sábado, 23 de novembro de 2013

O fim do reino de Corinto






Eates ou Aetes tinha herdado de seu pai o reino de Corinto, mas decidiu deixar sua terra e reinar na Cólquida entregando o reino de Corinto para Creonte. Eates casou com a terrível Hécate, deusa da magia e da noite, que enviava aos humanos os terrores noturnos e aparições de fantasmas.  Também era conhecida por aparecer nas noites de lua nova com sua horrível matilha de cachorros fantasmas para assustar os viajantes.

Da união entre Eates e Hécate nasceu Medéia, que aprendeu todos os segredos da bruxaria e de todos os sortilégios. Quando Jasão foi à Colquida buscar o velocino de ouro que era protegido por dragões, Medéia que era hábil nas artes mágicas ajudou Jasão a recuperar o velocino de ouro, dando-lhe um óleo que tornava invulnerável seu corpo ao fogo e ao ferro durante um dia. 

Ao fugir da Cólquida, Medéia esquartejou seu próprio irmão e jogou os pedaços no mar para atrasar a perseguição de seu pai que teve de parar para recolher os restos de seu filho.  



 
Medéia casou com Jasão e viveram em paz até que Creonte, o rei de Corinto, concebeu a ideia de casar sua filha Creusa com o herói dos argonautas. Jasão aceitou o enlace real e repudiou sua esposa Medéia, que foi banida do reino pelo próprio soberano. 

Implorando-lhe o prazo de um só dia, sob o pretexto de se despedir dos filhos, a feiticeira da Cólquida teve tempo suficiente para preparar a mortal represália. 

Enlouquecida pelo ódio, pela dor e pela ingratidão do esposo, resolveu vingar-se tragicamente matando os próprios filhos e enviando à noiva de Jasão um sinistro presente de núpcias. 

Tratava-se de um manto bordado e de uma coroa de ouro, impregnados de poções mágicas e fatais. O objetivo de Medeia era destruir não só a noiva, mas também todos que a tocassem.  

Muito vaidosa, Creusa recebeu os presentes sem hesitar e acrescentou um véu à coroa de ouro que em breve reluziria em sua fronte. Assim que a princesa se vestiu para o casamento e colocou a coroa, de imediato foi tomada por um fogo misterioso que começou a devorar-lhe. 

O rei Creonte correu em socorro à sua filha e também foi envolvido pelas chamas. Em pouco tempo, de todo o reino de Corinto só restou um monte de cinzas...


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Do mito de Eates ou Aetes pode-se depreender como as escolhas que fazemos em nossa vida podem transformar não só o nosso futuro, mas também repercutir no destino de todos que convivem conosco. 

Todos os personagens envolvidos no mito fizeram suas escolhas movidos pela emoção, sem pensar nas consequências de seus atos e acabaram sendo consumidos pela falta de razão.

Desde os tempos da Grécia antiga, dizia-se que o ser humano era superior a outros animais por sua habilidade de racionalizar. O antigo filósofo Platão dizia que o homem deveria suprimir sua sensibilidade e emoções, pois elas impediriam que se pudesse agir racionalmente. 

Séculos depois o filósofo moderno René Descartes confirmava esse pensamento lançando sua famosa frase: Penso, logo existo! Enquanto seres racionais, também somos seres emocionais por natureza. Como podemos viver e agir entre a razão e a emoção?

A emoção é livre e aflora em todos nós. É a alegria momentânea que nos fazem sorrir e a emoção que nos fazem chorar. A paixão faz o nosso mundo mais alegre e colorido. Por uma paixão a gente se arrisca, se expõe e encontra forças para tudo suportar, exceto o medo de perdê-la. 

Um coração apaixonado vê no outro o espelho da própria alma, o par perfeito e ideal projetado no outro. Vê no outro tudo o que deseja ser e apaixona por si mesmo na figura de outra pessoa.

A paixão é irracional, faz tudo pelo outro, abre mão de si pelo outro e perde a noção de perigo. Vai além dos limites, mesmo sabendo que está sendo irresponsável. Depois que a paixão arrefece, o que parecia ser perfeito torna-se um defeito. 

