terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Medusa, um elo para o autoconhecimento




Durante um banquete, Polidectes, rei de Sérifo, queria um presente de cada um de seus convidados e assim desafiou o herói Perseu a trazer-lhe a cabeça da Medusa. Considerada como uma das três gorgonas, sacerdotisas de Athena, ela foi transformada em uma besta horrorosa com cabelos de serpentes e vivia numa caverna. 

Todos que miravam em seus olhos se tornavam petrificados. Sem saber por onde começar a procurar a Medusa, Perseu contou com a ajuda de Hermes - o deus da astúcia e inteligência - que mostrou-lhe o caminho das Gréias, três velhas irmãs que compartilhavam um olho e um dente entre si. 

Instruindo-lhe como fazer para que elas lhe mostrassem o caminho, Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente, recusando-se a devolvê-los até que as Gréias mostrassem como chegar até as Ninfas, que lhe dariam tudo o que necessitava para lidar com Medusa.

Encontrando as Ninfas, elas deram a Perseu uma capa de escuridão que permitia pegar a Medusa de surpresa; botas aladas para facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeça após tê-la decepado. Com tudo isso, Perseu partiu para cumprir sua missão.





Ao entrar no covil da besta, Perseu viu-a através de seu escudo brilhante. Evitan
do olhar para ela, Perseu mostrou o escudo para a Medusa e ela apavorou com sua própria imagem.  

Nesse momento, Perseu cortou-lhe a cabeça e, acomodando a cabeça da Medusa em sua bolsa, retornou rapidamente a Sérifo, sendo auxiliado por suas botas aladas.

Do sangue da Medusa nasceram os gêmeos: Pegasus, com o corpo de um cavalo alado, e Chrysaor, que tinha com o corpo de um gigantesco javali alado e uma espada de ouro nas mãos. 




Chrysaor cresceu, tornou-se rei na Península Ibérica e casou-se com Callirhoe, a filha de Oceanus e Tétis. Algum tempo depois nasceram seus monstruosos filhos: Gerião, o cão de três cabeças, e Equidna, um monstro com o corpo metade jovem mulher de lindas faces e na outra metade uma serpente de alma cruel.

Sua filha Equidna vivia nas profundezas da terra, distante dos deuses e dos homens. Em função de sua própria monstruosidade, uniu-se ao horrendo deus Tifão, tornando-se a mãe de outros monstros. 

Equidna e suas crias possuíam uma natureza terrível e adoravam devorar viajantes inocentes. Certo dia enquanto dormia, Equidna foi surpreendida por Argos Panoptes, um monstro de cem olhos, que a matou a pedido de Hera.

Seu monstruoso filho Gerião de três cabeças tornou-se proprietário de um grande rebanho de bois vermelhos que eram cobiçados por diversos reis. Um deles era o rei Euristeu que incumbiu Hércules de capturar o rebanho de Gerião. 

Durante sua jornada pelos mares, Hércules afastou com seus ombros duas grandes rochas dando origem ao Estreito de Gilbratar. Gerião e Hércules entraram em combate às margens do rio Ântemo, até que Hércules venceu seu adversário matando-o com uma flechada.






Athena domesticou o cavalo alado e, com um coice, Pegasus fez nascer a Fonte de Hipocrene que se acreditava ser a font
e de inspiração dos poetas. Quem de suas águas bebesse se tornaria um poeta. 

Quando Belorofonte foi incumbido de matar a monstruosa Quimera, ele partiu montando Pegasus. Viajando pelos ares, Belorofonte atingiu a Quimera e depois decidiu voar pelos céus. 

Ingloriamente Belorofonte caiu e Pegasus prosseguiu até ao Olimpo onde serviu a Zeus. Após a sua morte, Pegasus foi transformado numa constelação, um belo aglomerado de milhares de estrelas...


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Os antigos gregos, que inventaram a mitologia grega com suas estórias incríveis, possuiam muita criatividade e um profundo conhecimento da natureza humana.

 Desse mito podemos depreender o quanto é importante reconhecermos as nossas aptidões, habilidades e competências, mas também as nossas incapacidades, dificuldades e limitações.

A jornada de Perseu em busca da Medusa representa o enfrentamento dos nossos medos e temores, mas são as três Gréias que nos levam ao autoconhecimento. 

Como guardiãs do que se encontra mais oculto de nós, algumas vezes precisamos olhar para nós mesmos. Ora devemos ouvir o que dizemos para nós mesmos; ora devemos falar sobre o que mais tememos. 

São as Greias que poderão nos indicar o caminho para a autodescoberta. A velhice das Gréias representa as crenças que adquirimos sobre nós mesmos desde a mais tenra idade e que influenciam em nosso presente. São as crenças que temos a respeito de nós mesmos que nos levam a criar afirmações do tipo: eu não consigo... eu não posso.. eu não... 

Essas são convicções que gravamos em nós desde a infância, porém muitas vezes não reconhecemos as nossas qualidades positivas, principalmente quando as coisas vão mal. É preciso existir uma grande força interior para assumirmos o controle da nossa mente. Hércules representa esse domínio.

Das três gorgonas, apenas Medusa ganhou destaque por demonstrar a vontade de evoluir. Considerada pelos gregos como uma das divindades primordiais, na evolução do mito nota-se como uma autoimagem distorcida pode gerar um grande sofrimento, por encontrar em si mesma apenas a monstruosidade do que não gostaria de ser. 

Perseu mostrou o espelho à Medusa para que ela visse sua monstruosa imagem, mas uma vez combatida ela libertou Pegasus, seu lado poesia. "Conhece-te a ti mesmo", dizia a filosofia socrática há mais de 2.000 anos, fazendo uma referência ao autoconhecimento, ao conhecimento do mundo e da verdade. 

Para o pensador grego, conhecer-se seria o ponto de partida para uma vida equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz. A maioria das pessoas anseia por esse reconhecimento, já que muitas vezes não se sentem satisfeitas consigo mesmas. 

