quinta-feira, 7 de abril de 2011

Teseu em suas desventuras



Egeu era Rei de Atenas e não tinha descendentes, mas tinha 50 sobrinhos, os palântidas, filhos de seu irmão Palas que esperavam pacientemente sua morte para dividir a Ática entre si. Egeu foi consultar um oráculo que o aconselhou: "Não desate a boca do odre antes de atingir o ponto mais alto da cidade de Atenas". Não conseguindo decifrar o oráculo, resolveu voltar para seu reino.

No caminho para Atenas fez uma parada em Trezena onde reinava Piteu, filho de Pélops, conhecido como um grande
sábio e dotado de poderes divinatórios. Egeu contou a profecia ao amigo, afirmando que nada entendera, mas Piteu de imediato compreendeu seu significado. Piteu tinha uma bela filha, Etra e, depois de embebedar Egeu com vinho, fez a moça se unir a Egeu.

Etra ficou grávida porém, antes de conhecer o filho, Egeu teve de voltar a Atenas pois a situação estava instável devido à ambição dos sobrinhos. Por esse motivo, Egeu pediu a Etra que, se ela desse à luz um menino, só revelasse ao filho quem era seu pai quando ele tivesse forças para pegar a espada e as sandálias que estava deixando escondido sob uma enorme pedra. Depois disso, o filho deveria ir em segredo até Atenas portando a espada de seu pai e calçando suas sandálias, pois os ambiciosos palântidas eram capazes de matá-lo, mas Egeu o reconheceria.

Nasceu um menino que foi chamado de Teseu que cresceu vigoroso e forte como um herói. Aos dezesseis anos seu vigor
físico era tão impressionante que Etra decidiu contar-lhe quem era o pai e o que se esperava dele. Teseu ergueu a enorme pedra, recuperou a espada e as sandálias do pai e dirigiu-se para Atenas. Quando Teseu chegou em Atenas já era conhecido pelos seus feitos, mas o Rei Egeu não sabia que ele era seu filho.

Medéia já estava instalada no palácio real depois que foi expulsa por Jasão do seu reino. Ela sabia da identidade do
herói, mas não contou a Egeu e tentou convencê-lo a matar o forasteiro que poderia ser uma ameaça ao seu reinado. Colocando veneno no vinho, ofereceu ao visitante ilustre. Teseu tirou a espada para seu conforto à mesa, Egeu o reconheceu e evitou sua morte derramando o vinho. Medéia foi expulsa do reino.

Ao tomar conhecimento que seus primos, os cinquenta Palântidas, queriam tirar o trono de seu pai, Teseu se preveniu
contra eles. Os primos se dividiram para fazer uma emboscada, mas Teseu foi avisado pelo arauto chamado Leos e eliminou todos eles e seus aliados. Androgeu, filho do Rei Minos de Creta, era um dos aliados dos Palântidas e também foi morto no conflito.

Depois do conflito, Teseu se exilou por um ano em Trezena mas o Rei Minos rumou para Atenas com sua poderosa
esquadra e derrotou Egeu subjugando os atenienses. A cada 9 anos, 7 rapazes e 7 moças eram enviados para Creta onde eram colocados no labirinto do Minotauro. Porém, quando Teseu retornou a Creta se juntou ao grupo de jovens. Na partida usou velas pretas para navegar e seu pai entregou-lhe um jogo de velas brancas, para usar caso saísse vitorioso na missão.

Ariadne, a linda filha do poderoso Minos apaixonou-se por Teseu e prometeu ajudá-lo a sair do labirinto usando um
novelo de lã. Ariadne ficou à entrada do labirinto e Teseu foi desenrolando os fios enquanto penetrava pelos corredores. Teseu avançou e matou o monstro, retornando ao ponto de partida seguindo o fio que Ariadne segurava. Teseu casou-se com Ariadne tendo ela recebido um presente de Dioniso; um diadema de ouro cinzelado.

