Faetonte era o filho de Hélios e da ninfa Climene, que prometeu à ninfa quando nasceu Faetonte jamais recusar um pedido de seu filho e lhe confidenciou o caminho para chegar ao seu palácio. Faetonte crescia e os amigos duvidavam de que o resplandecente Helios fosse seu pai, e até ele mesmo tinha dúvidas. Por isso certo dia foi procurá-lo.
O palácio de Helios era um lugar fulgurante. Tinha o brilho do ouro, o lampejo do marfim e a cintilação das jóias. Por dentro e por fora, tudo era resplendor e luminescência. Ali era sempre meio-dia, e a penumbra sombria nunca vinha turvar a claridade. A escuridão e a noite eram ali desconhecidas. Atravessando as portas que conduziam à sala do trono, onde estava o deus Helios, envolto por um brilho resplandecente e ofuscante, Faetonte parou.
Nada escapa aos olhos do deus Sol, que imediatamente se deu conta da presença do jovem. Faetonte lhe disse que o motivo da sua viagem. Enquanto Faetonte observava o brilho de Helios percorrendo os caminhos do Céu, com sentimento misto de respeito e admiração, punha-se a imaginar como seria estar também naquele carro, dirigindo os corcéis ao longo daquela vertiginosa trajetória com a finalidade de levar a luz ao mundo. Assim, desejava concretizar seu sonho de, por apenas um dia, estar no lugar de seu pai.
Helios não poderia concordar mas devido à promessa que fizera no nascimento de Faetonte, teve de concordar, embora jamais tivesse imaginado do desejo imprudente do filho. E devido à insistência do filho, Helios concordou porém lhe fazendo inúmeras advertências:
- " És filho meu filho mas és um mortal e a nenhum mortal é dado os poderes dos deuses. Porém reflete sobre a trajetória a seguir. Subindo a partir do mar, o caminho é tão íngreme que os cavalos mal conseguem avançar, por mais descansados que estejam pela manhã. Ao chegar à metade do percurso, a altura é tão vertiginosa que nem eu mesmo gosto de olhar para baixo.
Mas muito pior é a descida, quando esta se precipita e os deuses do mar admiram quando me lanço abaixo. Guiar os cavalos é também uma luta infindável. Sua natureza de fogo vai tornando-os mais impetuosos à medida que sobem, e só com muita dificuldade consigo mantê-los sob meu controle. O que não fariam eles contigo? Deves imaginar que lá em cima existem todas as espécies de maravilhas, cidades divinas cheias de coisas belas, mas nada disso existe.
Terás de passar por feras e terríveis animais de rapina; é o que verás. O Touro, o Leão, o Escorpião, o grande Câncer, todos eles tentarão fazer-te algum mal, e não duvides por um só instante que assim será. Olha ao teu redor e vê quantas coisas belas existem no mundo. Escolhe uma que seja o mais profundo desejo de teu coração, e ela será tua. Se desejas uma prova de que sou teu pai, que prova melhor posso dar-te do que meus receios pela tua vida?
Porém, para o jovem Faetonte, toda a sabedoria da conversa não surtiu efeito. Ele apenas conseguia visualizar a perspectiva gloriosa de guiar orgulhosamente aqueles córceis que nem mesmo seu pai conseguia controlar. Sem se importar com os perigos que seu pai lhe descrevera, e sem nenhuma dúvida, Faetonte se preparava para partir. Seu pai viu que todas as tentativas de persuadi-lo a desistir da louca aventura eram inúteis.
As portas do leste já atingiam seu brilho purpúreo e a Aurora já vinha abrindo o seu caminho cheio de luz rósea. As estrelas já começavam a abandonar o céu e a última estrela da manhã já partia. As guardiãs do Olimpo, as estações do ano, estavam preparadas para abrir as portas e os cavalos estavam preparados. Com grande júbilo e orgulho, Faetonte partiu. Tinha feito sua escolha, e só lhe restava agora arcar com as consequências. Não desejava mudar nada naquela primeira corrida magnífica pelos ares.
