segunda-feira, 11 de maio de 2015

Proteus, dons proféticos e reveladores do destino




Proteus era um deus marinho, um dos 3.000 filhos dos titãs Tétis e Oceano. Nascido em Palene, uma pequena cidade da Macedônia, ele teve dois filhos gigantes e cruéis: Tmolos e Telégono. 

Não conseguindo transmitir o sentimento de humanidade para seus filhos, Proteus pediu ajuda a Netuno. O deus do mar aconselhou Proteus a abandonar sua cidade e ir com ele cuidar do grande rebanho de peixes e focas nas costas do Egito. 

Depois de algum tempo Netuno quis recompensá-lo por seu trabalho e concedeu-lhe o conhecimento do presente, do passado e do futuro. Proteus passou a ser reverenciado por seus dons proféticos e reveladores do destino. 

Muitas pessoas passaram a procurá-lo desejando conhecer as artimanhas do destino, porém Proteus se mostrava arredio para revelar sobre os acontecimentos vindouros. Ele considerava que cada um poderia fazer seu próprio destino através de suas ações. 

Para se esquivar das pessoas, Proteus se metamorfoseava assumindo aparências monstruosas fazendo as pessoas fugirem assustadas. Entretanto Proteus tinha duas filhas que conheciam seus segredos; uma delas era a ninfa Eidotéia.

 Quando Menelau, o rei de Esparta, tentava regressar para sua casa após a Guerra de Troia, ventos contrários levaram seu navio até as costas do Egito. Compadecida do rei, Eidoteia revelou a Menelau que bastaria surpreendê-lo durante o sono e amarrá-lo para que não escapasse e fazer-lhe as perguntas.

Seguindo as instruções de Eidoteia, Menelau e seus três companheiros de esconderam na gruta onde Proteus costumava descansar com seu rebanho após a refeição do meio-dia.

Proteus chegou na gruta e tomou uma posição cômoda para dormir. Assim que ele fechou os olhos, Menelau e os seus companheiros se atiraram sobre ele e o apertaram fortemente entre os braços. Proteus se metamorfoseava em leão, árvore, dragão, javali e outros monstros, mas era inútil pois eles o apertavam com mais força.

Quando enfim esgotou todas as suas astúcias, Proteus voltou à forma ordinária e deu a Menelau os esclarecimentos que ele pedia. Apesar de ser capaz de prever as grandes tempestades e as dificuldades que Menelau iria encontrar durante sua viagem pelo mar, Proteus só poderia aconselhar. O resto dependeria apenas de Menelau...



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O mito de Proteus nos remete à reflexão sobre o comportamento humano nas diferentes situações da vida. Muitas vezes sabemos o que fazer, mas algumas vezes nos sentimos confusos e precisamos da orientação dos outros. O problema surge quando nos tornarmos dependentes da opinião alheia, sempre esperando que os outros tenham todas as respostas para os nossos problemas.

A excessiva dependência de orientação ou conselhos de outros não é algo saudável, pois pode revelar insegurança e até mesmo um transtorno de personalidade. Caracterizado pelo medo, carência, baixa autoestima, dificuldade para expressar as próprias vontades e necessidades, submissão às vontades dos outros e incapacidade de tomar decisões, esse transtorno pode incapacitar para o trabalho e causar prejuízos em várias situações da vida.

Ser extremamente dependente da orientação dos outros, significa sentir-se desamparado e precisar da proteção alheia. O problema se torna maior quando encontra alguém em quem possa apoiar, que pode levar à limitação da consciência de si mesmo para assimilar as crenças, gostos e sentimentos dos outros, como se fosse parte do outro. Quem age assim, age como se não tivesse vontade própria.

Geralmente a pessoa muito dependente se julga insuficiente, impotente e incapaz, deixando seu destino nas mãos dos outros. Por não acreditar em si mesma, em suas habilidades, virtudes e atrativos, falta-lhe ambição e motivação para desenvolver um trabalho rentável. 

Pelo medo da rejeição e pela necessidade de se sentir aceita pelos outros, tende a se mostrar excessivamente modesta, agradável, gentil e disponível para fazer algo para os outros. Além de colocar-se sempre como um serviçal, a pessoa sofre de uma extrema carência de atenção, podendo recorrer à utilização de alguns esquemas. 

Uns optam por fazer repetidas queixas de sua vida. Reclamam das dificuldades de relacionamento afetivo ou social, da sua relação com os seus familiares, vizinhos e colegas ou problemas no trabalho. Outros se concentram na queixa de sintomas e doenças.

