sábado, 22 de março de 2014

Díogenes de Sínope, um modo radical de viver




Diógenes de Sínope foi um filósofo grego discípulo de Antístenes, fundador da Escola Cínica. Em sua época teve destaque e tornou-se um símbolo do cinismo devido à sua filosofia e modo radical de viver. 

Nascido em Sínope no ano de 413 a.C., Diógenes foi exilado de sua terra devido a adulteração de uma moeda. Alguns diziam que a culpa era de seu pai, enquanto outros culpavam Diógenes já que ele lidava com a cunhagem das moedas.

Quando Diógenes chegou em Atenas passou a viver como um mendigo, já que ninguém quis acolhê-lo. Ele tentava ser discípulo de Antístenes, um filósofo grego que dizia que o preceito ético fundamental da existência deveria ser a virtude e não o prazer. 

Depois de muito insistir,  Antístenes o recebeu como seu discípulo. Certo dia Diógenes viu um rato correndo pela rua de um lado para o outro sem direção. Isso foi entendido pelo filósofo como um remédio para as suas dificuldades, pois o rato não procurava abrigo, não temia as trevas e nem procurava nenhuma comodidade. 

E assim Diógenes adotou um estilo de vida como uma resposta contra as comodidades e atividades intelectuais. Ele era contra qualquer forma de erudição e expressava-se por atitudes e escolhas concretas.

Ele vestia apenas uma túnica e vivia num tonel. Comia o que encontrava na natureza e lambia água das poças, tornando-se um ícone do quão pouco os homens precisam para viver sem necessidade do supérfluo. 

Ele acreditava atingir a plena liberdade não se deixando dominar pela necessidades de conforto e prazeres, pois para os cínicos os prazeres enfraquecem o corpo e a alma e o tornam um escravo, pondo em perigo a liberdade do homem.

Os Cínicos pregavam o desapego dos bens materiais, contestavam o matrimônio, a convivência em sociedade e se declaravam cidadãos do mundo. Acreditavam que o homem deveria ser autônomo, auto-suficiente e tratar o mundo externo com indiferença, pois a felicidade deveria vir de dentro do homem e não do seu exterior. 

Alguns extrapolaram, rejeitando as decências básicas. Defendiam a liberdade de expressão do pensamento e Diógenes dizia:  A liberdade para falar é a coisa mais bela para um homem.  

Conforme relatos históricos, ele andava durante o dia em meio às pessoas com uma lanterna acessa pronunciando ironicamente a frase: "Busco um homem que viva segundo a sua essência". 

Na verdade ele procurava um homem que tivesse encontrado sua verdadeira natureza e vivesse segundo ela. Sua busca se concentrava em alguém que tivesse superado as exigências exteriores emanadas pelas convenções sociais como comportamento, dinheiro, luxo ou conforto e fosse feliz.

Para Diógenes, os deuses tinham dado aos homens formas de viver de um modo fácil, mas escondiam o modo de ser feliz. Ele tentava demonstrar que as pessoas não precisavam de ter coisas exteriores para ser feliz, pois a natureza já oferecia o que era realmente necessário. 

Para ele, as reais necessidades do ser humano estariam em sua própria condição animal, como a necessidade do alimento e não na necessidade de ter casa e conforto. Por isso dizia que o homem deveria se espelhar nas necessidades básicas dos animais para conduzir sua vida.

Diógenes faleceu em 323 a.C. Em sua homenagem foi construída uma coluna com um cão no topo, simbolizando seu modo de viver e até mesmo seu apelido, Diógenes - o Cão. Em seu túmulo foi escrita a frase: "O próprio bronze envelhece com o tempo, mas tua gloria, Diógenes, nem toda a eternidade destruirá, pois apenas tu ensinaste aos mortais a lição da autosuficiência na vida e a maneira mais fácil de viver ".


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O modo de viver de Diógenes inspirou a psiquiatria a nomear um transtorno psiquiatrico de "Síndrome de Diogenes", que se caracteriza pelo costume de acumular objetos inúteis e sem valor, recolher e acumular lixo e até dejetos. 