A autoimagem que temos de nós mesmos vem desde a infância, através do feedback recebido dos adultos. À medida que amadurecemos, gradualmente perdemos essas informações a nosso respeito e as pessoas com as quais convivemos evitam chamar atenção para as nossas deficiências, nossa falta de educação ou conduta imprópria. 

Não há dúvida de que muitas vezes não abrimos espaço para isso e sentimos desagrado pelas advertências a respeito de nosso comportamento. Podemos nos conhecer melhor através da visão de outras pessoas em quem confiamos, mas se não tivermos amigos verdadeiros que possam nos dar um feedback sincero, basta observarmos as pessoas que nos causam repulsa, antipatia ou cujo comportamento consideramos reprovável. 

O autoconhecimento não é tarefa fácil e grande parte da humanidade prefere se debruçar na janela para encontrar defeitos nos outros, esquecendo que enxergamos nos outros o que nos recusamos a ver em nós mesmos. Isso se chama "Projeção".

Quando criticamos gratuitamente o comportamento de outras pessoas, temos uma grande oportunidade de refletir porque nos sentirmos incomodados. É muito comum nos irritarmos com o jeito dos outros ou algumas coisas que os outros fazem, talvez porque nos falta coragem ou porque temos valores e crenças que nos impedem de fazer as mesmas coisas. 

Ou seja, atribuimos aos outros nossos sentimentos e desejos porque sentimos vergonha, medo ou porque nos ensinaram que seriam incorretos. Assim, tentamos nos proteger reprovando o que vemos nos outros.

A projeção é um mecanismo de defesa que usamos para atribuir a outras pessoas qualidades, motivações, pensamentos e sentimentos que reprimimos e não aceitamos em nós mesmos . É uma forma do Ego continuar a fingir que está no controle em todos os momentos, quando, na realidade, seria um meio de acessar suas próprias verdades. 

O que nos agrada e nos desagrada nos outros é um meio de conhecermos a nós mesmos através das pessoas, porque a projeção pode ser positiva ou negativa. Embora não tenhamos consciência disso, também projetamos nas pessoas que admiramos e em nossos ídolos o que não somos ou o que gostaríamos de ser. 

Quanto mais conscientes formos de nossas projeções, mais estaremos nos aproximando do autoconhecimento. Crescer para além das projeções é uma forma de liberdade, pois à medida que nos compreendemos podemos aprender muito mais a respeito de nós mesmos... 




sábado, 23 de novembro de 2013

O fim do reino de Corinto






Eates ou Aetes tinha herdado de seu pai o reino de Corinto, mas decidiu deixar sua terra e reinar na Cólquida entregando o reino de Corinto para Creonte. Eates casou com a terrível Hécate, deusa da magia e da noite, que enviava aos humanos os terrores noturnos e aparições de fantasmas.  Também era conhecida por aparecer nas noites de lua nova com sua horrível matilha de cachorros fantasmas para assustar os viajantes.

Da união entre Eates e Hécate nasceu Medéia, que aprendeu todos os segredos da bruxaria e de todos os sortilégios. Quando Jasão foi à Colquida buscar o velocino de ouro que era protegido por dragões, Medéia que era hábil nas artes mágicas ajudou Jasão a recuperar o velocino de ouro, dando-lhe um óleo que tornava invulnerável seu corpo ao fogo e ao ferro durante um dia. 

Ao fugir da Cólquida, Medéia esquartejou seu próprio irmão e jogou os pedaços no mar para atrasar a perseguição de seu pai que teve de parar para recolher os restos de seu filho.  



 
Medéia casou com Jasão e viveram em paz até que Creonte, o rei de Corinto, concebeu a ideia de casar sua filha Creusa com o herói dos argonautas. Jasão aceitou o enlace real e repudiou sua esposa Medéia, que foi banida do reino pelo próprio soberano. 

Implorando-lhe o prazo de um só dia, sob o pretexto de se despedir dos filhos, a feiticeira da Cólquida teve tempo suficiente para preparar a mortal represália. 

Enlouquecida pelo ódio, pela dor e pela ingratidão do esposo, resolveu vingar-se tragicamente matando os próprios filhos e enviando à noiva de Jasão um sinistro presente de núpcias. 

Tratava-se de um manto bordado e de uma coroa de ouro, impregnados de poções mágicas e fatais. O objetivo de Medeia era destruir não só a noiva, mas também todos que a tocassem.  

Muito vaidosa, Creusa recebeu os presentes sem hesitar e acrescentou um véu à coroa de ouro que em breve reluziria em sua fronte. Assim que a princesa se vestiu para o casamento e colocou a coroa, de imediato foi tomada por um fogo misterioso que começou a devorar-lhe. 

O rei Creonte correu em socorro à sua filha e também foi envolvido pelas chamas. Em pouco tempo, de todo o reino de Corinto só restou um monte de cinzas...


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Do mito de Eates ou Aetes pode-se depreender como as escolhas que fazemos em nossa vida podem transformar não só o nosso futuro, mas também repercutir no destino de todos que convivem conosco. 

Todos os personagens envolvidos no mito fizeram suas escolhas movidos pela emoção, sem pensar nas consequências de seus atos e acabaram sendo consumidos pela falta de razão.

Desde os tempos da Grécia antiga, dizia-se que o ser humano era superior a outros animais por sua habilidade de racionalizar. O antigo filósofo Platão dizia que o homem deveria suprimir sua sensibilidade e emoções, pois elas impediriam que se pudesse agir racionalmente. 

Séculos depois o filósofo moderno René Descartes confirmava esse pensamento lançando sua famosa frase: Penso, logo existo! Enquanto seres racionais, também somos seres emocionais por natureza. Como podemos viver e agir entre a razão e a emoção?

A emoção é livre e aflora em todos nós. É a alegria momentânea que nos fazem sorrir e a emoção que nos fazem chorar. A paixão faz o nosso mundo mais alegre e colorido. Por uma paixão a gente se arrisca, se expõe e encontra forças para tudo suportar, exceto o medo de perdê-la. 

Um coração apaixonado vê no outro o espelho da própria alma, o par perfeito e ideal projetado no outro. Vê no outro tudo o que deseja ser e apaixona por si mesmo na figura de outra pessoa.

