sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Horas, as deusas da ordem natural das coisas



As Horas eram originalmente deusas do ano, das estações climáticas e da ordem natural da natureza. Mais tarde passaram a personificar também a ordem humana e social. 

Associadas com as Moiras que eram suas meias-irmãs, cuidaram de Hera na sua infância e foram suas servas, ajudaram no aperfeiçoamento de Pandora e assistiram o nascimento de Hermes e Dioniso.

Elas eram as guardiãs das portas do Olimpo, organizando a passagem das estrelas e participavam do cortejo de Afrodite e dos demais deuses e deusas relacionados ao trabalho agrícola e à passagem das estações como Perséfone. 

Serviam e eram encarregadas de guardar a ambrosia que era o alimento dos deuses e oferecê-lo aos humanos que viessem a merecer a imortalidade e a divinização. Muito tempo depois, as Horas passaram a personificar a divisão do dia.

Filhas de Zeus e Têmis, as mais velhas e mais conhecidas eram Eirene, Eunômia e Dikê. Posteriormente surgiram as demais Horas: Auxo, Acme, Anatole, Disis, Dicéia, Euporia, Gimnásia, Talo e Carpo. 

Na versão arcaica ateniense, as Horas cultuadas pelos camponeses eram representadas como jovens rodeadas de flores coloridas, vegetação e outros símbolos de fertilidade. Originalmente representavam apenas três estações do ano: primavera, verão e outono e na versão mais conhecida das eras helenística e romana, as Horas eram:
  • Diké ou Dice era a deusa dos julgamentos e da justiça humana, vingadora das violações da lei que na mão direita sustentava uma espada e  na mão esquerda sustentava uma balança de pratos que representava a igualdade de direitos. Representava a organização das coisas para harmonizar a sociedade e as relações dos indivíduos. Na mitologia grega era representada com os olhos abertos simbolizando a busca pela verdade. Chamada de Iustitia pelos romanos, passou a ter os olhos vendados simbolizando a imparcialidade nos julgamentos. 
  • Eunomia era a deusa da disciplina ou equidade, das leis e da legislação. Representava o resultado do esforço contínuo do indivíduo para melhorar suas habilidades e aperfeiçoamento. Era deusa auxiliar de artistas e da maioria dos mortais que chegaram a desenvolver habilidades excepcionais devido à disciplina e persistência.
  • Eirene ou Irene personificava  a paz, descrita na arte como uma bela jovem que portava uma cornucópia, um centro e uma tocha, chamada pelos romanos de Pax. Estaria ligada a compreensão da ordem natural sem se opor à ordem natural dos eventos. Esta seria a verdadeira paz para os gregos da época, uma harmonia e consequente conforto ante os eventos cotidianos.
  • Dicéia era a deusa menor da justiça e dos acordos
  • Gimnásia era a deusa da ginástica e dos esportes.
  • Euporia era a deusa da abundância.
  • Disis era a deusa da finalização do dia, o por do sol.
  • Acme era a deusa do apogeu.
  • Anatole era a deusa da alvorada e do nascer do sol.
  • Talo ou Thallo que significa broto, era a deusa dos brotos e dos botões de flores, protetora da juventude.
  • Auxo ou Auxésia que significa crescer, era a deusa do florescimento. 
  • Carpo ou Karpo que significa fruto, era a deusa do amadurecimento, encarregada do outono e da colheita. Era filha de Clóris ou Flora - a deusa da primavera e Zéfiro, o vento da primavera. 


      
      Frequentemente associadas às Graças, as deusas Horas foram representadas por muitos artistas como dançarinas de eterna juventude a quem se prestavam inúmeros cultos. Na mitologia romana tornaram-se alegóricas representando as estações. 

      Por personificarem as horas do dia e da noite, eram consideradas como filhas de Cronos - o Senhor do Tempo e companheiras do Sol e da Lua. E foi assim que as 12 Horas passaram a personificar as doze horas do dia a partir do nascer do sol,  tendo como deusas tutelares: 

      Auge: a primeira luz
      Anatole ou Anatólia: o nascer do sol ou alvorada
      Música ou Mousika: a hora matinal de estudo da música
      Ginástica, Gymnastika ou Gymnasia: a hora matinal do exercício físico
      Ninfa ou Nymphe: a hora matinal do banho    
      Mesêmbria: o meio-dia
      Esponda ou Sponde: hora das libações após a refeição
      Elete: a rezadora ou a primeira hora de trabalho da tarde
      Acte ou Akte: a segunda das horas de trabalho da tarde
      Hésperis ou Hespérides: a tarde ou entardecer
      Dísis ou Dysis:  o pôr-do-sol
      Arctos ou Arktos: a constelação da noite, a Ursa Maior.