Chamada também de Síndrome de Miséria Senil, por aparecer mais entre idosos, na verdade a síndrome também pode ser encontrada entre pessoas jovens. 

A acumulação compulsiva de objetos é um dos sintomas de uma doença mental, um transtorno de ansiedade que muitos especialistas afirmam ser um transtorno obsessivo compulsivo (TOC). 

Trata-se de uma perturbação que se caracteriza não só pela acumulação de lixo e objetos inúteis, mas também pela dificuldade de livrar-se de objetos. O acumulador compulsivo costuma colecionar móveis, livros, jornais, revistas, pregos, parafusos, recipientes e eletrodomésticos, mesmo que estejam com defeito e nem funcionem. 

Eles são a imagem dos sem-abrigo e juntam todo o tipo de velharias. Entretanto, é preciso saber distinguir o Transtorno de Colecionamento, como é denominado pelos psiquiatras, do colecionismo não patológico. 

Se uma pessoa tem como hobby colecionar selos, livros, bonecas, carrinhos e outras coleções organizadas, trata-se apenas de uma atividade que serve para distrair ou divertir. Só não é considerado normal quando o comportamento possa resultar em um ambiente bagunçado ou se causar sofrimento ou comprometimento significativos.

Tal como a maior parte dos comportamentos obsessivos, a acumulação compulsiva começa lentamente e se desenvolve de forma progressiva. Dificilmente as pessoas admitem que guardam coisas em excesso. 

Alguns justificam seu comportamento para poder atender a uma eventual emergência. Eles dizem que poderão precisar daqueles objetos numa eventualidade ou fazem planos para usá-los em alguma oportunidade que nunca chegará. 

Essa é uma doença que evolui com o tempo. A maioria das pessoas não sabe especificar quando começou a ter o vício de acumular. Algumas pessoas podem ter outros sintomas como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar, podendo haver sentimentos como frustração ou arrependimento, assim como medo e ansiedade. 

Muitas vezes a doença funciona como uma mórbida auto compensação de algo que aflige a pessoa, como conflitos pessoais, profissionais ou uma experiência traumática. Também pode ser um costume aprendido na infância devido à convivência com pessoas que tinham o hábito de acumular.

Os sintomas mais comuns da doença são o isolamento social a a reclusão em casa. Algumas pessoas podem se tornar verdadeiros eremitas; nunca saem, não participam de festas, evitam contato com outras pessoas, costumam pedir comida através do serviço de delivery. 

Com o passar do tempo, podem abandonar a higiene física, acumular sujeira no ambiente e passar a acumular objetos inúteis. E se sentem irritados e incomodados quando alguém se disponibiliza para arrumar e fazer limpeza no lugar. Sem a desordem e o caos, alguns dizem se sentir perdidos e com sensação de perda. 

Não há uma regra que determine o que poderia desencadear a síndrome. Alguns psiquiatras afirmam que poderia ser um tipo de demência ou associação com outras síndromes. 

Nota-se que geralmente essa síndrome acompanha as pessoas que vivem sozinhas ou não conseguem superar a morte de um familiar. Idosos podem sofrer pela solidão e stress causado pela idade. 

Embora a síndrome possa surgir em pessoas que sofrem de dificuldades econômicas, há também aqueles que vivem voluntariamente em condições de extrema pobreza, ainda que tenham um considerável patrimônio. 

Recentemente na Arábia Saudita faleceu uma mendiga que surpreendeu ao mundo ao descobrirem que na verdade ela era milionária. Eisha morreu aos 100 anos de idade deixando uma fortuna sem herdeiros estimada em US$ 1 milhão. Ela dizia estar se preparando para tempos difíceis.  

Apenas uma avaliação psiquiátrica poderia diagnosticar a síndrome, mas podemos identificar a tendência ao transtorno observando quando começarmos a juntar quinquilharias e notarmos nossa avareza e mesquinharia, fazendo de pequenas coisas grandes questões. 

Geralmente quem acumula inutilidades é porque acredita apenas na pobreza e não acredita que no futuro terá prosperidade suficiente para adquirir novos objetos quando for necessário. 




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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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