quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Hades



As escassas referências a Hades nas lendas gregas, em comparação aos outros grandes deuses, revelam o temor que essa divindade infundia ao povo. Hades era filho de Cronos e de Réia, irmão de Zeus e de Poseidon. Depois que Cronos foi destronado por Zeus, o reino foi dividido, cabendo a Hades, o mundo subterrâneo e das riquezas.

A passagem mitológica mais conhecida envolvendo o deus Hades é quando rapta Perséfone ou Corè, filha da deusa Deméter, e a leva para viver com ele no mundo subterrâneo, tornando-a sua esposa. Hades reinava em companhia da rainha Perséfone, sobre as forças infernais e sobre os mortos. Poucos tinham acesso ao reino de Hades, e o único Deus que tinha permissão para entrar no reino era Hermes, o mensageiro dos deuses, que com seu caduceu dourado, convocava os moribundos para o reino dos mortos. Ele trafegava entre o mundo divino, o mundo humano e o mundo dos mortos.

Como o deus dos infernos era ajudado por outras divindades, Hécate, as Fúrias, as Parcas ou Moiras, as Harpias, Tanatos, o Hipnos e as Górgonas. Era descrito como austero e impiedoso, insensível a preces ou sacrifícios, intimidativo, distante e extremamente temido, pois em seu reino sempre havia lugar para mais uma alma.

Em algum lugar na escuridão do mundo subterrâneo estava localizado seu palácio, representado como um lugar lúgubre, escuro e repleto de portões e de convidados do deus, em meio a campos sombrios e uma paisagem assombrosa. O velho barqueiro Caronte conduzia as almas dos mortos através do sinistro rio de águas paradas Estige, até a entrada do reino, habitado por formas vagas e sombrias, cuja entrada era cuidadosamente guardada por Cérbero, um monstruoso cão de três cabeças e cauda de dragão, que não deixava as almas saírem do reino.

O nome Hades era usado para designar tanto o deus como os seus domínios, um submundo dividido em regiões. Primeiro o Érebo, por onde as pessoas passavam imediatamente após a morte, para serem julgadas, e receber o castigo dos seus crimes ou a recompensa das boas ações. Neste Tribunal, embora supervisionasse o julgamento e a punição dos condenados após a morte, Hades não era um dos juízes e nem torturava pessoalmente os culpados, tarefa que eram incumbidas às Erínias, antes das almas chegarem ao Tártaro.

Hades eram auxiliado por Minos, Éaco e Radamanto. Se as almas fossem condenadas eram atiradas ao Tártaro, a região mais profunda, onde habitavam as almas maléficas que sofreriam pela eternidade. Se absolvidas eram encaminhadas aos Campos Elísios ou Ilha dos Bem Aventurados, onde moravam as almas dos heróis, santos sacerdotes e poetas e onde eram ajudadas por dois deuses: Tânatos, o deus da morte, e Hipnos, o deus do sono.

Em lendas também descreviam Hades como o lugar onde os bons eram recompensados e os maus punidos. Seu nome significa, em grego, o Invisível, e era geralmente representado com o capacete que lhe dava essa faculdade, que ele ganhou dos ciclopes quando participou da luta contra o pai e os titãs.

Com o tempo passou a ser considerado o distribuidor de riqueza, apresentando assim um lado bom, pois era ele quem propiciava o desenvolvimento das sementes e favorecia a produtividade dos campos. Como divindade agrícola, eram-lhe consagrados o narciso e o cipreste e seu nome estava ligado a Ceres e junto com ela celebrava nos Mistérios de Êleusis que eram os ritos comemorativos da fertilidade, das colheitas e das estações.

Invocava-se Hades geralmente por meio de eufemismos, como Clímeno - o Ilustre ou Eubuleu - o que dá bons conselhos. O nome Plutão - o rico ou distribuidor de riqueza - se tornou usual quando os romanos submetem os gregos.


Hades configura a finalização definitiva de um ciclo. Sempre quando mudamos, uma nova atitude ou novas circunstâncias podem ocorrer, e morrendo a postura antiga, jamais retorna à sua forma original. Hades é o símbolo do que experimentamos quando ocorrem uma finalização: o luto e a dor, que são necessários para que possamos iniciar um novo ciclo.

Hades é o estágio intermediário onde somos colocados face-a-face com a nossa irrestibilidade diante da perda, antes de termos a sensação de que algo novo irá começar. E muitas vezes, o que perdemos, pode significar uma alegria: perdemos a liberdade da vida de solteiro quando nos casamos; quando nos tornamos pais, sabemos que iremos perder noites de sono ou sacrificar algum lazer mas teremos as alegrias de um filho nos braços. Porque tais acontecimentos não significam apenas o início de algo novo, mas indicam a morte de um antigo estilo de vida.

As despedidas de solteiro representam bem essa condição, lamentamos a perda de um estado civil ao adquirir uma nova condição de vida. Existe uma condição que ocorre com algumas mulheres; a depressão que acompanha a fase pós-parto.

Esse é o preço que pagamos a Hades em todos os finais antes de um novo começo. E a finalização é tão importante quanto o começo, e assim devem ser sentidos e reconhecidos. Nas finalizações temos de nos despir pois não podemos levar conosco os antigos padrões de comportamento e posturas que nos davam segurança; e darmos início a algo, apesar de nossa insegurança.

Através dos olhos de Hades a vida pode ser encarada como uma contínua morte de todos os dias, que se inicia quando perdemos o conforto do útero materno; assim como a infância dá lugar à adolescência; e a despeito de querermos mantê-la teremos de aceitar que passaremos pela vida adulta e chegaremos à maturidade. E todas as situações, relacionamentos e contratos, tem os seus ciclos, já que o mundo está em constante movimento nas mãos de Hades que nos cobra o tributo, de abandonarmos uma fase para poder seguir em frente.

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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