    *****************



    O que fazemos com as nossas horas disponíveis? Diariamente temos 24 horas, mas parece que o tempo escorre pelas nossas mãos. Estamos vivendo na era da velocidade e, indignados, corremos querendo ultrapassar o tempo. 

    Se pudéssemos criaríamos mais horas para o nosso dia e, como não é possível, passamos o dia lutando com o tempo. Nessa pressa foram criados produtos químicos para acelerar  a germinação e a maturação, mas consequentemente aceleram a finalização.

    A velocidade se tornou um novo paradigma, um padrão de comportamento para quem quer obter sucesso, estar integrado, fazer parte do sistema, concorrer no mercado e ser aceito e aplaudido. 

    No entanto, podemos ser simplesmente sugados pelo sistema e acabarmos sendo consumidos velozmente, sem nos darmos conta de que podemos fazer mais, porém administrando o tempo com lucidez e planejamento.

    É preciso tempo para tudo: para nascer, para germinar, para dar frutos, para morrer; essa é a ordem natural das coisas.  Ser veloz não é a mesma coisa que ter pressa. Fazer as coisas rapidamente não é o mesmo que terminar no menor tempo. 

    Sair na frente não garante chegar em primeiro lugar. Há uma certa dose de relatividade. Quando fazemos as coisas com calma, colocamos mais atenção ao momento presente e erramos menos. Quando abandonamos o "Fast Food" estamos optando pelo "Slow Food", e não se trata de comida, se trata de estilo de vida.

    A maioria das pessoas no mundo estão sempre apressadas vivendo no estilo "Fast Food", um jeito urbano de comer rapidamente um sanduíche encostado de pé no balcão em substituição ao almoço. 

    E assim esquecem os prazeres do "Slow Food", de sentar-se à mesa, comer e beber devagar, dando-se o tempo para saborear a comida, transformando a refeição em um momento de encontro e comunhão com a paz e com o prazer, sem pressa e com muita qualidade e satisfação, essa é a idéia. Trata-se do contraponto ao espírito do Fast food e o que ele representa como estilo de vida moderno.

    A ideia de respeitar o tempo de comer, valorizando a arte da culinária, o convívio familiar e melhorar a saúde, amplia sua ação para muito além da borda da mesa de jantar. Tem tudo para virar filosofia de vida, pois comer não é mais do que uma das múltiplas atividades a que o homem se submete em sua rotina diária, entre tantas outras. 

    O Slow Food pode servir de base para um movimento maior, inicialmente chamado Slow Europe. Sua idéia é questionar a pressa do mundo, a angústia das pessoas, a loucura generalizada na sociedade imposta pela globalização, pela competitividade crescente e pela velocidade da informação proporcionada pela Internet.

    Quando o engenheiro americano Frederick Taylor criou no início do século 20 as bases da administração moderna, procurava otimizar o trabalho dos operários em uma fábrica. Para isso estabeleceu uma relação matemática entre a produção que eles conseguiam e o volume de recursos utilizados na produção. E Taylor considerou o tempo como o mais importante entre todos os recursos.

    A partir de então se estabeleceu a cultura do século que se iniciava: fazer mais em menos tempo. Porém fazer as coisas em menos tempo não significa fazer mais rápido, significa fazer com mais qualidade. 

    A má interpretação de sua ideia acabou por criar um caos comportamental que se refletiu em pessoas apressadas, neuróticas e infelizes. "Pense antes de fazer, planeje seu trabalho, organize-se e só então faça", dizia ele.

    Correr como baratas tontas diante da necessidade de fazer mais com menos, é bem diferente do que planejar, preparar, aprimorar a técnica e só então fazer, rápido mas sem pressa, saboreando cada momento como único, que de fato é. 

    Não se pode lutar contra as horas do dia. Elas são poderosas e sempre ganham a batalha. A idéia não é de luta mas de aliança, porque se gastamos mais tempo para fazer bem feito, economizamos o tempo que gastaríamos refazendo ou corrigindo defeitos e erros.

    Ter uma atitude sem pressa significa colocar mais atenção no que se faz, dedicando tempo para os valores que a rapidez do mundo moderno relega a um plano secundário: a família, os amigos, o lazer, a cultura, o tempo livre para simplesmente viver. É uma volta à valorização da casa, do bairro, da cidade, dos ambientes conhecidos, presentes, palpáveis, em oposição ao mundo globalizado, distante, anônimo, abstrato, frio.