Nem sempre as queixas estão relacionadas com algum transtorno psicológico, mas serve como alerta para que reflitamos sobre o nosso comportamento. Alugar o ouvido dos outros com as nossas queixas não trará solução para os nossos problemas. 

Assim como Proteus, nem sempre as pessoas estão disponíveis para ouvir os problemas de outras ou dar conselhos. Importante é tentarmos analisar nossas questões e verificarmos se não estamos muito dependentes da opinião alheia...

    

quinta-feira, 26 de março de 2015

Nunca esqueça onde queres chegar




Odisseu ou Ulisses foi um dos grandes heróis da Guerra de Troia. Depois de derrotar os troianos, ele iniciou uma longa viagem de dez anos de volta para Itaca, onde sua esposa Penélope o aguardava. Seu regresso foi marcado por muitas aventuras e desventuras, que atrasaram sua viagem.

Numa ilha Ulisses e seus companheiros enfrentaram o cíclope Polifemo e só conseguiram fugir porque cravaram uma lança no único olho do gigante. Eles não sabiam que Polifemo era filho de Posidon, por isso passaram a ser perseguidos pelo deus dos mares que criou inúmeros problemas para eles no percurso da viagem.

Depois de algum tempo navegando, eles se perderam e chegaram à Ilha da feiticeira Circe. Enfeitiçado pelas artimanhas da bela jovem, Ulisses permaneceu na ilha por um longo período. Quando enfim resolveu partir, Circe ajudou-os a passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias, recomendando que tapassem os ouvidos com cera para não serem inebriados pelos cantos das sereias.

Depois de terem enfrentando estes e tantos outros perigos, Ulisses pensava que ele e seus companheiros haviam superado todos os desafios da viagem, mas o pior estava por vir. Ao enfrentar uma tempestade o barco onde viajavam naufragou. Tentando salvar-se do naufrágio Ulisses e seus companheiros acabaram indo para a Ilha de Ogígia, onde vivia a ninfa Kalipso.

Kalipso era uma das milhares ninfas do mar que vivia numa gruta na encosta da montanha, cuja morada tinha sua entrada cercada por um bosque sagrado e uma fonte sagrada. A princípio ela os recebeu com cortesia, mas depois de apaixonar por Ulisses ela tornou prisioneiros todos os viajantes.

A etimologia do nome da ninfa kalypto significa esconder, encobrir e ocultar, sendo o oposto de Apocalipse, que significa revelar. Portanto Kalipso era originalmente a deusa da morte. Ela passava os dias a tecer o tempo e a fiar o destino. Ela desejava seduzir Ulisses oferecendo-lhe a imortalidade, mas ele resistia porque tinha a intenção de retornar para Ítaca.

Passado sete anos Zeus compadeceu-se do sofrimento de Ulisses e mandou que Hermes fosse convencer Kalipso para libertar seus hóspedes. O pedido do deus dos deuses foi atendido e, mesmo contra sua vontade, Kalipso deu a Ulisses tudo o que ele necessitava, tal como as provisões, um novo barco e as condições favoráveis para o caminho de volta ao lar.


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A volta para Ítaca pode representar os nossos objetivos, planos e projetos, dos quais podemos querer desistir diante dos inúmeros obstáculos que possam surgir. E mesmo que tenhamos previsto algumas dificuldades, sempre podemos ser surpreendidos por questões que estão além de nossas previsões e controle. É preciso saber lidar com imprevistos e buscar alternativas.

Assim como Ulisses, muitas vezes temos de tapar os ouvidos para não prestar atenção aos pessimistas de plantão que insistem em nos desestimular de nossos planos e projetos. Mas também temos de evitar as ilusões e fantasias que a nossa imaginação possa criar. Nada é mais perigoso do que querermos ir além do que temos condições e do podemos suportar.

Quando estamos atentos à realidade dos fatos temos mais condições de optar e escolher melhor. Muitas vezes podemos encontrar propostas sedutoras de vantagens e lucros, mas conseguidas através de fraudes e negociações pouco honestas. Podemos até pensar que isso servirá para nos ajudar a chegar onde queremos, porém certas facilidades servem apenas para atrasar onde queiramos chegar. Essa é a lição de Ulisses.


terça-feira, 10 de março de 2015

Sabazius, deus da cevada e da cerveja




Perséfone ou Koré era uma linda criança que gostava de brincar nos campos floridos. Quando ela cresceu tornou-se uma bela jovem muito cobiçada pelos deuses. Por onde passava Persefone atraia todos os olhares, porém sua mãe Deméter impedia que todos se aproximassem dela.