O próprio Vento Leste foi ultrapassado; as velozes patas dos cavalos passavam pelas nuvens baixas, mais próximas do oceano, como se estivessem atravessando uma fina névoa marítima, e depois se elevavam rumo aos ares translúcidos das grandes alturas do Céu. Durante alguns momentos de puro êxtase, Faetonte sentiu-se o próprio senhor do firmamento.
Subitamente, algo se modificou. O carro oscilava de um lado a outro; a velocidade aumentava e Faetonte percebeu que tinha perdido o controle. Os cavalos sairam do caminho habitual e se lançavam para todos os lados. Ele já não sabia como controlá-los, e na corrida louca e avassaladora, os cavalos mergulharam e incendiaram o mundo. Montanhas e florestas foram sendo consumidas pelas chamas; as fontes evaporavam e os rios se tornavam apenas regatos. O Rio Nilo fugiu e escondeu sua nascente, que ainda hoje permanece escondida.
Faetonte foi envolvido num calor infernal e ele apenas queria que tudo aquilo terminasse para aliviar seu tormento e terror. A Mãe Terra lançou um grito que ecoou junto aos deuses e a salvação do mundo dependia de uma rápida ação. Zeus lançou um raio contra o imprudente condutor arrependido e Faetonte caiu morto. O carro foi destroçado e os cavalos enlouquecidos foram lançados nas profundezas do mar. O misterioso rio Eridano, nunca visto por qualquer mortal, recebeu o corpo de Faetonte extinguindo o fogo.
As Helíades, suas irmãs, vieram chorá-lo e foram transformadas em álamos junto às margens do rio Eridano, onde pesarosas vertem lágrimas eternas no leito do rio. E cada uma delas, ao cair, cintila em suas águas como reluzente gota de âmbar. As Náiades, com pena de vê-lo morrer tão jovem e cheio de coragem, sepultaram-no e gravaram em seu túmulo: " Aqui jaz Faetonte; grande foi sua queda, grande foi o seu fracasso, grande foi sua tolice e grande foi seu castigo; porém grande foi sua ousadia e sua glória, de sua altura foram maior os seus sonhos!..
Aquele que conduz o carro representa tanto a natureza espiritual do homem quanto a sua natureza material. O carro e seu condutor representam o corpo como veículo da alma em experiência; ele transporta esta alma pelo tempo que dura uma encarnação. O carro de fogo é um símbolo universal do carro alado da alma, a representação do ego, o veículo que possibilita a expressão do Self individual, que transporta a psique em sua experiência humana.
No aspecto material, representa o desejo da posse e do controle dos bens materiais, seu instinto de conservação e de destruição. No plano espiritual, representa a busca do controle dos instintos e das paixões desenfreadas. O carro e seu condutor representam o homem e a forma como ele lida com a realidade, o seu maior grau de consciência ou de inconsciência.
“In medio est vistus” - a virtude está no meio. O caminho do meio é uma expressão usada desde os antigos e sugere evitar os extremos. Os gregos ensinavam a prudência e a moderação como um estado de espírito saudável. O oposto dessa virtude era o orgulho, a vaidade e o desejo de onipotência. Nada em excesso, recomendavam os mestres ao contar histórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos.
O que seu pai lhe recomendara é que não podia ir rasteiro na terra, nem levantar altos voos no céu. O conselho final foi “Voa no meio e correrás seguro”. Porém Faetonte não percebeu que sua força era limitada. Embora fosse apenas um mortal, ele quis se igualar à divindade dos deuses e se tornou vítima de sua própria vaidade.
O palácio de Helios era um lugar fulgurante. Tinha o brilho do ouro, o lampejo do marfim e a cintilação das jóias. Por dentro e por fora, tudo era resplendor e luminescência. Ali era sempre meio-dia, e a penumbra sombria nunca vinha turvar a claridade. A escuridão e a noite eram ali desconhecidas. Atravessando as portas que conduziam à sala do trono, onde estava o deus Helios, envolto por um brilho resplandecente e ofuscante, Faetonte parou.