No caminho de volta para a
ilha de Naxos Teseu abandonou a jovem Ariadne. Encontrada inconsolável, Dioniso casou-se com ela e tiveram 4 filhos: Toas, Estáfilo, Enópion e Pepareto. Ao se aproximar de Atenas, Teseu esqueceu de trocar as velas negras pelas velas brancas. Quando seu pai avistou o navio pensou que ele havia morrido e atirou-se do penhasco, precipitando-se no mar, que então passou a se chamar Mar Egeu.

Teseu subiu ao trono, mas tornou-se infortunado. Organizou um governo em bases democráticas, reunindo os
habitantes da Ática, fazendo leis sábias e úteis para o povo, mas mais uma vez se ausentou em busca das aventuras que tanto apreciava. Depois de uma luta contra as Amazonas, Teseu teve uma apaixonada ligação com a Amazona Antíope e com ela teve o filho Hipólito. Antíope foi morta durante um ataque a Atenas.

Logo depois, Teseu casou-se com Fedra, a irmã de Ariadne, porém
Fedra se interessou pelo enteado, tendo feito de tudo para realizar a paixão arrebatadora. No entanto, Hipólito a repudiava. Diante da recusa, Fedra se enforcou deixando uma carta relatando a Teseu que havia sido seduzida por seu filho Hipólito. Teseu convencido do relato da esposa morta, expulsou Hipólito de seu reino, lançando sobre ele uma maldição.

Quando Hipólito dirigia sua carruagem pela estrada costeira, do mar veio uma onda gigantesca trazendo um touro-marinho que assustou os cavalos e que fêz lançar Hipólito sobre os rochedos que veio a cair morto. Quando Teseu recebeu o corpo destroçado do rapaz, toda a verdade lhe foi revelada. A partir disso a sorte de Teseu o abandonou.

Em uma de suas aventuras resolveu raptar Helena ainda uma criança e logo em seguida ir ao Hades raptar Perséfone, porque as duas eram de descendência divina. Teseu queria Helena como esposa e Perséfone se casaria com seu amigo Pirítoo. No entanto, os irmãos de Helena conseguiram resgatá-la e Pirítoo ficou preso na cadeira do esquecimento no Hades.

Quando Teseu retornou para Atenas, encontrou a cidade transtornada. Cansado de tanta luta,
sem ter um filho que herdaria o trono, resolveu morar na Ilha de Ciros. Licomedes, o que age como lobo, Rei da ilha de Ciros, sentindo-se ameaçado, resolveu matar o herói, jogando-o de um penhasco.

Mesmo depois de sua morte, a alma de Teseu ajudou aos atenienses na luta contra os persas. Dizem que os
atenienses arrependidos, foram a Ciro buscar suas cinzas e ergueram-lhe um magnífico templo. O episódio de Teseu e do Minotauro pode indicar uma revolução que libertou os atenienses. Escavações realizadas na ilha de Creta, no início do século, revelaram a existência de um grande palácio provido de imensos corredores que lembravam um labirinto.

Também afirmam que existem elementos que comprovam que os reis
de creta usavam, em certas festas e cerimônias religiosas, máscaras representando cabeças de touros. Historiadores relatam que Atenas durante muito tempo esteve dominada pelos reis de Creta, que lhe exigiam pesados tributos. Teseu, o grande herói ateniense, seu nome significa "o homem forte por excelência". Embora não haja registros históricos que provem, Teseu pode ter existido, conforme alguns historiadores que supõem que ele governou Atenas entre 1234 a.C. e 1204.

******************

Teseu é o herói que representa o masculino em permanente conflito com o mundo matriarcal, profundamente consciente do perigo e do apelo do feminino. Ele consome a vida lutando para não ser engolido por esse feminino, que em sua visão é devorador. Toda vez que as qualidades masculinas de iniciativa, assertividade, força e dinamismo estão em conflito com as qualidades femininas de receptividade, intuição, sensibilidade etc., há a sensação de privação de liberdade, dificuldade de exercer o poder pessoal, seja para os homens ou para as mulheres.