    O acesso aos valores essenciais à felicidade do ser humano, como a convivência, a fé, a esperança, a serenidade, os prazeres do cotidiano, torna-se mais fácil através de uma atitude sem pressa. Isso resulta em pessoas menos estressadas e neuróticas, mais leves, mais felizes e, por isso mesmo, mais produtivas. 

    A sabedoria popular cunhou ditados para falar da importância de se reduzir a velocidade: "devagar se vai ao longe"; "o apressado come cru" são alguns deles. Quer um bom resultado, com segurança e rápido? Então faça devagar, não se afobe, pense antes de agir, faça uma coisa de cada vez. 

    Lembre-se: velocidade é diferente de pressa. Ser veloz é adequar-se às condições. O veloz chega antes, o apressado se cansa pelo caminho. O carro não pode ir mais rápido do que as condições que a estrada permite. A boca não pode falar com a velocidade do pensamento.

    Chronos é o deus do tempo medido, do cronômetro, do relógio, do calendário, das ações repetitivas mas é Kairós quem governa o tempo vivido, aproveitado, saboreado, sentido, bem utilizado. Administrar o tempo é identificar como estamos usando as 24 horas de cada dia, detectando onde estamos perdendo tempo, as tarefas desnecessárias e improdutivas que estamos realizando. 

    Esse processo possibilita autodescoberta, além de que pode nos tornar mais produtivos e livres para fazer coisas que nos satisfaçam. Muitas pessoas reclamam que nunca há tempo suficiente para fazer tudo que seja necessário e que gostariam de fazer, no entanto, elas tem mais tempo do que imaginam ter. 

    Na verdade, elas estão sendo dominadas pelo tempo, quando o correto seria o contrário. Tempo perdido é tempo irrecuperável, e mesmo que se tenha agilidade, muitas vezes a vontade de recuperar o tempo compromete a qualidade do que se faz.

    É o perfil de nosso comportamento diante do tempo que nos dirá, o que e como devemos mudar. Muitas vezes a pessoa começa uma tarefa, retoma outra sem concluir a primeira e depois outra sem concluir nenhuma. 

    No final do dia, constata que está exausta, trabalhou o dia inteiro e não vê nenhum resultado. Outras vezes ela se propôs a fazer tantas coisas, se ocupou de coisas de menor importância, e quando percebe, algo importante deixou de ser feito, e aí reclama que as horas passam rápido demais...




    domingo, 20 de janeiro de 2013

    Nike, a deusa do triunfo e da glória



    Nike, chamada pelos romanos de Victoria, personificava o triunfo e a glória. Deusa alada, além das extraordinárias qualidades que lhe eram atribuídas, Nike podia correr e voar em grande velocidade. 

    Representada carregando uma palma e uma coroa de louros, era considerada como fonte de boa sorte e todos os deuses, atletas e guerreiros desejavam ter Nike ao lado. Ela estava sempre ao lado de Athena, a deusa da sabedoria, da estratégia e das habilidades, dando a certeza de que a deusa obteria a vitória nas batalhas travadas. 

    Os atenienses tinham especial devoção por Nike e ergueram templos em sua homenagem para assinalar as suas vitórias militares. Muitos desses cultos eram conjugados com outros dedicados à própria Athena.

    Nike voava sobre os campos de batalha para premiar os vencedores com a fama e a glória, mas nem sempre era justa e nem sempre premiava o mais brilhante. Ela premiava com os louros da vitória quem soubesse usar da melhor estratégia. 

    Filha de Palante e da oceânide Styx, sua mãe era a deusa dos inquebráveis juramentos solenes e portanto invocada em qualquer situação que envolvesse ganhos, sucesso, vitória e poder. 

    Para vencer é necessário fazer um juramento consigo mesmo para alcançar um objetivo.  Quando Zeus, a divindade dominante do panteão grego, estava organizando a guerra contra os titãs, Styx e seus filhos Nike, Bia, Kratus e Zelus foram seus aliados. 
    Aos deuses, guerreiros e herois, Bia dava a força, Kratus o poder e Nike coroava a vitória. Porém qualquer um que fosse vencedor também deveria saber lidar com Zelus - o ciúme, algo que sempre ronda quem tem sucesso.

    No ano de 490 a.C. quando os soldados atenienses partiram para a planície de Maratona ou Marathonas  para combater os persas, suas mulheres ficaram apreensivas pois os inimigos haviam jurado que, depois da batalha, marchariam sobre Atenas, destruiriam a cidade, violariam suas mulheres e sacrificariam seus filhos. Diante dessa ameaça, os gregos combinaram com suas esposas que, se não recebessem a notícia da vitória em 24 horas, todos deviam suicidar. 