A paixão é irracional, faz tudo pelo outro, abre mão de si pelo outro e perde a noção de perigo. Vai além dos limites, mesmo sabendo que está sendo irresponsável. Depois que a paixão arrefece, o que parecia ser perfeito torna-se um defeito. 

O perfume passa ser enjoativo, as dezenas de telefonemas passam a incomodar e já se começa a refletir sobre a contenção de gastos com o ser amado. A paixão é cega, mas a razão traz-lhe a visão.

A razão é a capacidade da mente humana de chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas, sendo um dos meios pelos quais os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. 

É a razão que nos permite raciocinar, compreender, ponderar, resolver problemas, formar conceitos e encontrar coerência entre pensamento, palavras e atitudes. A razão exige reflexão do que se sente de forma racional.

Se deixamos a razão falar mais alto, estaremos suprimindo o melhor que temos em nós mesmos. Viver sem emoção torna a vida fria, sem o prazer das coisas bobas da vida, como sorrir, chorar, sonhar, sofrer e amar. 

Viver a vida sempre com a razão não é uma vida propriamente vivida, porém quando deixamos o coração coordenar de modo irracional, acabamos agindo pelo impulso que pode nos levar a atos impensados. 

Fazer loucuras por amor pode ter um alto preço. É a razão que pode frear os nossos impulsos e dizer: " Aja com cautela e meça as consequências de seus atos..." O ponto em que hoje estamos, são reflexos de decisões tomadas lá num passado distante e as decisões de hoje irão pesar em nosso futuro. 

Quando a razão e a emoção andam juntas, uma complementa a outra. Algumas vezes é saudável tirar os pés do chão, sonhar e deixar o pensamento voar, mas é preciso saber como e quando deve pousar...



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Themis e Zeus, o casamento que inseriu a ordem e equidade no mundo



Themis foi uma das titânides, filha de Urano e Gaia. Seu nome significava "aquela que é posta, colocada" e era representada empunhando uma balança onde equilibrava a razão e a emoção. 

Quando ainda era uma criança, sua mãe a entregou aos cuidados de Nyx, a Deusa da Noite e da Escuridão para protegê-la do enlouquecimento de seu pai. No entanto, Nyx se sentia cansada e pediu às Moiras que criassem Themis e sua filha Nêmesis.

As Moiras eram as Deusas do Destino. Elas fiavam o fio do destino humano e cuidavam para que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. 

Cloto era quem fiava, Láquesis determinava o comprimento do fio e Átropos cortava o fio da vida no momento determinado para a morte. Tanto os homens quanto os deuses temiam as Moiras e suas decisões deviam ser obedecidas.

Elas criaram Themis e Nêmesis ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas, como o ciclo da vida - nascer, crescer, morrer -, além da importância de zelar pelo equilíbrio. Por terem crescido juntas, as duas tinham muitas semelhanças: Themis - a Deusa da justiça e Nêmesis - a Deusa da retribuição e recompensa.

Nêmesis: Originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má, simplesmente na proporção devida a cada um segundo seu merecimento. Quando alguém sofria por uma atitude alheia, Nêmesis não permitia que o ofensor passasse impune. 

Nas tragédias gregas, Nêmesis apareceu principalmente como vingadora dos crimes e castigadora da arrogância. Alguns a chamavam de Adrastéia que significa "aquela de quem não há escapatória" ou "a inevitável". 

Como deusa da devida proporção e equilíbrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo. 

Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao karma.

Themis: era a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem social, a lei espiritual e justiça divina. Frequentemente era invocada na corte quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso Themis passou a ser considerada a Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos, que os romanos chamavam de Deusa Justitia.

Ela tinha as qualidades de Gaia - a terra, ou seja, estabilidade, solidez, imobilidade e falava com os homens através dos oráculos. Estava ligada à voz da terra e exaltava as leis da natureza e as leis naturais que todos deviam obedecer, que antecedem as regras ditadas pela sociedade. 

Foi Themis quem orientou Deucalião e Pirra para formar uma nova humanidade depois do dilúvio e ajudou Hércules a salvar Prometeu, que tinha sido condenado a morrer acorrentado num rochedo após roubar o fogo dos deuses para oferecer aos homens.

Quando a esposa de Zeus estava grávida, Themis alertou-o que nasceria uma filha que seria uma ameaça ao seu poder. A esposa de Zeus tinha o dom de se transformar em qualquer coisa, por isso Zeus propôs uma brincadeira pedindo que Métis se transformasse em uma mosca. Aproveitando-se de uma distração, Zeus engoliu-a. Da cabeça de Zeus nasceu Athena.

As Moiras profetizaram que Zeus tinha muito a aprender com Themis. Algum tempo depois, Zeus e Themis casaram e foram os pais das Horas e de Astreia, a deusa protetora da humanidade e simbolizava a pureza e a inocência. 

Conta-se que Astreia deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições e sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela foi transformada na Constelação de Virgem.

As Horas eram muitas, sendo as mais conhecidas: Eirene, Eunômia e Dikê que personificavam a paz, a disciplina e a justiça. Como guardiãs do Olimpo, elas cuidavam da ambrosia, o alimento dos deuses, e organizavam a passagem das estrelas. 

Assim tornaram-se as deusas do ano, das estações climáticas e da divisão do dia em horas. Elas eram a extensão dos atributos de Themis e presidiam a ordem natural humana, da natureza e social.

Enquanto Zeus exercia o poder absoluto, um padrão arquetípico que governa a consciência coletiva, Themis desestabilizava o absolutismo e as certezas de Zeus, movimentando-se dentro de vários outros padrões arquetípicos. 

Ela era sua esposa e conselheira, temperando o poder com sabedoria. Respeitada por todos os deuses, ao presidir as reuniões políticas do Olimpo Themis manifestava o teor organizacional de sua dignidade e justiça.

Com seriedade moral obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e contribuições daqueles menos proeminentes. A deusa opunha-se à dominação de um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a totalidade mais do que a fragmentação, a integração mais do que a repressão. 

