quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Afrodite e Adonis, a dor da separação






A figura de Adônis é relacionada desde a antiguidade clássica, ao modelo de beleza masculina. Adon significa Senhor em fenício e foi na Grécia Antiga que sua lenda adquiriu maior significação.

O nascimento de Adônis foi fruto de relações incestuosas entre Smirna ou Mirra e seu pai Téias, rei da Assíria, que enganado pela filha, com ela se deitou 12 vezes. Quando percebeu a trama, Téias quis matá-la e Mirra pediu ajuda aos deuses que a transformaram em uma árvore, a Mirra. Da casca dessa árvore nasceu Adônis.

Maravilhada com a extraordinária beleza do menino, Afrodite tomou-o sob sua proteção e o entregou a Perséfone, deusa dos infernos, para que o criasse. Quando Adônis cresceu, as deusas passaram a disputar a companhia do menino. 

Ao julgar a questão, Zeus estipulou que ele passaria um terço do ano com cada uma delas, mas Adônis preferia Afrodite e permanecia sempre com ela. Brincando com seu filho, Afrodite se feriu com uma das flechas do amor de Eros. Antes que pudesse curar-se, Afrodite se apaixonou por Adônis. 

Ela passava o tempo todo com Adônis e quando ele saia para caçar, Afrodite recomendava: 

  • - "Sê bravo com os tímidos, pois a coragem contra os corajosos não é segura. Evita expor-te ao perigo para não ameaçar a minha felicidade. 
  • Não ataque os animais que a natureza armou. Não aprecio tua glória ao ponto de consentir que a conquiste expondo-te assim. 
  • Tua juventude e a beleza que me encantam, não enternecerão os corações dos leões e dos rudes javalis. Pensa em suas terríveis garras e em sua prodigiosa força. "

Logo depois Afrodite tomou seu carro puxado por cisnes e partiu através dos ares. Adônis, porém, era demasiadamente altivo para seguir tais conselhos. Imediatamente seus cães expulsaram um javali de seu covil e o jovem lançou seu dardo, ferindo o animal. 

Mas a fera não se amedrontou e investiu contra Adônis, que em vão tentava correr. Por fim, o javali o alcançou cravando-lhe os dentes, deixando-o estendido e moribundo.

Afrodite ouviu os gemidos de seu amado e voltou à terra com seus corcéis de brancas asas. Do alto viu o corpo sem vida de Adônis, coberto de sangue. Curvando-se sobre ele, esmurrou o peito e acusou as Parcas:

  •  " Sua ação constituiu um triunfo parcial. A memória de meu sofrimento perdurará, e o espetáculo de tua morte e de tuas lamentações, anualmente será renovado em memória de Adônis. Teu sangue será transformado em uma flor; este consolo ninguém pode me negar."

Espalhando néctar sobre o sangue, ao se misturarem, transformaram-se numa lagoa de onde nasceu uma flor cor de sangue, uma flor de vida curta. Dizem que o vento lhe abre os botões e depois arranca e dispersa as pétalas; assim é a Anêmona chamada de flor-do-vento, pois o vento é a causa tanto de seu nascimento como de sua morte. 

Sem poder conter a tristeza causada pela perda do amante, Afrodite instituiu uma cerimônia de celebração anual para lembrar sua trágica e prematura morte. Entre rosas e jacintos, muitas vezes repousa o jovem Adônis. Amortecida a dor, a seu lado jaz a triste rainha dos assírios...



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O mito de Adônis se relaciona com os ritos simbólicos da vegetação, simbolizando a morte da planta nas entranhas da terra e sua germinação simbolizando a vida. 

Adônis é considerado como o ciclo da semente que morre e ressuscita. A própria Afrodite teria instituído uma celebração anual na Síria para perpetuar a memória do seu amor oriental e a morte de Adônis era solenemente comemorada.

Os festivais anuais ocorriam em cidades egípcias e gregas. Durante os rituais fúnebres, as mulheres plantavam sementes de flores e regavam com água morna, para que crescessem mais depressa. Isso fazia com que as roseiras dessem flores rapidamente, mas rapidamente feneciam. Eram os chamados Jardins de Adônis e relembram que devemos aproveitar o momento presente, pois a vida é efêmera como a flor quando é colhida.



