quinta-feira, 19 de abril de 2012

Diomede, um herói de sua própria história





Diomede, que em grego significa astúcia divina ou aconselhado pelo deuses, foi considerado o segundo herói grego mais valente da Guerra de Tróia tendo sido o melhor amigo de Ulisses. Filho de Tideu e Deipyle, ele foi um dos epígonos e se tornou Rei de Argos sucedendo seu avô materno Adastro.

Sua história tem início quando o Rei Adastro casou suas duas filhas com Tideu e Polinice, por isso Adastro prometeu aos genros ajudá-los a recuperar os tronos que eles haviam perdido. 

Tideu foi um dos escolhidos para a famosa expedição "Sete contra Tebas" que tinha o objetivo de recuperar o trono para Polinice, filho de Édipo. Apesar da profecia de que todos seriam mortos,

O Rei Adastro partiu junto com Tideu, Polinice, o adivinho Anfiaraus, Capaneus, Hippomedon e Parthenopeus. Tideu demonstrou grande bravura vencendo 50 guerreiros numa emboscada.

Em um duelo durante a invasão de Tebas, Tideu matou Melanipo mas também foi ferido. A deusa Atena que o protegia quis dar-lhe a imortalidade, porém desistiu quando, num ato insano, Tideu partiu a cabeça de Melanipo em duas partes e comeu seu cérebro. Diante de tamanha barbaridade, a deusa Atena deixou Tideu morrer.

Todos os companheiros de Tideu também morreram e no funeral dos seus pais, os Epígonos reuniram-se e prometeram que algum dia iriam vencer Tebas e vingar a morte de seus pais. Eles eram: Diomede filho de Tideu, Aegialeus filho de Adastro, Alcmeon e Anfilocus filhos de Anfiaraus, Euríalus, Promachus filho de Phathenopeus, Sthenelus filho de Capaneus, Thersander filho de Polinice e Polidoro filho de Hippomedon.

A Guerra dos Epígonos é lembrada como a expedição mais importante na mitologia grega antes da Guerra de Tróia. Eles eram chamados Epígonos porque eram a geração posterior. Alcmeon, filho do adivinho Anfiraus, tornou-se líder dos Epígonos e profetizou que eles venceriam os tebanos. Reunindo os exércitos das cidades vizinhas, eles partiram para atacar Tebas e foram vitoriosos.

Apesar de ser tão jovem, com apenas 15 anos Diomede foi coroado Rei de Argos tendo sido considerado o mais valente e poderoso de todos os governantes da Hellas. Ele trouxe muita riqueza e estabilidade para a cidade durante o seu reinado e, como um grande governante, se tornou aliado de outros reinos. Por isso foi convidado a juntar-se à coalisão que iria atacar Troia, tendo sido considerado um grande guerreiro que nunca comete a hubris - a arrogância.

Diomede e Ulisses eram os únicos heróis que participavam nas missões noturnas que exigia disciplina, coragem, bravura, astúcia e desenvoltura. E, por sua bravura, era protegido da deusa Athena e também era o único a ter uma armadura feita pelo próprio deus Hefesto. 

Muitos deuses lutavam ao lado dos troianos disfarçados de guerreiros, mas Athena havia concedido a Diomede a capacidade de distinguir deuses e mortais. Numa batalha, Diomede feriu Afrodite - a deusa do amor e Ares - o deus da guerra.

Embora Diomede tenha conseguido ferir dois deuses, ele era a personificação dos tradicionais valores heróicos, não exibia suas virtudes, tinha respeito pelos comandantes e permanecia dentro dos limites mortais, ou seja, tinha humildade e auto-contenção. Porém Diomede raptou o Palladium de Troia - a estátua de Athena - e isso lhe traria muito azar.

 Já no caminho de volta, Ulisses planejou matá-lo para reinvidicar o Palladium. Além disso, Afrodite prometera vingar-se do ataque sofrido na Guerra de Troia. Afrodite tinha plantado a paixão no coração de Aegialéia, fazendo-a interessar-se por vários amantes. 