O perfume passa ser enjoativo, as dezenas de telefonemas passam a incomodar e já se começa a refletir sobre a contenção de gastos com o ser amado. A paixão é cega, mas a razão traz-lhe a visão.

A razão é a capacidade da mente humana de chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas, sendo um dos meios pelos quais os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. 

É a razão que nos permite raciocinar, compreender, ponderar, resolver problemas, formar conceitos e encontrar coerência entre pensamento, palavras e atitudes. A razão exige reflexão do que se sente de forma racional.

Se deixamos a razão falar mais alto, estaremos suprimindo o melhor que temos em nós mesmos. Viver sem emoção torna a vida fria, sem o prazer das coisas bobas da vida, como sorrir, chorar, sonhar, sofrer e amar. 

Viver a vida sempre com a razão não é uma vida propriamente vivida, porém quando deixamos o coração coordenar de modo irracional, acabamos agindo pelo impulso que pode nos levar a atos impensados. 

Fazer loucuras por amor pode ter um alto preço. É a razão que pode frear os nossos impulsos e dizer: " Aja com cautela e meça as consequências de seus atos..." O ponto em que hoje estamos, são reflexos de decisões tomadas lá num passado distante e as decisões de hoje irão pesar em nosso futuro. 

Quando a razão e a emoção andam juntas, uma complementa a outra. Algumas vezes é saudável tirar os pés do chão, sonhar e deixar o pensamento voar, mas é preciso saber como e quando deve pousar...



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Themis e Zeus, o casamento que inseriu a ordem e equidade no mundo



Themis foi uma das titânides, filha de Urano e Gaia. Seu nome significava "aquela que é posta, colocada" e era representada empunhando uma balança onde equilibrava a razão e a emoção. 

Quando ainda era uma criança, sua mãe a entregou aos cuidados de Nyx, a Deusa da Noite e da Escuridão para protegê-la do enlouquecimento de seu pai. No entanto, Nyx se sentia cansada e pediu às Moiras que criassem Themis e sua filha Nêmesis.

As Moiras eram as Deusas do Destino. Elas fiavam o fio do destino humano e cuidavam para que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. 

Cloto era quem fiava, Láquesis determinava o comprimento do fio e Átropos cortava o fio da vida no momento determinado para a morte. Tanto os homens quanto os deuses temiam as Moiras e suas decisões deviam ser obedecidas.

Elas criaram Themis e Nêmesis ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas, como o ciclo da vida - nascer, crescer, morrer -, além da importância de zelar pelo equilíbrio. Por terem crescido juntas, as duas tinham muitas semelhanças: Themis - a Deusa da justiça e Nêmesis - a Deusa da retribuição e recompensa.

Nêmesis: Originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má, simplesmente na proporção devida a cada um segundo seu merecimento. Quando alguém sofria por uma atitude alheia, Nêmesis não permitia que o ofensor passasse impune. 

Nas tragédias gregas, Nêmesis apareceu principalmente como vingadora dos crimes e castigadora da arrogância. Alguns a chamavam de Adrastéia que significa "aquela de quem não há escapatória" ou "a inevitável". 

Como deusa da devida proporção e equilíbrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo. 

Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao karma.

Themis: era a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem social, a lei espiritual e justiça divina. Frequentemente era invocada na corte quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso Themis passou a ser considerada a Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos, que os romanos chamavam de Deusa Justitia.

Ela tinha as qualidades de Gaia - a terra, ou seja, estabilidade, solidez, imobilidade e falava com os homens através dos oráculos. Estava ligada à voz da terra e exaltava as leis da natureza e as leis naturais que todos deviam obedecer, que antecedem as regras ditadas pela sociedade. 

Foi Themis quem orientou Deucalião e Pirra para formar uma nova humanidade depois do dilúvio e ajudou Hércules a salvar Prometeu, que tinha sido condenado a morrer acorrentado num rochedo após roubar o fogo dos deuses para oferecer aos homens.