    Os gregos ganharam a batalha, mas a luta iria demorar ainda mais tempo e eles temiam que elas executassem o plano. Por isso enviaram Filípides, que era o melhor atleta de Atenas, para dar a notícia. Ainda hoje Filipides é homenageado pelo corredor que carrega a tocha para acender a pira que antece os jogos olímpicos.

    O mensageiro percorreu cerca de 42 km que separavam Marathonas de Atenas, uma razão para a distância da atual prova olímpica da maratona. O grande corredor só parou quando chegou à Acrópole, o lugar mais alto e importante da cidade grega. Do alto ele gritou: Nike! Nike! Nike! e caiu morto pelo esforço.  


    ************ 


    Retratada e homenageada nas medalhas dos Jogos Olímpicos nos tempos atuais, Nike é testemunha das lutas e competições que se travam nos ginásios esportivos mas também de nossa luta diária para superar dificuldades e conquistar os nossos objetivos. 

    Ela voa baixo, beija a testa dos vencedores que lhe sorriem e não se sensibiliza com os gritos dolorosos dos fracassados.  Nem sempre é justa, nem sempre premia o melhor e mais brilhante, mas castiga os pretensiosos que ousam cantar a vitória antes de travar a batalha. O que lhe seduz é a estratégia, o foco, a disciplina e o controle emocional. 

    Para construir uma carreira ou ter sucesso em qualquer empreendimento precisamos manter o foco e estarmos convictos do que nos motiva, pois é a motivação que nos leva a tentar melhorar a cada dia. Para isso é preciso determinação e disciplina, mas sobretudo gostar do que fazemos.
     
    E, por mais que confiemos em nossas capacidades, temos de reconhecer as nossas limitações. Temos habilidades especiais mas não somos bons em tudo. Não adianta querermos nos meter onde sejam necessárias competências que não temos, ao invés disso devemos priorizar os nossos pontos fortes e trabalhar as nossas melhores aptidões. Pontos fortes bem desenvolvidos superam pontos fracos. 


    No entanto, a vida é como uma Olímpiada, não basta desenvolvermos apenas competências. Precisamos também desenvolver o controle emocional, aprendendo a lidar com as pressões e frustrações. 

    Resiliência é a palavra-chave, recuperar-se rapidamente dos baques que a vida dá e tirar lições positivas das derrotas que são fundamentais para outras oportunidades. Leia mais sobre resiliência em meu blog Viva la Vita ou click aqui
     
    Para colher os louros da vitória, sejam nos esportes, nas empresas e nos objetivos pessoais é preciso saber interagir e ter respeito com os outros, saber como e quando atuar, tendo disposição para incorporar novos métodos e se aprimorar. Isso ajuda a
    desenvolver a habilidade de se relacionar com os outros e saber trabalhar em equipe.
     
    Nossa vida não é feita apenas de um objetivo, sempre haverá novos desafios a vencer. Ser vitorioso uma vez não garante que teremos sucesso sempre. Quando atingimos um determinado patamar é preciso continuar aprimorando para nos manter no topo e não subestimar a capacidade de nossos concorrentes e adversários. Achar que estaremos livres de qualquer adversidade, é o primeiro passo para a queda.



    quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

    Nereidas e a autoimagem ameaçada





    Nereu era um deus marinho mais antigo que Poseidon. Descrito como um velho pacato, justo, benévolo e sábio, ele representava a calma e a serenidade do mar. Descendente de Gaia e Pontos, seu reino era o Mar Egeu onde era conhecido por suas virtudes e sabedoria. 

    Tinha o dom da profecia e a capacidade de mudar tanto a sua aparência quanto a de quem lhe pedia. Representado como um deus do mar com cabelos e barba longos carregando um tridente, Nereu casou-se com Dóris que era uma das filhas de Oceanus e Tétis. 

    Ele foi o pai de Nerito e das muitas Nereidas que alguns autores citam quase 100. As Nereidas mais conhecidas eram Galateia, Anfitrite e Tétis que era a mãe do herói Aquiles. Elas tinham belos cabelos longos entrelaçados por pérolas e cruzavam os mares sobre os golfinhos ou sobre os cavalos marinhos.

    Às vezes eram representadas como sereias, metade peixe-metade mulher, mas igualmente belas e sempre portando uma coroa feita de corais do mar. Faziam parte do cortejo de Poseidon, o deus dos mares, junto com os Tritões que eram a personificação masculina das sereias. 