Ao retornar da guerra, Diomede descobriu que sua esposa tinha sido infiel e pretendia matá-lo. Diomede fugiu para a Itália, mas no meio da viagem Afrodite vingou-se dele transformando seus companheiros em pássaros. Ela só não conseguiu atingir Diomede porque ele tinha sido tornado imortal pela deusa Athena.

Chegando à Itália, Diomede casou-se com Euippe, a filha do rei Daunus, e fundou várias cidades: Tuticum Aequum (Ariano Irpino), Beneventum (Benevento), Brundusium (Brindisi), Canusium (Canosia), Venafrum (Venafro), Salapia, Spina, Garganum (Gargano), Sipus (perto de Santa Maria di Siponto).

Reconhecendo seus erros e desejando viver em paz, Diomedes restituiu o Palladium aos troianos e fundou uma cidade chamada "Afrodisia" para selar a paz com Afrodite. Anos depois, Diomede desapareceu misteriosamente numa das ilhas do Adriático. Os albatrozes vieram para a praia e cantaram diante de sua partida...


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O mito de Diomede esconde inúmeras metáforas que nos servem para reflexão. Na Mitologia Grega os deuses eram temidos pelos mortais, a quem dedicavam obediência irrestrita sob pena de sofrer severos castigos. 
Diomede é relatado como o único mortal que ousou ferir uma divindade do Olimpo. Aliás, ele feriu dois grandes deuses em um mesmo dia. 

Isso nos remete às crenças que nos são incuntidas desde a infância. Quando ousamos questioná-las corremos o risco de ferir profundas questões até então aceitas, tanto por nós quanto pela maioria, como verdades absolutas, sejam elas religiosas, filosóficas ou psicológicas.

Em nossa realidade atual, muitas ideologias que nos são apresentadas como verdades absolutas servem apenas como uma prisão. De maneira inconsciente, ficamos presos a conceitos ou preconceitos até que utilizando nossa consciência crítica ousamos nos libertar, fugindo do senso comum para criar opiniões próprias. É essa ousadia que pode nos tornar herois da nossa própria história, mudando os rumos para uma vida melhor e mais plena.

Um passo a mais em nossa caminhada é o que pode nos colocar mais próximos do que ainda podemos ser. A tentativa de ir além, de fazer algo mais do que fizemos, pode revelar que somos capazes de fazer muito mais do que jamais imaginamos. Quantas vezes desistimos mesmo antes de tentar? Quantas vezes estivemos na iminência de sair da escuridão para alcançar a claridade e não fomos por não acreditar nos impulsos de nossa alma e da nossa intuição?

Quantas vezes tivemos medo de ouvir o nosso próprio coração, sem julgamentos, sem preconceitos, sem limites, sem medo de nos deixar levar pelo prazer de novas descobertas? Felizes são aqueles que não fogem de seus sonhos, do que lhe pede sua voz interior, mesmo diante de muitas impossibilidades. Porque o verdadeiro guerreiro ousa, vai e faz. E assim como Diomede, se for preciso sabe retroceder para corrigir onde errou, sendo capaz de desapegar para se reconstruir e permanecer em paz consigo mesmo e com os outros... 



terça-feira, 17 de abril de 2012

Styx e Zeus, o poder dos aliados





Styx ou Estige personificava o ódio e representava a fronteira entre o céu e o inferno. Comandava o centro do submundo, um grande pântano retratado como um local escuro, triste e sombrio para onde convergiam os rios:
  • Leto - o rio do esquecimento
  • Aqueronte - o rio do infortúnio
  • Cócito - o rio das lamentações
  • Flegetonte - o rio do fogo onde eram imersos os violentos
  • Estige - o rio para onde eram enviados os coléricos e mal humorados para se afogarem nas águas barrentas da eternidade, onde poderiam brigar livremente entre si.
Styx ou Estige tinha poderes milagrosos, podendo tornar invulnerável quem mergulhasse em suas águas. Quando a mãe de Aquiles quis proteger seu filho para que nada de mal lhe acontecesse, ela mergulhou o filho nas águas de Styx ou Estige, exceto o calcanhar por onde sua mãe o segurou. Em consequência, Aquiles morreu quando foi ferido no calcanhar durante a guerra, dando origem à expressão Calcanhar de Aquiles, uma metáfora que designa um ponto vulnerável.

