de romper abruptamente com as coisas e a tendência saturnina de manter tudo como está.

Se Urano desenvolve um estilo venusiano - diplomático - de fazer as coisas, pode persuadir Saturno a ter maior flexibilidade, mantendo o melhor do passado e abrindo espaço para novas idéias, propondo experimentar novas coisas. Ajudado por Vênus, Urano consegue preparar Saturno para algo novo de forma suave e ponderada. Quando desejamos mudar algo, devemos abrir espaço para que algo de novo aconteça. A transição se faz de forma diplomática e venusiana.

Às vezes, o tato e a diplomacia não funcionam. O sistema vigente pode recusar a ceder e aí não resta outra alternativa senão desafiar diretamente o sistema vigente e enfrentar as consequências. Em certas ocasiões, é politicamente correto romper com certas coisas, mesmo que tenhamos de enfrentar as Fúrias, para que possamos tomar um caminho que seja verdadeiro para nós.

domingo, 18 de julho de 2010

Sisifo, o mestre dos truques



Mestre da malícia e dos truques, Sisifo entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses. Autólico, o mais esperto e bem-sucedido ladrão da Grécia, era filho de Hermes e vizinho de Sísifo, e tentou roubar-lhe o gado. Autólico mudava a cor dos animais. As reses desapareciam sistematicamente sem que se encontrasse o menor sinal do ladrão, porém Sísifo começou a desconfiar de algo, pois o rebanho de Autólico aumentava à medida que o seu diminuía.

Sísifo, um homem letrado, teria sido um dos primeiros gregos a dominar a escrita, teve a idéia de marcar os cascos de seus animais com sinais de modo que, à medida que a res se afastava do curral, aparecia no chão a frase “Autólico me roubou”. Dessa forma, Sisifo descobriu o furto e exigiu seu gado de volta. Sísifo e Autólico fizeram as pazes e se tornaram amigos.

Sísifo casou-se com Mérope, uma das sete Plêiades, tendo com ela um filho, Glauco. Certa vez, uma grande águia sobrevoou sua cidade, levando nas garras uma bela jovem. Sísifo reconheceu a jovem Egina, filha de Asopo, um deus-rio, e viu a águia como sendo uma das metamorfoses de Zeus.

Mais tarde, o velho Asopo veio perguntar-lhe se sabia do rapto de sua filha e qual seria seu destino. Sísifo logo fez um acordo: em troca de uma fonte de água para sua cidade ele contaria o paradeiro da filha. O acordo foi feito e a fonte presenteada recebeu o nome de Pirene e foi consagrada às Musas.

Assim, ele despertou a raiva do grande Zeus, que enviou o deus da morte, Tânatos, para levá-lo ao mundo subterrâneo. Porém o esperto Sísifo conseguiu enganar o enviado de Zeus. Elogiou sua beleza e pediu-lhe para deixá-lo enfeitar seu pescoço com um colar. O colar, na verdade, não passava de uma coleira, com a qual Sísifo manteve a Morte aprisionada e conseguiu driblar seu destino.

Durante um tempo não morreu mais ninguém. Sísifo soube enganar a Morte, mas arrumou novas encrencas. Desta vez com Hades, o deus dos mortos, e com Ares, o deus da guerra, que precisava dos préstimos da Morte para consumar as batalhas.
Tão logo teve conhecimento, Hades libertou a Morte e ordenou-lhe que troxesse Sísifo imediatamente para os Infernos. Quando Sísifo se despediu de sua mulher, teve o cuidado de pedir secretamente que ela não enterrasse seu corpo.

Já no inferno, Sísifo reclamou com Hades da falta de respeito de sua esposa em não o enterrar. Então suplicou por mais um dia de prazo, para se vingar da mulher ingrata e cumprir os rituais fúnebres. Hades lhe concedeu o pedido. Sísifo então retomou seu corpo e fugiu com a esposa. Havia enganado a morte pela segunda vez.

Mas um dia Sísifo morreu de velhice e Zeus enviou Hermes para conduzir sua alma ao Hades. No Hades, Sísifo foi considerado um grande rebelde e teve um castigo, juntamente com Prometeu, Títio, Tântalo e Ixíon. Por toda a eternidade Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Por esse motivo, a tarefa que envolve esforços inúteis passou a ser chamada “Trabalho de Sísifo”.

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Sísifo tornou-se conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para mostrar que os mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo, pois, concentrar-se nos afazeres da vida quotidiana, vivendo-a em sua plenitude, tornando-se criativos na repetição e na monotonia.
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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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