Nada escapa aos olhos do deus Sol, que imediatamente se deu conta da presença do jovem. Faetonte lhe disse que o motivo da sua viagem. Enquanto Faetonte observava o brilho de Helios percorrendo os caminhos do Céu, com sentimento misto de respeito e admiração, punha-se a imaginar como seria estar também naquele carro, dirigindo os corcéis ao longo daquela vertiginosa trajetória com a finalidade de levar a luz ao mundo. Assim, desejava concretizar seu sonho de, por apenas um dia, estar no lugar de seu pai.
Helios não poderia concordar mas devido à promessa que fizera no nascimento de Faetonte, teve de concordar, embora jamais tivesse imaginado do desejo imprudente do filho. E devido à insistência do filho, Helios concordou porém lhe fazendo inúmeras advertências:
- " És filho meu filho mas és um mortal e a nenhum mortal é dado os poderes dos deuses. Porém reflete sobre a trajetória a seguir. Subindo a partir do mar, o caminho é tão íngreme que os cavalos mal conseguem avançar, por mais descansados que estejam pela manhã. Ao chegar à metade do percurso, a altura é tão vertiginosa que nem eu mesmo gosto de olhar para baixo.
Mas muito pior é a descida, quando esta se precipita e os deuses do mar admiram quando me lanço abaixo. Guiar os cavalos é também uma luta infindável. Sua natureza de fogo vai tornando-os mais impetuosos à medida que sobem, e só com muita dificuldade consigo mantê-los sob meu controle. O que não fariam eles contigo? Deves imaginar que lá em cima existem todas as espécies de maravilhas, cidades divinas cheias de coisas belas, mas nada disso existe.
Terás de passar por feras e terríveis animais de rapina; é o que verás. O Touro, o Leão, o Escorpião, o grande Câncer, todos eles tentarão fazer-te algum mal, e não duvides por um só instante que assim será. Olha ao teu redor e vê quantas coisas belas existem no mundo. Escolhe uma que seja o mais profundo desejo de teu coração, e ela será tua. Se desejas uma prova de que sou teu pai, que prova melhor posso dar-te do que meus receios pela tua vida?
Porém, para o jovem Faetonte, toda a sabedoria da conversa não surtiu efeito. Ele apenas conseguia visualizar a perspectiva gloriosa de guiar orgulhosamente aqueles córceis que nem mesmo seu pai conseguia controlar. Sem se importar com os perigos que seu pai lhe descrevera, e sem nenhuma dúvida, Faetonte se preparava para partir. Seu pai viu que todas as tentativas de persuadi-lo a desistir da louca aventura eram inúteis.
As portas do leste já atingiam seu brilho purpúreo e a Aurora já vinha abrindo o seu caminho cheio de luz rósea. As estrelas já começavam a abandonar o céu e a última estrela da manhã já partia. As guardiãs do Olimpo, as estações do ano, estavam preparadas para abrir as portas e os cavalos estavam preparados. Com grande júbilo e orgulho, Faetonte partiu. Tinha feito sua escolha, e só lhe restava agora arcar com as consequências. Não desejava mudar nada naquela primeira corrida magnífica pelos ares.
O próprio Vento Leste foi ultrapassado; as velozes patas dos cavalos passavam pelas nuvens baixas, mais próximas do oceano, como se estivessem atravessando uma fina névoa marítima, e depois se elevavam rumo aos ares translúcidos das grandes alturas do Céu. Durante alguns momentos de puro êxtase, Faetonte sentiu-se o próprio senhor do firmamento.
Subitamente, algo se modificou. O carro oscilava de um lado a outro; a velocidade aumentava e Faetonte percebeu que tinha perdido o controle. Os cavalos sairam do caminho habitual e se lançavam para todos os lados. Ele já não sabia como controlá-los, e na corrida louca e avassaladora, os cavalos mergulharam e incendiaram o mundo. Montanhas e florestas foram sendo consumidas pelas chamas; as fontes evaporavam e os rios se tornavam apenas regatos. O Rio Nilo fugiu e escondeu sua nascente, que ainda hoje permanece escondida.