Qualquer promessa não cumprida, Styx ou Estige estaria presente para cobrar. Por isso, todos os juramentos feitos pelos deuses eram feitos à margem de suas águas, sendo obrigados a cumprí-los. Quando Helios prometeu dar a seu filho Faetonte tudo o que ele desejasse, foi obrigado a cumprir sua promessa embora soubesse dos perigos em atender a seus pedidos. Zeus também foi obrigado a cumprir a promessa feita a Sêmele de nunca negar-lhe qualquer desejo, o que resultou em sua morte.

Em tempos antigos, acreditava-se que quando alguém morria deveria atravessar o rio que levaria à entrada do submundo. Para a travessia, havia um pedágio cobrado por Caronte que manejava a balsa. Por isso, colocavam uma moeda na boca do falecido pois se não pagasse, nunca conseguiria atravessar o rio.

Styx era casada com Pallas, o titã associado à guerra. Seus filhos eram Kratos - o poder, Bia - a violência, Zelus - a fúria e Nike - a vitória. Durante a Titanomaquia, quando Zeus declarou guerra aos titãs, Styx e seus filhos foram seus grandes aliados. Porém Pallas decidiu lutar junto aos seus irmãos, os violentos titãs que foram vencidos e lançados ao Tártaro. Depois de 10 anos de muita luta, Zeus saiu triunfante, pois tinha a todo tempo a vitória a seu lado...




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O mito de Styx e Zeus simboliza o poder dos aliados, termo utilizado para designar aqueles que se unem em aliança para lutar por um mesmo objetivo enfrentando juntos todas as dificuldades. 

Na luta para alcançar o sucesso precisamos de determinação, dedicação e esforço, mas também precisamos de bons aliados. Eles são cúmplices dos nossos bons resultados, são parcerias que mesmo contribuindo com uma pequena parcela, somam-se aos nossos esforços.

Numa empresa, nem sempre estaremos trabalhando com pessoas que gostamos ou com as quais temos afinidade. No entanto, precisamos integrar uma equipe se quisermos alcançar o sucesso. 

Logicamente quando estamos junto com quem temos afinidade é bem melhor, mas a capacidade de trabalhar em equipe é uma competência que se adquire. É aprender a trabalhar com pessoas diferentes e com visões diferentes, superando diferenças pessoais.

Trabalhar em equipe significa compartilhar responsabilidades e informações, como também ser participativo e solidário. Significa negociação e argumentação o que implica saber ouvir e ceder diante de razões bem fundamentadas e dados convincentes. É cumprir as incumbências dentro dos prazos.

Quem aprende a trabalhar em equipe, aprende que o resultado do relacionamento profissional depende mais de comprometimento, respeito e cooperação do que de afinidade. Equipes são importantes porque permitem dividir tarefas de acordo com a habilidade de cada um. Somando cooperação, permite agilizar o trabalho e alcançar resultados mais satisfatórios. O sucesso é algo que constrói em equipe.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Hárpias e as paixões arrebatadoras




As Harpias, que significa arrebatadoras, eram criaturas representadas ora como formosas e sedutoras mulheres com longas unhas, ora como terríveis monstros com corpo de ave de rapina, rosto de mulher e seios. 

Elas raptavam o corpo dos mortos para usufruir de seu amor, por isso eram representadas nos túmulos como se estivessem à espera do morto, sobretudo dos jovens para arrebatá-los. Eram crueis e violentas, sendo relacionadas aos ventos destruidores, aos ciclones e às tormentas.
  • Celeno, considerada a mais malvada de todas, era também chamada de Podarge. Seu nome em grego significa "a obscura".
  • Aelo era comandava a sujeira e seu nome em grego significa "a borrasca".
  • Ocípite era aquela que atacava e seu nome significa em grego "a rápida no vôo".
Por onde passavam, as hárpias causavam a fome arrebatando a comida das mesas e espalhando um cheiro pestilento que ninguém conseguia retornar por onde elas tivessem passado. 

