Trofônio, filho de Apolo e Epicasta, era um dos mais célebres arquitetos da Antiguidade. Junto com seu padrasto Agamedes, ergueu belíssimas construções tal como o quarto nupcial de Alcmena, mãe de Héracles, e o templo de Posídon na Arcádia. Sabendo disso, Apolo mandou chamar Trofônio e Agamedes e pediu que eles construissem um templo para ele.
Os dois aceitaram o desafio e logo deram início ao projeto criando um templo digno de um deus, com arcadas, abóbadas e muitos arabescos. Depois de algum templo foram mostrar o projeto para Apolo que considerou uma obra magnifica. Imediatamente Trofônio e Agamedes deram início à obra trabalhando com grande dedicação.
Dentro do prazo previsto chamaram Apolo para ver a obra pronta. Apolo ficou maravilhado com a beleza da obra e contemplando a obra perguntou aos construtores qual o preço do serviço que haviam feito. Como eles não tivessem um cálculo do trabalho, Apolo lhes deu uma enorme sacola repleta de moedas de ouro, recomendando-lhes que gastassem tudo nos próximos sete dias realizando tudo o que desejassem; no oitavo dia eles receberiam o pagamento que seria o maior premio que ambos pudessem ambicionar.
Durante os sete dias seguintes, Trofônio e Agamedes fizeram todas as vontades: comeram de todas as iguarias disponíveis, encharcaram-se de vinho, viajaram, compraram roupas e várias coisas para suas casas, dançaram, cantaram e chamaram os melhores sábios para lhes ensinar tudo sobre o universo. No sétimo dia, eles buscaram as mais lindas mulheres e gastaram o restante do que tinham, até a última moeda.
No oitavo dia toda a cidade aguardava Trofônio e Agamedes no templo de Apolo para ver o prêmio maravilhoso que a divindade lhes prometera: o prêmio maior que um mortal poderia aspirar. Porém, como não aparecessem, correram até a casa deles. Ali encontraram os dois deitados, imóveis, dormindo o sono eterno e impertubável, com um sorriso nos lábios. Morreram de tanta felicidade por terem realizado tudo o que desejavam...
O mito de Trofônio nos remete à satisfação de nossos desejos como símbolo de felicidade. Das clássicas proposições filosóficas aos atuais manuais de auto-ajuda, a verdade é que o ser humano ainda não conseguiu dar uma resposta definitiva e satisfatória sobre o que é felicidade e como conseguir ser feliz.
Seguindo o caminho das certezas, as religiões prometem felicidade eterna, tendo como condição a fé religiosa. E assim como a arte e a política, prometem mas não cumprem a aspiração de proporcionar felicidade realista ao ser humano, porque ele está a priori condenado à insatisfação, à angústia e deve se contentar apenas com os momentos de satisfação parcial ou realização ilusória.
Talvez, o ser humano esteja mais próximo da felicidade quando sonha ou elabora projetos de uma vida feliz. É um equívoco pensar que a felicidade está na saciedade - a satisfação total de todas as nossas pretensões. Igualmente equivocada é a ideia de que a felicidade seja bem-aventurança, - uma alegria permanente. Mais equivocado ainda é considerar que a felicidade possa ser a beatitude - uma alegria eterna. Com base em uma hipótese filosófica ou supostamente científica universal, é praticamente impossível conceber um ser humano plenamente feliz.
O ser humano sempre buscou como prioriedade, para si e para todos, a sobrevivência física e depois a realização de alguns projetos representados pelos sonhos, pela arte e os projetos utópicos. Entretanto, o desejo se realiza por meio do disfarce, só assim ele pode ser feliz, porque na dimensão concreta da realidade jamais o ser humano conquistará a felicidade total. A realidade do mundo, dos acontecimentos e dos fatos, sempre frustra a sensação de ser feliz.
A princípio bastaria ter saúde, amor e dinheiro suficiente, o que já seria louvável, no entanto, nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que estejamos sem febre; queremos além de saúde, ser sarados, bonitos e irresistíveis. Não basta termos o dinheiro para pagar o aluguel, a comida e o cinema; queremos uma piscina olímpica, o carro do ano, uma temporada num spa cinco estrelas e ainda mais.
Não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando; queremos um grande amor, estar visceralmente apaixonados, ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, jantar à luz de velas todos os dias, sexo selvagem e diário. Esquecemos de ser felizes de forma realista, queremos sempre mais e mais.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável: fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar que seja eterno. É importante buscar o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-nos desumanamente para alcançar a felicidade plena, até mesmo porque a felicidade total não existe.
A felicidade é um sentimento tão simples, que podemos encontrá-la e nem perceber. A felicidade transmite paz e não sentimentos fortes que atormentam o coração. Porque a inquietude no coração pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não é felicidade.
O homem se sustenta na existência porque cultiva utopias. O ser humano nunca será totalmente feliz, porque sua felicidade reside exatamente na busca da felicidade. Isso é o que o mobiliza até o final de seus dias, certo de que foi apenas relativamente feliz e de que poderia ter sido muito mais, guardando em si um desejo absoluto de felicidade.
Os dois aceitaram o desafio e logo deram início ao projeto criando um templo digno de um deus, com arcadas, abóbadas e muitos arabescos. Depois de algum templo foram mostrar o projeto para Apolo que considerou uma obra magnifica. Imediatamente Trofônio e Agamedes deram início à obra trabalhando com grande dedicação.