Faetonte foi envolvido num calor infernal e ele apenas queria que tudo aquilo terminasse para aliviar seu tormento e terror. A Mãe Terra lançou um grito que ecoou junto aos deuses e a salvação do mundo dependia de uma rápida ação. Zeus lançou um raio contra o imprudente condutor arrependido e Faetonte caiu morto. O carro foi destroçado e os cavalos enlouquecidos foram lançados nas profundezas do mar. O misterioso rio Eridano, nunca visto por qualquer mortal, recebeu o corpo de Faetonte extinguindo o fogo.
As Helíades, suas irmãs, vieram chorá-lo e foram transformadas em álamos junto às margens do rio Eridano, onde pesarosas vertem lágrimas eternas no leito do rio. E cada uma delas, ao cair, cintila em suas águas como reluzente gota de âmbar. As Náiades, com pena de vê-lo morrer tão jovem e cheio de coragem, sepultaram-no e gravaram em seu túmulo: " Aqui jaz Faetonte; grande foi sua queda, grande foi o seu fracasso, grande foi sua tolice e grande foi seu castigo; porém grande foi sua ousadia e sua glória, de sua altura foram maior os seus sonhos!..
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O mito de Faetonte representa a virtude. Conduzir um carro é a representação simbólica da capacidade do ego de usar suas potencialidades e habilidades e ter sob controle os seus impulsos, desejos e vontades. Saber conduzir um carro é saber lidar com a noção de tempo e espaço, que são os princípios básicos que definem a condição humana; somos mortais submetidos à experiência terrena que não dura para sempre.Aquele que conduz o carro representa tanto a natureza espiritual do homem quanto a sua natureza material. O carro e seu condutor representam o corpo como veículo da alma em experiência; ele transporta esta alma pelo tempo que dura uma encarnação. O carro de fogo é um símbolo universal do carro alado da alma, a representação do ego, o veículo que possibilita a expressão do Self individual, que transporta a psique em sua experiência humana.
No aspecto material, representa o desejo da posse e do controle dos bens materiais, seu instinto de conservação e de destruição. No plano espiritual, representa a busca do controle dos instintos e das paixões desenfreadas. O carro e seu condutor representam o homem e a forma como ele lida com a realidade, o seu maior grau de consciência ou de inconsciência.
“In medio est vistus” - a virtude está no meio. O caminho do meio é uma expressão usada desde os antigos e sugere evitar os extremos. Os gregos ensinavam a prudência e a moderação como um estado de espírito saudável. O oposto dessa virtude era o orgulho, a vaidade e o desejo de onipotência. Nada em excesso, recomendavam os mestres ao contar histórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos.
O que seu pai lhe recomendara é que não podia ir rasteiro na terra, nem levantar altos voos no céu. O conselho final foi “Voa no meio e correrás seguro”. Porém Faetonte não percebeu que sua força era limitada. Embora fosse apenas um mortal, ele quis se igualar à divindade dos deuses e se tornou vítima de sua própria vaidade.
Perfeito... Achei seu canal agora, muito bacana, parabéns!!!
ResponderExcluirTem que estar mais atenta as pontuações das sentenças. No terceiro parágrafo: " Faetonte lhe disse o motivo de sua viagem ". colocou um " QUE " desnecessário, tirando o sentido da sentença. No quinto parágrafo, " És filho meu filho (...) ", não fechou as aspas. A história em si está boa, mas tem que tomar cuidado com as pontuações.
ResponderExcluir" O caminho do meio ", é o conselho do Buda Sidarta Gautama Shakyamuni, século VI a.C.
ResponderExcluirNo início da página, abaixo do título " Mitologia Grega ", no texto introdutório, na palavra SUBTERRÂNEO, o acento é circunflexo e não til. Como escrevi acima, cuidado com a pontuação.
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