Difundiam a sujeira e doença; era inútil afugentá-las pois elas voltavam sempre. Hades, o deus do inferno, contava com a ajuda delas para levar-lhe os mortos. Zeus e Hera serviam-se delas para punir aqueles que os contrariassem.

Com a queda de Troia, Afrodite aconselhou seu filho Eneias a deixar a cidade levando sua família, pois lhe estaria reservado o destino de fazer reviver a glória troiana em outras terras. No entanto, Hera ainda não havia esquecido das tramas de Afrodite que levou à destruição de Troia. 

Quando Enéias e seus companheiros viajavam em busca de novas terras, ao pararem na Ilha das Hárpias eles mataram alguns novilhos. As Hárpias iniciaram um terrível ataque roubando-lhes as carne e os amaldiçoaram lançando-lhes terríveis profecias.

As hárpias também foram enviadas por Zeus para punir o Rei Phineu. Ele havia recebido de Apolo o dom da profecia com a recomendação de que jamais deveria revelar os segredos dos deuses do Olimpo. No entanto Phineu ignorou a recomendação e como castigo Zeus tirou-lhe a visão e enviou as Harpias para perseguí-lo.

Quando Phineu e seu reino estavam prestes a morrer de fome, os Argonautas chegaram e expulsaram as Harpias libertando-os do tormento que elas causavam. Como elas eram imortais, foram combatidas principalmente por Zetes e Calais, os filhos do vento. Diante de suas forças, elas fugiram e se refugiaram na Ilha de Creta prometendo não mais atormentar Phineu.




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O mito das harpias pode ser relacionado ao comportamento compulsivo e às paixões obsessivas. Por onde passam deixam um rastro de destruição. As compulsões são hábitos adquiridos para aliviar uma ansiedade ou necessidade de gratificação emocional, levando a um esforço frequente e excessivo para proporcionar um prazer imediato e passageiro ou aliviar um desprazer. Logo depois vem o remorso por não ter resistido ao impulso de realizá-lo, mas mesmo assim se torna repetitivo.

Não há uma causa para a ocorrência de comportamentos compulsivos. Pode-se dizer que seja uma predisposição devido a hábitos aprendidos na infância ou vivências do passado. Importante é perceber os danos físicos, psicológicos e sociais que tal comportamento provoca.

As compulsões se manifestam nas pessoas que compram compulsivamente, ainda que não tenham condições de pagar ou naquelas que comem compulsivamente mesmo sem ter fome. 

Outros praticam exercícios físicos em excesso e se preocupam excessivamente com peso ou com o corpo etc. Há diversas outras manifestações e com a repetição, a pessoa torna-se dependente dessas atitudes e até sente desconforto quando não age assim.

Alguns buscam o alívio do desprazer das emoções de angústia e ansiedade, do afastamento de pensamentos incômodos. Essa busca pode levar ao consumo exagerado de drogas. Muitas vezes, as pessoas privadas de suas atitudes compulsivas podem apresentar os mesmos sintomas provocados pela abstinência de drogas: tremores, sudorese, taquicardia etc.


Os compradores compulsivos se tornam viciados e dependentes das compras; precisam comprar sem limites para se sentir bem naquele momento mesmo que se arrependa depois. A pessoa compra não pela necessidade do objeto mas pelo impulso de comprar. Perdendo a noção de realidade, com o tempo perde o controle e comete verdadeiras loucuras.

O jogador compulsivo não analisa se vai ganhar ou perder, ele quer ação. Ele vive planejando as jogadas e na sua busca por ação, faz apostas cada vez maiores para continuar produzindo excitação.

Está sempre na expectativa de ganhar e essa sensação acaba por tornar-se a sua única fonte de prazer. Em consequência, ele encontra dificuldade de parar de jogar compulsivamente, gastando o que tem e o que não tem, perdendo a noção da realidade.