Dentro do prazo previsto chamaram Apolo para ver a obra pronta. Apolo ficou maravilhado com a beleza da obra e contemplando a obra perguntou aos construtores qual o preço do serviço que haviam feito. Como eles não tivessem um cálculo do trabalho, Apolo lhes deu uma enorme sacola repleta de moedas de ouro, recomendando-lhes que gastassem tudo nos próximos sete dias realizando tudo o que desejassem; no oitavo dia eles receberiam o pagamento que seria o maior premio que ambos pudessem ambicionar.
Durante os sete dias seguintes, Trofônio e Agamedes fizeram todas as vontades: comeram de todas as iguarias disponíveis, encharcaram-se de vinho, viajaram, compraram roupas e várias coisas para suas casas, dançaram, cantaram e chamaram os melhores sábios para lhes ensinar tudo sobre o universo. No sétimo dia, eles buscaram as mais lindas mulheres e gastaram o restante do que tinham, até a última moeda.
No oitavo dia toda a cidade aguardava Trofônio e Agamedes no templo de Apolo para ver o prêmio maravilhoso que a divindade lhes prometera: o prêmio maior que um mortal poderia aspirar. Porém, como não aparecessem, correram até a casa deles. Ali encontraram os dois deitados, imóveis, dormindo o sono eterno e impertubável, com um sorriso nos lábios. Morreram de tanta felicidade por terem realizado tudo o que desejavam...
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Seguindo o caminho das certezas, as religiões prometem felicidade eterna, tendo como condição a fé religiosa. E assim como a arte e a política, prometem mas não cumprem a aspiração de proporcionar felicidade realista ao ser humano, porque ele está a priori condenado à insatisfação, à angústia e deve se contentar apenas com os momentos de satisfação parcial ou realização ilusória.
Talvez, o ser humano esteja mais próximo da felicidade quando sonha ou elabora projetos de uma vida feliz. É um equívoco pensar que a felicidade está na saciedade - a satisfação total de todas as nossas pretensões. Igualmente equivocada é a ideia de que a felicidade seja bem-aventurança, - uma alegria permanente. Mais equivocado ainda é considerar que a felicidade possa ser a beatitude - uma alegria eterna. Com base em uma hipótese filosófica ou supostamente científica universal, é praticamente impossível conceber um ser humano plenamente feliz.
O ser humano sempre buscou como prioriedade, para si e para todos, a sobrevivência física e depois a realização de alguns projetos representados pelos sonhos, pela arte e os projetos utópicos. Entretanto, o desejo se realiza por meio do disfarce, só assim ele pode ser feliz, porque na dimensão concreta da realidade jamais o ser humano conquistará a felicidade total. A realidade do mundo, dos acontecimentos e dos fatos, sempre frustra a sensação de ser feliz.
Conforme Lacan, " O desejo é sempre o desejo de um outro desejo que vive de sua insatisfação". O desejo jamais é satisfeito porque tem origem e sustentação da falta essencial que habita o ser humano, daquilo que jamais será preenchido e, por isso mesmo o faz sofrer, mas também impulsiona para buscar realização ou satisfação parcial no mundo objetivo ou na sua própria subjetividade através de sonhos, artes, projetos utópicos, fé no absoluto, etc.
Não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando; queremos um grande amor, estar visceralmente apaixonados, ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, jantar à luz de velas todos os dias, sexo selvagem e diário. Esquecemos de ser felizes de forma realista, queremos sempre mais e mais.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável: fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar que seja eterno. É importante buscar o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-nos desumanamente para alcançar a felicidade plena, até mesmo porque a felicidade total não existe.
A felicidade é um sentimento tão simples, que podemos encontrá-la e nem perceber. A felicidade transmite paz e não sentimentos fortes que atormentam o coração. Porque a inquietude no coração pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não é felicidade.
O homem se sustenta na existência porque cultiva utopias. O ser humano nunca será totalmente feliz, porque sua felicidade reside exatamente na busca da felicidade. Isso é o que o mobiliza até o final de seus dias, certo de que foi apenas relativamente feliz e de que poderia ter sido muito mais, guardando em si um desejo absoluto de felicidade.
Muito bom!!
ResponderExcluirNós, seres humanos, como dito, embasamos a felicidade na busca pela mesmas, escalamos montes para termos a sensação de que "vencemos" e não nos deixamos lançar um olhar para trás. Mal sabendo que a "real felicidade" esta em olhar para trás ( não no sentido de projetar a vida ao que já se aconteceu), mas no sentido de perceber que a jornada, o caminho nos fortaleceu, nos fez o que somos, nos proporcionou a "real felicidade", àquela que não nos damos conta, a que não queremos enxergar, mas que és a mais forte, a que vale à jornada.
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ResponderExcluirOlá Lucia! Gostei do seu texto que encontrei ao acaso. E sou jornalista, de Brasília, e desde o ao passado estou viajando pelas Américas, fazendo um documentário audiovisual e escrevendo um livro sobre Felicidade. (Instagram:clarasantos6828). Estava escrevendo uma crônica sobre felicidade e foi como vim parar no seu Blog. Apenas queria deixar este registro, de que gostei do texto e do seu blog. "Vida longa e prosperidade" para tod@s nós!
ResponderExcluirÓtimo! O sistema capitalista explora muito bem esse ideal, escravizando as pessoas.
ResponderExcluirO comunismo também.
ExcluirAlguém me fala 2 ou mais de uma curiosidade deles?
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