sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pomona e a negação dos próprios desejos




As hamadríades eram ninfas dos bosques. Pomona era uma delas e tinha amor aos jardins e ao cultivo das árvores frutíferas. Enquanto suas irmãs iam se banhar nos rios ou passear na florestas, ela permanecia nas regiões cultivadas de maçãs. Sempre com seu podão na mão direita, impedia que as árvores crescessem demais, podava os galhos secos para dar vida à árvore e cuidava para que não faltasse água às plantas.

Cuidar das plantas era sua única paixão e mantinha o pomar fechado para que os habitantes da região não viessem destruir as árvores. Muitos tentavam conquistá-la, como os faunos, os sátiros, o velho Silvano e Pã, mas Verturno a amava mais do que os outros e sempre se disfarçava, ora de ceifador de trigos, ora parecendo pastor, ora se apresentando como pescador, apenas para se aproximar de Pomona e assim ele alimentava seu amor.

Certo dia Verturno apareceu disfarçado vestido como uma velha, com os cabelos grisalhos cobertos por uma touca e um bastão na mão. Entrou no pomar, admirou os frutos e elogiou os cuidados de Pomona. Olhando os ramos carregados de frutos que pendiam, apontou para uma planta que subia em um tronco e exemplificou que se aquela planta não tivesse outra para apoiá-la ela ficaria prostada no chão. E perguntou porque ela não se casava com alguém, já que tinha tantos pretendentes e aconselhou que ela deveria escolher Verturno, tecendo muitos elogios e revelando que ele tinha o poder de transformar em qualquer personagem.

Lembrando-a de que Vênus poderia sentir-se ofendida, ele contou a Pomona a saga de um jovem humilde que se apaixonou por uma linda moça que o desprezava e relatou as declarações de amor que um jovem apaixonado poderia dizer à sua amada antes que morresse de amor e ela se tornasse uma estátua de pedra, já que o frio habitava em seu coração. Pedindo que ela refletisse sobre suas protelações, Verturno livrou-se do disfarce e se mostrou tal como era. Pomona sentiu que seu coração se iluminava e quando ele ia renovar seus apelos, ela o aceitou.


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O mito de Pomona está relacionado à negação dos próprios desejos, quando a pessoa se esquece das próprias necessidades para satisfazer as necessidades dos outros, ainda que se sinta insatisfeita ou sobrecarregada com incumbências alheias. Pomona se incumbia apenas das árvores, dando-lhes vida e cuidando para que florescessem, mas esquecia de si mesma.

As pessoas podem ser solidárias, gentis, prestativas, amigas e companheiras, o que é muito louvável, no entanto, quando isso interfere na realização dos próprios desejos ou quando implica na negligência das próprias necessidades, pode revelar uma vontade de ser se mostrar boa demais apenas para os outros.As pessoas podem agir assim por vários motivos: auto-negação, timidez, submissão, fraqueza, baixa autoestima ou passividade.

A negação dos próprios desejos fazendo tudo pelos outros, é uma forma de se iludir, achando que sendo muito útil aos outros estará sendo amada. Na verdade, a pessoa está em busca de amor, reconhecimento e aprovação que não encontra em si mesma. No entanto, fazer tudo pelos outros atrapalha o desenvolvimento de si mesma e também dos outros.

Saber dizer "não" nos momentos apropriados, pode ser uma forma amorosa de fazer um bem a si mesma e também aos outros. Deixar-se sucumbir facilmente ao desejo alheio, é uma forma de destruir as próprias energias e criatividade, protelando a alegria de viver. Só se doa verdadeiramente, quem primeiro doa a si mesma.

3 comentários:

  1. Meu Deus, que linda reflexão!! Sempre fui apaixonnado por Mitologia Greco-Romana agora estou mais apaixonnado ainda. Ótima reflexão para os nossos dias atuais.

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  2. adorei a reflexão, mas não gostei do mito, o amor dela era as plantas, qual o problema disso? Ela não estava se esquecendo dela, até porque ela ajudava as plantas, para que ela visse sua beleza. E que cara chato, só porque ela não quer ficar com ninguém ela é fria? Nossa isso me deixou com muita raiva.

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Agradeço os seus comentários, críticas e sugestões

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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