Nessa atividade de contenção e vinculação, Themis revelava o princípio operado pela consciência feminina: a lei do amor. Seu maior opositor era Ares - o deus da guerra - que tinha apetite por violência e sua sede de sangue não conhecia limites.

Themis não era contra a guerra, mas defendia a ordem natural e ambiental, pois a guerra reduzia o tempo da vida e a população humana. Sua balança foi transformada na Constelação de Libra, que brilha céu para nos lembrar que a justiça é fundamental.


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No imaginário popular, sempre quando se fala em Justiça surge a figura da mulher de olhos vendados carregando uma balança e a espada. De fato, essas imagens alegóricas representam a manifestação da Justiça.
  • A Balança simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação e a igualdade das decisões aplicadas pela lei. O direito precisa ser pesado, senão torna-se força bruta e irracional.
  • A Espada simboliza a ordem, regra, força e coragem, aquilo que a razão dita e a coerção para alcançar tais determinações. Se não obriga a sua aplicação, o direito não tem qualquer validade.
  • Os olhos vendados da deusa simboliza a necessidade de nivelar o tratamento jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da imparcialidade, da objetividade e da afirmação de que todos são iguais perante à lei. Isso não implica que a justiça é cega, pois aos olhos da justiça, nenhum pormenor que seja relevante deixa de ser considerado para a aplicação da lei, ou seja, o julgamento é avaliação de todos os ângulos de uma questão.
Cada símbolo completa o outro, para que a Justiça seja a mais justa possível:
  • A espada sem a balança torna o Direito brutal.
  • A balança sem a espada torna o Direito impotente perante os desvalores que insistem em ser perenes na história da humanidade.
  • Os olhos vendados objetivam evitar privilégios na aplicação da justiça. A balança é o instrumento capaz pesar o direito de cada um e a espada, a sua aplicabilidade.
A existência psicológica de Themis está no inconsciente coletivo. Sendo Themis a deusa da justiça, da lei, da ordem e protetora dos oprimidos, também determinou que o direito depende dos deveres a serem cumpridos por todos. 

Foi o casamento de Themis com Zeus que inseriu a ordem e equidade no mundo dos homens, mostrando que até mesmo quem emana as leis deve a elas estar submetido. Quando a justiça não age devidamente e não pune os culpados, acaba punindo os inocentes...


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Kharybdis e Scilla, o tormento das escolhas e decisões





Odisseu ou Ulisses foi um dos grandes heróis da Guerra de Troia. Depois de derrotar os troianos, ele iniciou uma longa viagem de dez anos de volta para Itaca, que foi marcada por muitas aventuras e desventuras.

Odisseu e seus companheiros enfrentaram o cíclope Polifemo e só conseguiram fugir porque cravaram uma lança no único olho do gigante. Eles não sabiam que Polifemo era filho de Poseidon, por isso passaram a ser perseguidos pelo deus que criou inúmeros problemas para eles no percurso da viagem.

Depois de algum tempo navegando, eles chegaram à Ilha de Circe onde ficaram por um longo período. Quando resolveram partir, a feiticeira Circe ajudou-os a passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias, recomendando que tapassem os ouvidos com cera para não serem inebriados pelos cantos das sereias.

Depois de terem enfrentando estes e tantos outros perigos, Odisseu e seus companheiros pensavam que haviam superado todos os desafios da viagem, mas o pior estava por vir. 
Navegando por um estreito canal entre duas rochas, eles tiveram um encontro com dois enormes monstros marinhos: Scilla e Kharybdis. 





Kharybdis ou Caribds habitava uma das rochas onde havia uma grande figueira. Filha de Poseidon, ela tinha sido uma bela ninfa do mar, porém certa vez tentou inundar a terra para expandir o reino subaquático de seu pai, deixando os demais deuses zangados. 

Quando Héracles passou por perto levando os bois de Gerião, ela roubou alguns dos animais para devorá-los. Ao tentar recuperar o gado, Kharybdis atacou Heracles e foi fulminada por Zeus com um raio. 

Lançada às profundezas do mar, ela foi transformada num monstro marinho. Três vezes por dia ela sorvia as águas do mar e depois tornava a cuspi-las, formando um redemoinho no mar.

Scilla, ou Cila que habitava a outra rocha no lado oposto, também era filha de Poseidon. Ela tinha sido uma bela ninfa amada pelo pescador Glauco. Certo dia ele estava pescando quando descobriu que, ao colocar na relva os peixes que pescava, os peixes retornavam à vida. 

Curioso, ele resolveu entrar no rio e acabou sendo transformado num ser marinho, com cabelos verdes. A metade de seu corpo foi transformada numa cauda de peixe. Devido à sua aparência, Scilla rejeitou o seu amor. 

Glauco pediu ajuda à feiticeira Circe para retornar à sua antiga aparência, porém ela se apaixonou por ele. Sabendo que Glauco tinha sido rejeitado, Circe voltou-se contra a rival derramando uma poção venenosa na fonte em que a ninfa se banhava.

Quando Scilla entrou na fonte, viu serpentes e outros monstros na água. Tentou fugir mas descobriu que os monstros eram partes de si mesma. Depois disso ela foi viver no estreito de Messina, aterrorizando os marinheiros.






Quando Odisseu e seus companheiros passavam pelo estreito com sua embarcação, foram atacados por Kharybdis que fez surgir um enorme redemoinho. Eles tentaram escapar remando com muito esforço, porém quando conseguiam se distanciar Scilla os atacava do outro lado. 

Com a embarcação destruída, muitos marinheiros cairam no mar e foram devorados por Scilla. Odisseu e alguns de seus amigos conseguiram se agarrar aos pedaços da embarcação que se espalharam pelo mar. 

Porém Odisseu começou a ser sugado pelo turbilhão e, quando já estava bem perto da morte, conseguiu agarrar-se à figueira conseguindo se salvar. E assim Odisseu prosseguiu sua viagem para encontrar sua amada Penelope que o esperava em Itaca.


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Desse episódio da mitologia grega surgiu a expressão "Estar entre Scilla e Kharybdis", significando estar entre duas alternativas igualmente perigosas ou desagradáveis. E quem já não esteve numa situação assim?