Quando a esposa de Zeus estava grávida, Themis alertou-o que nasceria uma filha que seria uma ameaça ao seu poder. A esposa de Zeus tinha o dom de se transformar em qualquer coisa, por isso Zeus propôs uma brincadeira pedindo que Métis se transformasse em uma mosca. Aproveitando-se de uma distração, Zeus engoliu-a. Da cabeça de Zeus nasceu Athena.

As Moiras profetizaram que Zeus tinha muito a aprender com Themis. Algum tempo depois, Zeus e Themis casaram e foram os pais das Horas e de Astreia, a deusa protetora da humanidade e simbolizava a pureza e a inocência. 

Conta-se que Astreia deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições e sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela foi transformada na Constelação de Virgem.

As Horas eram muitas, sendo as mais conhecidas: Eirene, Eunômia e Dikê que personificavam a paz, a disciplina e a justiça. Como guardiãs do Olimpo, elas cuidavam da ambrosia, o alimento dos deuses, e organizavam a passagem das estrelas. 

Assim tornaram-se as deusas do ano, das estações climáticas e da divisão do dia em horas. Elas eram a extensão dos atributos de Themis e presidiam a ordem natural humana, da natureza e social.

Enquanto Zeus exercia o poder absoluto, um padrão arquetípico que governa a consciência coletiva, Themis desestabilizava o absolutismo e as certezas de Zeus, movimentando-se dentro de vários outros padrões arquetípicos. 

Ela era sua esposa e conselheira, temperando o poder com sabedoria. Respeitada por todos os deuses, ao presidir as reuniões políticas do Olimpo Themis manifestava o teor organizacional de sua dignidade e justiça.

Com seriedade moral obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e contribuições daqueles menos proeminentes. A deusa opunha-se à dominação de um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a totalidade mais do que a fragmentação, a integração mais do que a repressão. 

Nessa atividade de contenção e vinculação, Themis revelava o princípio operado pela consciência feminina: a lei do amor. Seu maior opositor era Ares - o deus da guerra - que tinha apetite por violência e sua sede de sangue não conhecia limites.

Themis não era contra a guerra, mas defendia a ordem natural e ambiental, pois a guerra reduzia o tempo da vida e a população humana. Sua balança foi transformada na Constelação de Libra, que brilha céu para nos lembrar que a justiça é fundamental.


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No imaginário popular, sempre quando se fala em Justiça surge a figura da mulher de olhos vendados carregando uma balança e a espada. De fato, essas imagens alegóricas representam a manifestação da Justiça.
  • A Balança simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação e a igualdade das decisões aplicadas pela lei. O direito precisa ser pesado, senão torna-se força bruta e irracional.
  • A Espada simboliza a ordem, regra, força e coragem, aquilo que a razão dita e a coerção para alcançar tais determinações. Se não obriga a sua aplicação, o direito não tem qualquer validade.
  • Os olhos vendados da deusa simboliza a necessidade de nivelar o tratamento jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da imparcialidade, da objetividade e da afirmação de que todos são iguais perante à lei. Isso não implica que a justiça é cega, pois aos olhos da justiça, nenhum pormenor que seja relevante deixa de ser considerado para a aplicação da lei, ou seja, o julgamento é avaliação de todos os ângulos de uma questão.
Cada símbolo completa o outro, para que a Justiça seja a mais justa possível:
  • A espada sem a balança torna o Direito brutal.
  • A balança sem a espada torna o Direito impotente perante os desvalores que insistem em ser perenes na história da humanidade.
  • Os olhos vendados objetivam evitar privilégios na aplicação da justiça. A balança é o instrumento capaz pesar o direito de cada um e a espada, a sua aplicabilidade.
A existência psicológica de Themis está no inconsciente coletivo. Sendo Themis a deusa da justiça, da lei, da ordem e protetora dos oprimidos, também determinou que o direito depende dos deveres a serem cumpridos por todos. 

Foi o casamento de Themis com Zeus que inseriu a ordem e equidade no mundo dos homens, mostrando que até mesmo quem emana as leis deve a elas estar submetido. Quando a justiça não age devidamente e não pune os culpados, acaba punindo os inocentes...


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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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