Dor da separação


A história de Adônis e Afrodite retrata o amor marcado pela dor da separação. Quando passamos pela experiência de uma separação, a dor se instala e torna difícil manter o equilibrio e a serenidade. 

Perdemos as forças para fazer algo por nós mesmos, nada nos faz sentir melhor, como se houvesse uma culpa oculta pelos próprios sentimentos. Há uma mistura de sentimentos: culpa, abandono, raiva, medo, rancor, tristeza, frustração, impotência, dor, solidão, sem sabermos o que fazer com cada um deles.

Alguns tendem a negar os próprios sentimentos, evitando demonstrar seus sentimentos e, no entanto sofrem, porque o abandono é a morte dos sonhos a dois. 

Negar o que sente é o caminho menos indicado, pois os sentimentos podem buscar outras formas de expressão, em geral atacando o corpo. E, por mais que a dor seja intensa, o melhor caminho é enfrentar tudo o que se sente.

Separar-se de alguém, não é uma fácil tarefa. Ainda que se trate da definição de relacionamentos destrutivos, ainda que não houvesse mais amor, é um momento de dor que atinge a alma que sangra com a certeza de nunca cicatrizar. Há um sentimento de vulnerabilidade e incapacidade, quando as emoções alcançam uma grande intensidade e deixa de existir um espaço para a razão.


O momento da separação muitas vezes leva a um retorno ao passado, buscando a imagem da pessoa pela qual nos apaixonamos. Essa pode ser uma das dificuldades em aceitar a separação, pois há sempre a esperança de que volte a ser a pessoa que um dia conhecemos e idealizamos no passado. 

Tem-se as lembranças dos momentos agradáveis, das promessas de amor eterno, dos projetos feitos a dois. Muito provavelmente os projetos e sonhos só existiam para uma das partes; um sonho solitário marcado pela indiferença do outro.

Às vezes a prisão está apenas nas palavras do que nas atitudes ou falta delas. E o processo de separação visa corrigir exatamente essa falta de compartilhamento. Insistir no que não existe mais, derramar lágrimas pelo que não tem chance, perder noites de sono, não reverte a situação, ao contrário, torna-a mais dolorida.
 

Apesar da perda, dos erros e feridas, podemos e devemos, fazer algo para conseguirmos suportar esse momento tão cruel e que parece não ter fim. Respeitar os próprios sentimentos é o início da cura.

Ainda não existe um manual que ensine a esquecer um grande amor. Mesmo que os amigos aconselhe e recomende para esquecer, não se apaga da mente apenas o que se quer. Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. 

A mente age por conta própria para lembrar. Tenta-se ir ao shopping, ver vitrines, fazer compras mas basta chegar em casa para ir correndo rever fotos e reler cartas antigas. Qualquer música parece feita para atingir sua dor; qualquer livro tem a semelhança do que está vivendo; qualquer paisagem é motivo de lembrança de outras paisagens onde estiveram.

Livrar-se de uma lembrança é um processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o jogo: em vez de tentar não pensar, o melhor é esgotar a dor, permitindo-se recordar, chorar e ter saudade. 

Por mais árduo que o caminho possa parecer, pode se tornar muito mais iluminado, se permitir que sua própria luz te conduza. Um dia a ferida cicatriza e você, tendo se acostumado com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura não sai...





8 comentários:

  1. Amei, sou muito fã desse Blog, espero que vc coloque novas historias sobre a mitologia Bjjs

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  2. Caraca velho ... esse Blog é extraordinário.... muito baum mesmo

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  3. Adorei, o testo ficou muito bom...muito bem colocado cada palavra.Parabéns.

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  4. Adorei, o testo ficou muito bom...muito bem colocado cada palavra.Parabéns.

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  5. Se abrir para amor pode acalmar a dor da separação 😔💔

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Agradeço os seus comentários, críticas e sugestões

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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