A vida é feita de escolhas. Desde as mais simples às mais complexas, toda escolha é feita com base nos elementos que possuímos em cada momento. São os fatos que determinam as nossas decisões. 

E quanto mais informações conseguimos obter, mais poderemos analisar e decidir com propriedade, que ajuda a ancorar as nossas decisões. Isso torna o momento de decisão menos sofrido e complicado, porque podemos pesar os prós e contras e projetá-los no futuro.

Para decidir sempre temos de considerar as alternativas disponíveis e assim escolher a melhor entre todas e dispensar as demais. Ou seja, para escolher temos de renunciar de algo, porém há situações que não se processam assim. Em algum momento de nossa vida pode surgir a necessidade de escolhermos uma opção que não seja a pior ou que cause menos danos.

Talvez nunca tenhamos de tomar uma decisão dramática, mas com certeza em algum momento poderemos viver momentos difíceis, tendo de conviver com a dúvida de ter decidido certo. 

Não existem escolhas certas ou erradas, adequadas ou inadequadas; o que existe são escolhas e decisões que funcionam naquele momento. Suportar a pressão para decidir sobre coisas que podem mudar nossa vida e a vida de outras pessoas, não é fácil. 

O que nos atormenta é que qualquer decisão implica em conviver com suas consequências. E não adianta fecharmos os olhos e recusar a enxergar o que temos pela frente. Quanto mais adiamos decisões, mais nos tornamos prisioneiros de nosso dilema e nunca descobriremos o que há mais adiante.

Disso podemos apreender que, podemos nos sentir apertados, constrangidos e encurralados pelas escolhas da vida, porém é melhor lutar pelo que seja verdadeiro e que pode trazer algum resultado, do que viver eternamente entre situações que nos aterrorizam e paralisam. Só optando por uma delas saberemos de seu real potencial de desdobramento. 

Leia sobre Escolha de Sofia em meu blog Viva la Vita mensagens ou click aqui






terça-feira, 23 de abril de 2013

Atlântica, o paraíso que se perdeu




Segundo a lenda teria existido há muito tempo um grande continente, chamado Atlântida ou Atlantis. Situava-se no meio do Oceano Atlântico, frente às Portas de Hércules. Essas portas erguiam-se no local onde hoje está o Estreito de Gibraltar, fechando por completo o Mar Mediterrânio.

Atlântida teria sido um paraíso, uma lendária ilha cuja primeira menção conhecida remonta a Platão em suas obras "Timeu ou a Natureza" e "Crítias ou a Atlântida". Na ilha havia grandes e pequenas cidades com exóticas paisagens, clima agradável e belas florestas ao lado de extensas e férteis planícies onde os fortes animais eram dóceis.

Os atlantes eram senhores de uma civilização muito avançada. Tinham palácios e templos cobertos de ouro e outros metais preciosos, que destacavam-se numa paisagem onde o campo e a cidade conviviam em harmonia. Jardins, fontes, ginásios, estádios, estradas, aquedutos e pontes eram mantidos à disposição de todos. Desta abundância nasceram e prosperaram as artes e as ciências com muitos artistas, músicos e grandes sábios.

Mas não viviam completamente tranquilos, pois não estavam sozinhos no mundo. Apesar de cultivarem a paz e a harmonia, nunca deixaram de praticar as artes da guerra já que vários povos movidos pela inveja cobiçavam sua riqueza e tentavam conquistar a ilha. As vitórias obtidas contra os invasores foram tão grandiosas, que logo despertou o orgulho e a ambição de passar ao contra-ataque.

Já não pensavam em apenas defenderem-se, mas em aumentar o território de Atlântida. Assim o poderoso exército Atlante preparou-se para a guerra. Aos poucos foram conquistando grande parte do mundo conhecido, dominando vários povos e várias ilhas em seu redor, como também uma grande parte da Europa Atlântica e parte do Norte de África. Os seus corações até então puros foram endurecendo como as suas armas.

Enquanto se perdia a inocência nascia o orgulho, a vaidade, o luxo desnecessário, a corrupção e o desrespeito com os deuses. Poseidon, o deus dos mares, convocou os outros deuses para julgar os atlantes e decidiu aplicar-lhes um castigo exemplar. Como consequência vieram terríveis desastres naturais.

As terras da Atlântida estremeceram violentamente. O dia fez-se noite e em seguida surgiu o fogo queimando as florestas e campos de cultivo. O mar inundou a terra de Atlântida com ondas gigantes, engolindo aldeias e cidades. Em pouco tempo, junto com seu excessivo orgulho, vaidade e desmedida ambição, a Atlântida desapareceu para sempre...
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Orgulho, vaidade, ostentação, soberba, arrogância, inveja e egoísmo são sete irmãos que convivem conosco. Eles agem como nossos amigos e são necessários para nutrir e fortalecer nosso amor próprio ou auto-estima. Porém se os deixamos crescer demais, eles se juntam podendo se tornar os nossos piores inimigos.

ORGULHO é um sentimento de satisfação pela realização de algo, um elevado sentimento de dignidade pessoal que pode ser empregado tanto de forma positiva ou negativa. Ter orgulho dos próprios feitos é ser justo consigo mesmo, reconhecendo suas próprias capacidades. É uma forma de elogiar a si mesmo prestando justa homenagem aos seus esforços. Quem nunca olhou para algo que tenha feito e dito: Nem acredito que fui eu que fiz!

Ter orgulho de si mesmo, admirar-se por um feito ou modo correto de ser é um sentimento positivo diante de conquistas que proporcionam alegria compartilhada com os outros. É uma manifestação de autoestima. Porém o orgulho em excesso pode se tornar negativo, levando a superestimar-se acreditando ser melhor, mais importante ou com grandes capacidades, embora não seja verdade. É aí que o orgulho se transforma na SOBERBA negativa.

SOBERBA é um sentimento positivo que nos faz esforçar para vencer no mundo competitivo. É a soberba que nos leva a superar limitações e sermos mais competentes. O termo provém do latim Superbia, ou seja, ser melhor, superior,  mais alto, mais destacado. Prêmios e troféus são dados aos soberbos, ou seja, aos melhores. Porém a soberba pode tornar-se destrutiva quando se manifesta no racismo, no elitismo, nos preconceitos ideológicos ou religiosos que só servem para deflagar graves conflitos e hostilidades.