Aqueles que se submetem excessivamente aos padrões de beleza, agem compulsivamente levando à obssessão pela perfeição ou beleza física. A pessoa inicia um complexo de estar em desacordo com os padrões desejáveis o que pode levar a um excesso de exercícios resultando em prejuízos à saúde. A obssessão por um corpo malhado e sarado pode levar até mesmo à ingestão de substâncias para aumentar a massa muscular ou emagrecer.

Do outro lado, estão os transtornos alimentares. Existem aqueles que comem compulsivamente, mesmo sem ter fome. São pessoas que não conseguem resistir ao vício de comer e o que deveria ser um prazer torna-se uma angústia. Na preocupação com a estética e perfeição do corpo, podem terminar por desenvolver bulimia ou anorexia porque distorcem a realidade ao ver-se no espelho.

Outro tipo é o trabalhador compulsivo. Embora o esforço no trabalho possa levar ao sucesso profissional e à realização financeira, alguns desenvolvem uma compulsão pelo trabalho de forma a ocupar o espaço de sentimentos e pensamentos difíceis de serem vivenciados, tais como problemas familiares e conjugais. 

E ainda que sofra com sua situação, o workaholic usa o trabalho como um escudo e termina por restringir sua vida no trabalho, sem tempo para distrair. Consequentemente, a pessoa se torna severa, isolada, inflexível, perfeccionista, amarga, exageradamente realista e de difícil convivência.

Mas um dos comportamentos mais perversos talvez seja a do conquistador compulsivo, que sofre da Síndrome de Dom Juan, o lendário sedutor do século 17 que teve mais de mil mulheres sem amar nenhuma. 

Essa compulsão por sedução, que pode se manifestar tanto em homens como em mulheres, leva em conta a atração fugaz, o envolvimento sexual fácil mas fracassa no envolvimento emocional, determinando relacionamentos íntimos pouco duradouros.

A pessoa com essa síndrome é excessivamente sedutora. Embora suas conquistas sejam muito mais eficientes com pessoas carentes de afeto, com uma baixa autoestima, ingênuas, sugestionáveis e influenciáveis, em geral os sedutores compulsivos tem como alvo as pessoas consideradas difíceis ou proibidas, tal como pessoas casadas ou comprometidas, mais velhas ou muito mais novas, ou que por algum motivo represente um desafio, um relacionamento perigoso ou impossível.

Sendo um comportamento mais proeminente nos homens, o conquistador compulsivo é o tipo de propaganda enganosa: simula romantismo, diz exatamente o que a mulher quer ouvir, dispensa-lhe toda sua atenção como se não existisse mais ninguém no mundo.

Quem já conheceu um, conheceu todos. Esse é um tipo tão maravilhoso que parece bom demais para ser verdade e pode acreditar, não é verdade mesmo. A ideia é iludir e levar a mulher a acreditar que encontrou um homem diferente dos outros. 

Ele é capaz de insistir por meses até conseguir o que quer e quando consegue seduzir, que não precisa necessariamente envolver sexo, ele perde o interesse, desaparece e até troca de celular para não ser encontrado. 

O tipo sedutor retira prazer e satisfação apenas do processo de conquista, que lhe provoca excitação e sensação de euforia por um breve período de tempo. Como um dependente químico, está sempre precisando de uma nova dose para se manter ligado, tem necessidade de seduzir.

Pode até parecer inabalável, mas sofre por ser como é. Nunca terá a certeza de que é feliz precisando repetir seu ritual indefinidamente. Depois de alguns anos, percebe que não conseguiu construir nada. Se serve como vingança, o futuro do devorador de mulheres costuma ser a solidão...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Dejanira, remorso e o sentimento de culpa




Dejanira era filha de Eneu, lendário rei de Calidon que se tornou muito solitário após a morte de sua esposa e de seu filho Meleagro. Por isso pretendia casar sua filha e ter muitos netos, tendo prometido que concederia sua filha em casamento com aquele que provasse ser o mais forte durante uma competição.

Hércules retornava de uma vitoriosa expedição e querendo esquecer a traição de sua ex-esposa Mégara, entrou na competição. Hércules lutou com vários concorrentes e venceu a todos eles. Conforme prometido, Hércules casou-se com Dejanira e foi feliz durante vários anos.