No período mais antigo, o sagrado era vivenciado de uma maneira muito forte como o feminino. As deusas do Olimpo: Hera, Deméter, Atena, Ártemis, Afrodite, Persefone e outras, representam cada uma um aspecto dessa força. Quando são consideradas isoladamente, essa força se torna mais branda e não representa riscos. Porém a feminilidade em sua totalidade é demasiadamente assustadora.

O abandono de Ariadne por Teseu na ilha de Naxos simboliza a predisposição para a depressão, para a tristeza, a falta
de energia para reagir, quando se passa por uma situação de abandono ou término de um relacionamento. Mas ao mesmo tempo, é a dissolução das expectativas que se tinha e que podem nos direcionar para um novo relacionamento. Ariadne é a figura feminina que tem iniciativa e por isso é entregue às suas próprias possibilidades.

O mito mostra a necessidade de superar a dependência psíquica do papel feminino submisso que muitas mulheres
assumem, sem que isso corresponda à sua verdadeira personalidade. Só depois da dor da separação é que ela assume um relacionamento onde cada um tenha sua própria alma, que surge na imagem de Dioniso.

Ele já havia aparecido na vida
de Ariadne muito antes quando lhe deu a coroa luminosa, mas ela não estava pronta para uma relação tão intensa. Algumas vezes se é conduzido a uma relação com alguém como fuga de uma reivindicação interna que é, de certo modo, excessiva para nós. Dioniso é um deus que não explora mulheres, ao contrário é visto como deus das mulheres. Em seus rituais suas servidoras eram do sexo feminino, as mênades; é ainda deus da loucura e do arrebatamento e do erotismo visionário.

É comum chamar Dioniso de "o semelhante à mulher", por ser extremamente habilidoso em levar os homens a constatar sua feminilidade. Seu pai Zeus, o carregou na coxa até seu segundo nascimento, para proteger Dioniso da fúria de Hera e Dionísio foi educado como menina.

A história psicológica de Ariadne é complexa. Sua mãe Pasífae copula com um touro de onde nasce seu meio irmão
Minotauro; sua irmã Fedra, casa-se mais tarde com Teseu, herói pelo qual Ariadne foi apaixonada mas vivencia uma tragédia. Estas experiências levam Ariadne a fazer uma integração psíquica com todos os componentes de sua personalidade, sentimentos e fantasias negativas representadas pelo Minotauro, tornando-se uma heroína íntegra e por isso sendo capaz de atrair uma figura como Dioniso.

Dioniso tem uma irracionalidade que serve de veículo de contato com a sombra da natureza humana, apresenta-se de forma alegre e generosa e ao mesmo tempo repulsiva e tenebrosa, é aclamado como doador de inumeráveis dons e temido como devorador e esquartejador de homens.

Ao mesmo tempo que é conhecido como o deus do frenesi e do
êxtase, é capaz de proporcionar sossego e quietude. É um deus da comédia e da tragédia, um produto de opostos complexos e a união dos opostos. É símbolo da criatividade, das soluções geradas pela junção de partes diferentes da psique que se integram e iluminam a vida com novos pensamentos, novas percepções e novas oportunidades.

Dioniso representa os traumas de parto, os traumas infantis, todos os medos que nos paralisam na tenra idade; sua
infância é muito sofrida e até assustadora. Ele enlouquece os homens e os liberta desta loucura, simbolizando o movimento psíquico entre as crises e conflitos, para depois restabelecer o equilíbrio com algo de novo, uma nova consciência, um renascimento psíquico. Dioniso faz a conexão entre corpo e alma, levando o corpo sentir tanto as fortes emoções, como a intimidade sutil de sentimentos delicados.

Dioníso é um deus da umidade, da quebra de fronteiras, aquele que aceita a depressão, vivencia a
alegria e experimenta a sexualidade como um sacramento. A união de Ariadne e Dioniso, representa a transposição da dor da perda, a capacidade de enxergar algo além, de decodificar o que pode simbolizar o sofrimento e conquistar o poder transformador que há em cada um de nós.

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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