Algumas vezes a soberba negativa pode-se se manifestar no excesso de humildade focada na inferioridade: se não pode se destacar sendo o melhor tenta se depreciar excessivamente diante dos outros para poder ouvir elogios e destaque de qualidades que não tem. O soberbo negativo tende a exibir-se a qualquer preço e desconhece a humildade para reconhecer a realização dos outros. Enamorado da própria existência, deseja despertar inveja e admiração nos outros para superar sua falta de autoestima. Quando é superado pelos outros, deixa-se dominar pela INVEJA depreciativa.

A INVEJA não é um sentimento ruim; ruim são as manifestações pejorativas e depreciativas que dela provém. Querer ter poder, riqueza e status igual ao dos outros não é negativo, é uma reação natural do ser humano. Se isso serve como fator de motivação para o esforço de obter as mesmas coisas, aí a inveja é positiva.

Inveja origina do latim Invidere que significa "não ver". Se há tristeza perante ao que o outro seja ou tem, se há o desejo de querer retirar algo dos outros, isso é cobiça. Cobiçar algo do próximo é sentir-se frustrado por não possuir atributos, qualidades e valor tanto quanto outros, sentindo-se incapaz de alcançá-la seja por incompetência, limitação física ou intelectual. A inveja se torna negativa quando a única intenção é alimentar a VAIDADE negativa. 

VAIDADE não é pecado, desde seja positiva. Pessoas vaidosas cuidam de si, de suas coisas e de outras pessoas. É a vaidade que evita que nos deixemos deteriorar. Porém a vaidade em excesso desperta a necessidade exagerada de cuidados, muitas vezes desrespeitando os próprios limites e submetendo-se a procedimentos e situações apenas para exibir-se. O vaidoso em excesso tem necessidade de se expor precisando receber aplausos de bajuladores, ainda que não sejam honestos. Com tantas bajulações, acaba tornando-se vítima da própria ARROGÂNCIA. 

A ARROGÂNCIA muitas vezes é confundida com a coragem de assumir as próprias opiniões. Ter personalidade é reconhecer os próprios méritos e ideias, desde que se disponha a ouvir a opinião e ideias dos outros. É comum aos arrogantes negativos recusar a aprender algo porque julga que sabe tudo e que suas ideias são melhores. E mesmo que não saiba, finge que sabe. A arrogância é na verdade um excesso de vaidade que impede de reconhecer a sabedoria dos demais. E, por concentrar em si mesmo, se deixa dominar pelo EGOÍSMO.

O EGOÍSMO tende a ser considerado pejorativo, mas na verdade ele é necessário para que cuidemos melhor de nós mesmos, que façamos as coisas primeiro para nós mesmos e assim podermos cuidar dos outros. O egoísmo utilizado de forma positiva chama-se autoestima; quem não ama primeiro a si mesmo não é capaz de amar verdadeiramente o outro.

O egoísta negativo concentra-se apenas em si mesmo. Recusa-se a compartilhar o que tem e ainda cobiça e deseja o que é dos outros. O egoísta negativo sofre com sua ganância, pois é um eterno insatisfeito que busca ter tudo, talvez para encobrir alguma deficiência que considera insuperável, podendo lhe faltar AUTOESTIMA.  

A AUTOESTIMA está relacionada à nossa capacidade de sentir a vida, tendo a percepção de que somos merecedores do que nos faz bem, nos alegra e nos dá conforto. É reconhecer e respeitar as nossas necessidades e desejos desfrutando dos resultados de nossos esforços. É ter autoconhecimento e autoconfiança, enfrentando os problemas e obstáculos que possam interferir em nossa felicidade.

A auto-estima é um sentimento positivo, mas se não temos consciência e domínio ela se tornará destrutiva. Tanto o excesso quanto a falta de autoestima são prejudiciais. O excesso de autoestima pode resultar no egoísmo negativo, na ganância de querer tudo somente para si não importando os outros, numa tentativa de superar a falta de autoestima.

A auto-estima fortalece, dá energia e motivação. Quanto mais elevamos a nossa auto-estima, mais queremos crescer, não necessariamente no sentido profissional ou financeiro, mas dentro daquilo que esperamos viver durante nossa vida. Quanto mais baixa nossa auto-estima, menos desejamos fazer e é provável que menos ou pouco possamos realizar. Isso está diretamente relacionado à AUTOSEGURANÇA. 

A INSEGURANÇA se manifesta na dificuldade para enfrentar os problemas da vida por não confiar na própria capacidade ou pelo medo de expor suas ideias, vontades e necessidades. Pessoas inseguras em geral tem baixa autoestima, não respeitam a si mesmas, se desvalorizam, não se sentem merecedoras de amor e respeito por parte dos outros e se não se acham merecedoras do direito à felicidade. 

Pessoas com autoestima saudável não se envergonham de suas deficiências, limitações e dificuldades. Não tem dificuldade em pedir perdão, pois sabem reconhecer seus erros e culpas. É mais provável encontrarmos simpatia e compaixão em pessoas com auto-estima elevada do que naquelas com baixa auto-estima, pois o nosso relacionamento com o mundo tende a espelhar e refletir o relacionamento que temos com nós mesmos.

A autoestima saudável produz sentimentos leves e gostosos, alegria, tolerância e paciência com os outros. Também nos dá a capacidade de utilizarmos a nossa inteligência para nos responsabilizarmos por nossos sentimentos; isso se chama Inteligência emocional. Não são os fatos ou as atitudes dos outros que nos incomodam; o que nos incomoda são os nossos sentimentos em relação a eles.

Quando aprendemos a ter inteligência emocional nossa atenção se volta apenas para o que seja importante. Não nos desgastamos com coisinhas pequenas. Não insistimos numa discussão. Reconhecemos os nossos erros e admitimos nossas falhas, porque consideramos que o mais importante é a harmonia, bem estar e paz. Não estragamos um dia com caprichos infantis e inúteis. 