Em viagem junto com Dejanira, Hércules chegou às margens do rio Eveno cujas correntezas eram muito fortes. Ali o centauro Nesso se oferecia para atravessar as pessoas no rio montadas em seu dorso. Nesso se ofereceu para levar Dejanira até a outra margem e depois retornaria para buscar Hércules. Confiando em Nesso, Hércules colocou sua mulher sobre o dorso do centauro que imediatamente iniciou a perigosa travessia.

Ao chegar na outra margem do rio, o centauro tentou fugir com Dejanira atendendo ao pedido de Hera, a esposa de Zeus que odiava Hércules - o filho bastardo do marido. Ao ver o centauro em fuga com sua mulher, Hércules disparou suas flechas envenenadas com o sangue da Hidra de Lerna e feriu Nesso.

Ferido e agonizante, o centauro disse a Dejanira que recolhesse um pouco de seu sangue e guardasse. Caso algum dia Hércules se interessasse por outra mulher, ela deveria impregnar uma túnica com aquele sangue e mandar Hércules vesti-la. Assim, ele voltaria para ela. Hércules atravessou o rio nadando e quando chegou à outra margem, Dejanira nada comentou sobre os conselhos do centauro Nesso.

Algum tempo depois Hércules lembrou-se de cobrar uma promessa do Rei Euritos e buscou a princesa Iole pretendendo casá-la com seu filho Hilo. O rapto de Iole foi um erro de funestas consequências, pois Dejanira imaginou que o marido queria substituí-la pela jovem.

Lembrando-se das recomendações do centauro Nesso, Dejanira deu a Hércules uma túnica impregnada com o sangue do centauro que havia morrido envenenado pelas flechas de Hércules. Ao vestir a túnica, Hércules foi tomado de uma grande agonia. Sentindo que ia morrer, Hércules deu seu arco e flecha para seu amigo Filoctete revelando-lhe o poder mortal de suas armas.

Sendo um fiel amigo de Hércules, Filoctete construiu uma pira, colocou o corpo de Hércules sobre ela e dedicou ao grande heroi todas as honras fúnebres. Quando o fogo baixou, a fumaça não formava mais que um tênue véu. 

Todos se espantaram ao ver que não sobrara sequer cinzas de Hércules. Filoctete convenceu-se que Zeus tinha elevado Hércules para junto dos imortais. Dejanira compreendeu o grande mal fizera ao marido e morreu de pesar. No entanto, o grande e poderoso heroi tinha partido para sempre...



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O mito de Dejanira envolve duas questões básicas que nos servem para reflexão: o remorso e o sentimento de culpa. Todos nós estamos sujeitos a dizer ou fazer algo que pode ter consequências trágicas e destrutivas, seja para os outros quanto para nós mesmos. 

Mesmo que seja um ato surgido num momento de raiva, desespero, ciúmes, inveja ou num estado de embrigues, não podemos negar que somos culpados. Uma pessoa que sente culpa logo se condena, sente remorso e se sente indigna de ser feliz. 

Reconhecer um erro é salutar porém destruir-se por causa dele é apenas outro êrro. O arrependimento por um mal causado a alguém só se torna real quando é reparado e não apenas lamentado. Arrepender não apaga o que foi feito, mas a reparação se torna construtiva.

Embora não seja uma regra geral, faz parte da vida aprender através de experiências dolorosas desde que elas nos sirvam como lições para o desenvolvimento pessoal. 

Apesar da crença comum em contrário, a experiência da culpa não é totalmente negativa, improdutiva e destrutiva. Da culpa podemos aprender a enfrentar a vida por outra perspectiva.

Nada é permanente, tudo muda, tudo pode ser mudado. A vida é uma sucessão mudanças. Quando adotamos uma nova postura, olhamos para as infinitas possibilidades e conquistas que estão à nossa espera que podem determinar um novo rumo de vida. 

Rever nossas escolhas e ações deve servir para nos autotransformarmos e nos tornarmos melhores. Quando mudamos os nossos pensamentos, muda o nosso modo de olhar o mundo e, em consequência, o mundo à nossa volta muda também.


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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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