Certo dia ao passear pelos campos floridos Persefone desapareceu. Depois de muitos anos de busca, Deméter descobriu que Hades - o senhor das trevas - havia raptado sua filha. E assim foi feito um acordo: Perséfone passaria seis meses junto com seu marido nas Trevas e seis meses junto com sua mãe na Terra. Daí surgiu a divisão da estações do ano.

Sua beleza era admirada por todos os deuses, inclusive por Zeus - o deus todo poderoso do Olimpo. Isso despertou a ira de Afrodite, que sempre desejava ser a mais bela e admirada.

Devido a essa rivalidade Afrodite plantou o amor no coração de Zeus, que se transformou numa serpente para seduzir Persefone quando ela viesse visitar sua mãe. Do encontro entre Perséfone e Zeus nasceu Sabazius, que foi viver com Zeus no Olimpo.






Zeus era casado com Hera, mas mantinha seus casos extraconjugais. Entre suas amantes estava Sêmele, a quem Zeus prometeu jamais negar-lhe algo. Para vingar-se da traição, a esposa de Zeus despertou em Sêmele a curiosidade de vê-lo em todo o seu esplendor. Ao satisfazê-la, Sêmele não suportou a visão de Zeus - deus dos raios e trovões - e foi fulminada pelo grande clarão do raio que a atingiu.

Sêmele estava grávida e, na tentativa de salvar a criança, Sabazius costurou o feto na coxa de Zeus. Ao final da gestação nasceu Dioniso, vivo e perfeito. Contudo Hera continuou a perseguir a estranha criança de chifres e ordenou aos Titãs que a matassem. 

Mais uma vez Sabazius ajudou Zeus a resgatar o coração da criança, que foi cozido junto com sementes de romã transformando numa poção mágica. Eles deram a poção a Perséfone, que engravidou e novamente Dioniso nasceu, sendo chamado "o que nasceu duas vezes".

Graças a Sabazius o pequeno Dioniso sobreviveu. Convocado por Zeus para viver na terra junto aos homens, Dioniso compartilhava com os mortais as alegrias e as tristezas. 

Atingido pela loucura, Dioniso perambulava pelo mundo junto aos sátiros selvagens, loucos e animais. Deu à humanidade o vinho e suas bençãos, concedendo o êxtase da embriaguez e a redenção espiritual a todos que decidissem abandonar suas riquezas e renunciar ao poder material. 


Sabazius também possuía seus atributos e era célebre por sua velocidade e poder de transformação. Considerado como uma divindade agrícola, tal como Dionísio ele também tinha chifres na testa.  

Alguns chamavam Sabazius de deus-cabrito. Venerado durante a Sabátidas, consagravam-lhe o trigo e a cevada, de onde se fermentava uma bebida inebriante que era servida e apreciada pelos presentes. Essa bebida era a cerveja.






As Sabátidas eram festivais consagrados a Sabazius e também a Pã - deus dos bosques e a Príapo - deus da fertilidade, todos representados pela figura de faunos ou bodes. Durante a festa os convivas banqueteavam sentados no chão sobre peles de animais caprinos, com as quais também se cobriam encarnando seu comportamento e imitando seus berros.

Nesse culto agrário, uma virgem nua simbolizava a fertilidade. Em alusão à Demeter - a Mãe Terra, a virgem deitava-se sobre a mesa ritualística e recebia sobre o ventre as oferendas, geralmente o trigo e a cerveja.

Ela própria após o banquete era oferecida à divindade caprina dona da festa, sempre encarnada por um sacerdote com máscara de chifres, vestido com pele de cabra, assim como os demais presentes.

Enlevados pela bebida, durante a festa eles misturavam-se e, não importando o sexo, fecundavam-se mutuamente. Ao final da festa, semelhantemente às Bacanais, invocava-se o raio numa alusão ao mito dionisíaco. Essa era uma forma de relembrar o raio de Zeus que fulminou Sêmele.

A desvirginada do altar arrancava com sua boca a cabeça de um sapo e a cuspia ao chão, em alusão às Mênades possessas que dilaceravam os animais conforme descreveu Eurípedes de modo perturbador nas Bacantes. Estes eram os originais pagãos, cujas festas celebravam no pago ou no próprio povoado, geralmente nos campos de suas comunidades.

Na antiga Roma, Dionísio era conhecido como Baco - o deus do vinho, tendo sido mais popular devido às grandes plantações de uvas e, consequentemente, pela produção do vinho. 

Além dos limites romanos viviam os bárbaros e pagãos, que cultivavam os cereais, a cevada e o trigo. Isso tornou os povos pagãos - celtas, bretões, gauleses e caledônios - , os povos bárbaros germanos - anglos, saxões, godos - e os povos da suméria, babilônia e Egito, adoradores de Sabazius e  grandes apreciadores  da cerveja.   


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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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