Desistimos de tratar as coisas de forma radical e nos tornamos mais flexíveis, não para conceder privilégio aos outros mas sobretudo pelo bem que desejamos fazer a nós mesmos. Quando descobrimos que a vida é efêmera e pode acabar num segundo, nossos sentimentos ganham novos valores. Prestamos mais atenção em nós mesmos, percebemos e filtramos os nossos pensamentos. Podemos mudar a nossa vida mudando a qualidade de nossos pensamentos, mas para isso precisamos de HUMILDADE.  

HUMILDADE vem do latim Humus, que significa filhos da terra. Refere-se à qualidade de nos considerarmos iguais, nem superior e nem inferior aos outros. A humildade é uma virtude que dá o sentimento exato ao nosso bom senso, de utilizarmos de cordialidade, honestidade, respeito e simplicidade com as outras pessoas. Quem é humilde não se vangloria do que tem ou do que faz, mas também não pode ser confundida com modéstia que pode ser traduzida como uma depreciação de si mesmo ou falta de ambição.

A ambição excessiva prejudica, mas dentro dos limites éticos e morais ela se torna positiva. Pessoas positivamente ambiciosas buscam conhecimento e autoconhecimento,
são motivadas, persistentes e mantem uma autoestima elevada que se manifesta o egoísmo saudável, desejando obter o melhor para si, para os outros e para o mundo.  Elas agem com integridade e sabem que, para atingir seus objetivos, não precisam roubar, mentir e nem passar por cima de outros. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Apeles e a busca por justiça



Ao ser injustamente difamado por seu rival Antífilos, que o acusou de ser cúmplice de uma conspiração diante do crédulo rei do Egito, Apeles provou sua inocência e para expressar sua indignação ele pintou um quadro. Mais tarde Sandro Botticelli reproduziu a cena do julgamento em sua obra "A Calúnia de Apeles"/1494.

A pintura mostra um homem inocente arrastado diante do trono pelas personificações da Calúnia, da Malícia, da Fraude ou Dolos e da Inveja. Eles são seguidos de um lado pelo Remorso, uma anciã angustiada que veste roupas surradas, que vira-se para enfrentar a Verdade nua, bela e pudica, que aponta para o céu.






A nudez da Verdade a relaciona ao jovem inocente, cujas mãos postas significam o apelo a um poder superior. 

Assim como o jovem inocente quase tão nu quanto ela, a Verdade não tem nada a esconder. 

Com seus gestos eloquentes e a expressão da única figura proeminente na pintura, ao apontar para o alto em direção ao céu mostra que uma Justiça mais elevada será dispensada ao acusado.











O Rancor, vestido de preto, conduz a Calúnia com a mão direita. A Calúnia empunha uma tocha acesa com a mão esquerda, símbolo das mentiras que ela espalhou, enquanto arrasta pelos cabelos sua vítima, o jovem seminu, pela mão direita. 

A Inocência do rapaz é representada pela sua nudez, que significa que ele nada tem a esconder. Ele cruza as mãos em vão, como que rogando a sua libertação a um poder superior. 











Por detrás da Calúnia, as figuras da Fraude ou Dolos e da Inveja estão cuidadosamente ocupadas em trançar, hipocritamente, os cabelos de sua amante, a Calúnia, com uma fita branca e espalha rosas sobre sua cabeça e ombros. 

Ao serem representadas com as formas enganosas de belas moças, elas estão fazendo um uso insidioso dos símbolos da pureza e da inocência para adornar as mentiras da Calúnia.









O rei está sentado num trono erguido em um salão aberto, decorado com relevos e esculturas. 

Ele está ladeado pelas personificações alegóricas da Ignorância e da Suspeita, que estão avidamente sussurrando rumores em suas orelhas de burro, que simbolizam a imprudência e a natureza tola do rei. 

Ele tem os olhos apertados, mostrando que é incapaz de ver o que está realmente acontecendo e estende a mão cansada para o Rancor em pé diante dele.






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Desde pequenos somos condicionados a procurar por justiça e, quando na vida somos injustiçados, sentimos raiva, ansiedade e frustração. Na verdade, procurar por justiça plena é como procurar a fonte da juventude eterna. A justiça plena não existe, nunca existiu e nunca existirá. O mundo não funciona dessa forma.

A natureza não é justa. Animais são predadores naturais de outros: os ratos comem os percevejos; as cobras comem os ratos; as galinhas comem as cobras; os coiotes comem as galinhas etc. Mesmo que pareça injusta, assim é a cadeia alimentar dos bichos. Furacões, inundações, terremotos, todos são injustos, porque atingem bons e maus.

É um conceito mitológico sentir-se feliz ou infeliz devido à injustiça; é isentar-se da responsabilidade pela própria felicidade. A exigência da justiça é verdadeira, mas não podemos nos deixar envolver demais nela, pois assim estaremos sendo injustos em relação a nós mesmos. Apesar da injustiça, temos de nos manter em busca da verdade e defender a inocência. 

A injustiça é constante, mas podemos nos recusar a sermos reduzidos a um estado de imobilidade emocional por causa dela. Esforçar-se para eliminar a injustiça é um dever, mas ninguém jamais poderá se sentir psicologicamente derrotado por ela. 


Se você parar de plantar boas sementes de onde nunca nada se colhe, nunca se sentirá injustiçado. Plante sementes apenas onde haja possibilidade de germinar e de onde você possa colher bons frutos. E se quiseres combater a injustiça, comece por si mesmo. A injustiça se alimenta e ganha força onde há malícia, fraude, dolo, calúnia, inveja, mentira, ignorância, suspeita e imprudência...




sexta-feira, 1 de março de 2013

Priapus, deus da fertilidade, boa sorte e poder



De acordo com a Mitologia Grega, Afrodite era a deusa do amor e da beleza. Ela apreciava a alegria, o prazer e o glamour, castigando a quem ousasse comparar-se à sua beleza. 

Casada com Hefesto, o deus dos ferreiros e metais era deformado, tinha os pés tortos, quadris deslocados e Afrodite nunca se satisfez sendo sua esposa. Apesar de seu casamento, Afrodite era sedutora e tinha vários amantes.