    Veneradas como ninfas do mar, gentis e generosas, elas estavam sempre de prontidão para ajudar os marinheiros em perigo no Mar Egeu. Personificavam as ondas e, por sua beleza e vaidade, costumavam dominar o coração e a fantasia de muitos homens.

    Certa vez a rainha Cassiopeia do Reino da Etiópia, uma mulher excessivamente presunçosa, ousou se vangloriar que sua filha Andrômeda era mais bonita do que as filhas do deus Nereu. 

    As Nereidas sentiram-se ofendidas pela arrogância da rainha e pediram a Poseidon que punisse a rainha e seu reino. Em resposta ao apelo das Nereidas, Poseidon enviou um monstro marinho chamado Cethus para atacar o reino da Etiópia.

    Desesperado o Rei Cepheus consultou o oráculo para saber o que poderia fazer para livrar-se do monstro. O oráculo predisse que ele deveria oferecer sua belíssima filha em sacrifício ao monstro do mar e assim a princesa Andrômeda foi acorrentada em um rochedo na costa do Mediterrâneo, onde hoje está a cidade de Tel Aviv.

    Esperando que fosse devorada pelo monstro, Andrômeda gritou por socorro. Ouvindo seus gritos, o herói Perseu que retornava de sua jornada em busca da Medusa foi socorrê-la. Quem olhasse os olhos da Medusa era transformado em pedra. Lutando contra o monstro Perseu mostrou os olhos da Gorgona e transformou o monstro Cethus em corais, os adornos preferidos das Nereidas para os seus cabelos.


    *****************



    O mito das Nereidas serve para ilustrar o mal estar que as pessoas sentem quando percebem que sua autoimagem está sendo ameaçada. Isso gera ansiedade e insegurança tendo efeitos em vários níveis na vida de uma pessoa. 

    Quase sempre provoca uma reação que pode chegar a extremos: a pessoa pode isolar-se, retrair-se ou pode encorajar a comportamentos compensatórios. Para vivermos de fato, temos de achar a vida satisfatória e ter uma autoimagem com a qual possamos conviver bem com ela. 

    O Eu não pode envergonhar de si ou tentar ocultá-lo. Quando reconhecemos as nossas fraquezas mas também os nossos pontos fortes, formamos uma autoimagem positiva a respeito de nós mesmos. Enquanto nossa autoimagem está segura, sentimo-nos bem, temos mais autoconfiança e sentimo-nos livres para nos expressarmos e ser nós mesmos.

    Porém quando sentimos vergonha da nossa autoimagem, procuramos ocultá-la de algum modo para não nos sentirmos inferiorizados e diminuidos. Muitas pessoas sofrem de Dismorfofobia, uma percepção imaginária de algum defeito físico que só existe numa autoimagem distorcida. 

    Exemplos são as cirurgias plásticas muitas vezes desnecessárias, o uso exagerado de cosméticos, dietas inconsequentes, uso de roupas que escondem a forma do corpo etc. Daí vem os sentimentos de auto-rejeição, inadequação, vergonha, tristeza e outros transtornos como bulimia e anorexia. E como surge isso?   

    Essa autoimagem distorcida pode ser gerada por uma baixa auto-estima decorrente de uma infância deficiente de atenção, carinho e aprovação que dá origem a uma autocrítica destrutiva mas também pode ser agravada pelos padrões de estética, beleza e sucesso impostos pelos meios de comunicação. 

    Vivemos numa sociedade onde a cultura da aparência, da beleza e da jovialidade adquire conotação de aceitação, inclusão e adequação. Não ser bela, não ser sexy e não parecer jovem equivale a ser rejeitada, inadequada e excluída.

    O mercado vive da insatisfação de pessoas insatisfeitas. As revistas de moda e empresas de cosméticos vivem por oferecer produtos que prometem beleza e rejuvenescimento. A moda coloca as roupas em meninas lindas e magérrimas, enquanto comerciais vendem shakes emagrecedores. 

    Meninas saradas aparecem nas revistas e na televisão, não para fazerem os homens babarem por elas mas para que as mulheres acreditem que é isso que os homens desejam. O "ter" tem sido valorizado mais do o "ser", ainda que tenhamos aprendido que o mais importante é a essência. 

    Os comerciais e programas de tv só mostram pessoas lindas, ricas, bem sucedidas e alegres. Tudo isso acaba gerando uma comparação que leva à auto-rejeição. Esse é o melhor jeito de convencer as pessoas a comprarem, dizendo que elas são feias, mal sucedidas e infelizes.





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    Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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