Os filhos de Afrodite com seus amantes mostram seu domínio sobre as mais diversas faces do amor e da paixão humana. Um de seus filhos era Priapus. Nascido de sua união com Dionísio,  Priapus era um deus muito feio e tinha um enorme órgão genital, que se mantinha sempre ereto dando origem ao termo médico Priapismo.

Segundo a lenda, Hera, a vaidosa e vingativa esposa de Zeus nunca havia se conformado por Afrodite ter subornado Paris para indicá-la como a mais bela durante o concurso de beleza entre Hera, Atena e Afrodite. Por isso Hera lançou uma maldição sobre Príapus. 

Enquanto ele ainda estava no ventre de sua mãe, Hera desejou que ele nascesse feio e com uma eterna ereção, porém seria impotente. Os deuses recusaram a presença de Priapus no Monte Olimpo e o jogaram na terra. 

Sozinho, ele acabou sendo encontrado pelos sátiros. Embora ele se mantivesse eternamente frustrado por sua impotência, Príapus juntou-se a Pan e a outros sátiros passando a ser cultuado como o deus da fertilidade, dos jardins, das plantas frutíferas e do crescimento,

Conta-se que Priapus tentou unir-se com a ninfa Lotis, mas foi frustrado pelo zurrar de um jumento que levou-o a perder a ereção. O episódio fez com ele passasse a odiar os jumentos exigindo que eles fossem destruídos em sua honra. Porém Priapus vingou-se fazendo com que o emblema sua natureza lasciva permanecesse nos jumentos. 




O mito de Priapus serve para conhecermos um pouco mais a respeito das representações através dos tempos. Na antiguidade tardia, o culto a Priapus era bem mais do que um sofisticado culto de pornografia. 

Para os camponeses gregos ele era visto como uma divindade guardiã dos pastos de cabras, ovelhas e dos enxames de abelhas. Foi considerado também como um deus que propiciava boa sorte e tinha o poder de evitar o mau-olhado, por isso sua imagem era adorada nos jardins e nas casas, sendo-lhe oferecido frutas, flores, peixes e legumes.

Estatuetas de Priapus eram comuns na antiga Grécia como também na Roma antiga, sendo colocadas em pomares, portas, encruzilhadas e frequentemente adornadas com cartazes contendo epigramas, que ameaçavam os transgressores dos limites por ele protegidos. 

Foi também representado de várias maneiras, geralmente como uma figura de gnomo deformado com um enorme falo ereto. Acredita-se que o uso de gnomo de jardim tenha surgido da figura de Príapus.

Como o deus protetor dos marinheiros e pescadores, a figura de Priapus servia como demarcação de áreas consideradas como passagem perigosa. Representado em sua forma ereta, o falo estava presente em quase todos os aspectos da vida diária, reafirmando o estado macho-dominante de coisas que sua presença manifesta. 

O falo também está associado à posse e demarcação territorial, por isso em muitas culturas é a divindade de navegação. Quando os romanos conquistaram os territórios dos gregos, eles adotaram os seus deuses mas deram-lhes nomes latinos. Assim Priapus passou a ser o deus Fascinum mantendo o mesmo poder de afugentar o mau olhado e propiciar a conquista, coragem e autoridade. 

Atribuiam-lhe também o poder de fazer brotar as árvores e de tornar as mulheres férteis. Mesmo depois da queda de Roma, Príapus continuou a ser invocado como um símbolo de saúde, fertilidade, prosperidade e poder. De Fascinum provém os termos fascinante e facismo.

Priapus foi uma figura popular na arte erótica romana e na literatura latina, sendo um tema do humor obsceno de versos chamado Priapeia. Ele era muito popular em Pompeia e uma das imagens mais famosas tem em seu falo um saco de dinheiro. 

As intenções de seu culto eram dirigidas mais para a luxúria do que o amor. A crença ideal dos pompeianos era: " Goza enquanto podes. A vida é muito curta. Goza a vida enquanto a tens! ... "

Para o povo de Pompéia nada ultrapassava o prazer sexual, por isso toda a cidade revelava uma atmosfera de sexualidade. O povo de Pompéia considerava as relações sexuais como uma atividade biológica natural e salutar. Eles eram exímios na arte sexual, porém sem vulgaridade nem tabu a respeito da sexualidade humana.   



Tanto gregos quanto romanos eram povos muitos supersticiosos. Eles consideram os dias auspiciosos como Fas e os dias inauspiciosos como Nefas. Para eles tudo dependia dos dias fastos ou nefastos. Por isso, o povo na sua comunicação diária fazia o sinal de cruzar os dedos ou sobrepor os dedo médio sobre o dedo indicador, que simbolizava o ato sexual, para afugentar o mau olhado. Este simbolismo era protetivo e não sexual, e ainda hoje se usa mesmo gesto de cruzar os dedos também para afastar a inveja, afugentar o mau olhado ou a má sorte. 






Na América estender apenas o dedo médio é considerado um gesto ofensivo, mas no seu significado original servia para se proteger do mau olhado. O manguito feito com a mão sobre o braço flexionado também é considerado um gesto ofensivo, mas esse já foi um gesto de proteção contra maus agouros. 
 




Depois que a Igreja Católica foi aceita no Império Romano no século 4 começaram os tabus e o puritanismo a respeito da sexualidade humana. No entanto em nossa vivência diária há vários símbolos fálicos que sobreviveram o tempo. Os romanos exprimiam a sua escolha pelo destino dos gladiadores no Coliseu de Roma, fazendo o gesto com o polegar virado para cima ou para baixo como um gesto fálico. E ainda hoje usamos o mesmo gesto para expressar Ok ou não Ok. 




Povos de nacionalidades latinas cruzam os dedos de uma maneira diferente. Os italianos, espanhóis e portugueses fazem uma figa, colocando o polegar entre os dedos indicador e médio. Para estes povos a figa é um gesto forte para afugentar melhor o mau olhado porque representa o intercurso sexual mais íntimo. A figa, que é um símbolo fálico, também é usada como amuleto ou talismã de sorte.  





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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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