terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Héstia deusa do fogo sagrado



Héstia é a personificação grega do fogo sagrado, da pira doméstica e da cidade. Cortejada pelos deuses, especialmente pelo belo Apolo e por Netuno, Héstia rejeitou todas as propostas amorosas e pediu ao seu irmão Zeus que protegesse sua virgindade. Filha de Cronos e Rheia, era uma das divindades olímpicas. Devido à sua vontade de permanecer casta, suas sacerdotisas se mantinham a vigiar o fogo sagrado permanente nos templos.

Representada trajando um longo vestido, muitas vezes com a própria cabeça coberta por um véu, ela é a deusa que nunca abandona o lar, o Olimpo, e jamais se envolve nas brigas e guerras de deuses ou mortais. O animal mais sagrado à deusa é o asno.
Como deusa do fogo sagrado, ela representava a divindade do lar, defendendo a vida da família, presidindo o ambiente doméstico e os laços familiares. Era muito comum utilizar a sua imagem nas moradas dos jovens que iam adquirir conhecimento longe de sua terra natal, pois isso mantinha a ligação familiar ausente.

Era adorada antes dos outros deuses em todas as festas, uma vez que era a mais antiga e
preciosa das deusas do Olimpo. Um juramento feito em seu nome era o mais sagrado dos juramentos. De Zeus recebeu a honra de ser venerada em todos os lares, ser incluída em todos os sacrifícios e permanecer em paz, em seu palácio cercada do respeito de deuses e mortais. Era a personificação da moradia estável, onde as pessoas se reuniam para orar e oferecer sacrifícios aos deuses, e adorada como protetora das cidades, das famílias e das colônias.

Sua chama sagrada brilhava continuamente nos lares e templos. Todas as cidades possuíam o fogo de Héstia, colocado
no palácio onde se reuniam as tribos. Esse fogo deveria ser conseguido direto do sol. Quando os gregos fundavam cidades fora da Grécia, levavam parte do fogo da lareira como símbolo da ligação com a terra materna e com ele; acendiam a lareira onde seria o núcleo político da nova cidade.

Sempre fixa e imutável, Héstia simbolizava a perenidade da civilização. Em Delfos, era conservada a chama perpétua com a qual se acendia a Héstia de outros altares. Cada peregrino que chegava a uma cidade, primeiro fazia um sacrifício Héstia. Seu culto era muito simples: na família, era presidido pelo pai ou pela mãe; nas cidades, pelas maiores autoridades políticas.


Héstia, a deusa casta dos lares, é a grande mãe e protetora de todas as mulheres casadas, das donas de casa e deusa do
lar. Mediadora da integração psicológica, é a presença espiritualmente sentida, interior e anonima dos monges e freiras, da pureza absoluta, da percepção focalizada no mundo interior, da concentração, discriminação, desapego das pessoas, sem ambição e auto-suficiência. Na Grécia antiga significava um culto, o ritual de estar em volta de uma lareira. Para a felicidade de um casal era necessário ter uma lareira ou um altar que dá continuidade, consciência partilhada e identidade comum.

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O mito de Héstia representa a chama da vida. Héstia, que em grego significa passar pelo fogo ou consumir, sempre teve as honras de todas as divindades, tornando-se a única a ser cultuada em todas as casas dos homens e nos templos de todos os deuses. Nenhum lar e nenhum templo ficava santificado sem a sua presença. Héstia era tanto uma presença espiritual como um fogo sagrado que proporcionava iluminação, calor e aquecimento para o alimento.

Era a divindade menos conhecida dos deuses olímpicos e nunca foi representada em forma humana, mas sim pela chama viva no centro do lar, do templo, da cidade, sendo seu símbolo um círculo, pois suas primeiras lareiras eram redondas, assim como os seus templos. Enquanto as divindades circulavam, Héstia mantinha-se imóvel no Olimpo. Essa imobilidade fez com que não representasse papel algum no mito, permanecendo mais como um princípio abstrato, a idéia da lareira, do que como uma divindade pessoal.

Sobre essa peculiaridade de Héstia, em ser paradoxalmente a primeira do Olimpo e ao mesmo tempo a mais obscura, sua imagem e seu lugar são idênticos. Não havia imagens em seu templo; havia apenas o fogo sagrado sobre a terra. Sua presença era sempre solicitada nos acontecimentos importantes da vida grega. Sem o fogo sagrado de Héstia não haveria festas para a humanidade pois ninguém poderia iniciar o primeiro e o derradeiro gole do vinho doce como mel sem uma oferenda à deusa da lareira.


Quando dois jovens se uniam pelo casamento, a mãe da noiva acendia uma tocha em sua casa e a transportava diante do casal até sua nova casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar, tornando-o, por este ato, sagrado. Da mesma forma, cada cidade-estado grega tinha uma lareira comum com um fogo sagrado cultivado no edifício principal, ao redor do qual se congregava o povo. Quando alguém deixava a sua cidade natal, levava consigo o fogo sagrado de tal forma que onde quer que um casal se aventurasse a estabelecer um novo lar, Héstia vinha com eles, ligando o lar antigo ao novo, simbolizando o espírito de continuidade de ligação.
Da mesma forma, em Roma a chama sagrada de Vesta unia todos os romanos numa única família.

Em seus templos o fogo sagrado era cuidado pelas virgens vestais , que em certo sentido eram as representações humanas de Héstia, eram suas imagens vivas, transcendendo à escultura e à pintura. As meninas escolhidas para serem vestais eram levadas ao templo, em geral, com menos de seis anos de idade. Lá seus cabelos eram cortados e suas vestes era de modo igual.
Qualquer ponto que a distinguisse, era totalmente apagado.

Eram mantidas à distância de outras pessoas e honradas, devendo, de modo semelhante à deusa, preservar sua castidade, com terríveis consequências para quem violasse as regras impostas. Uma vestal que tivesse relações sexuais com um homem profanava a deusa e era punida com o sepultamento em vida, numa área pequena e sem ar no subsolo, com luz, óleo, alimento e um lugar para dormir. A terra sobre ela era nivelada, como se nada existisse embaixo.


Héstia tinha associação em torno de um espaço sagrado, de um centro, um ponto de convergência, um ponto de aquecimento. Venerada nos lares gregos e nas cidades, apresentava-se como uma pilha de carvão em brasa, localizada no Onphalos, o umbigo de Delfos, que era a cidade consagrada a Apolo considerada o centro do mundo pelos gregos. Também compartilhava a imagem do fogo sagrado com Hermes, que era o espírito alquímico imaginado como o fogo elementar. Tal fogo era considerado a fonte do conhecimento intuitivo, simbolicamente localizado no centro da Terra.

Outra associação entre Héstia e Hermes se refere à sacralização de um espaço. Na Grécia antiga, na parte externa de todos os lares, como uma proteção contra qualquer invasão maléfica existia o "Herma" um pilar que representava Hermes. Assim, Hermes e Héstia eram associados na proteção de um espaço sagrado; enquanto Hermes protege o exterior, Héstia guarda o espaço interior. O pilar e o anel em forma de círculo representam os princípios masculino e feminino, respectivamente.

Héstia representando o espaço interior está associada aos valores femininos, a importância do santuário interior, da interiorização para encontrar significado e paz. O santuário da família sem a fonte de calor ficam diminuídos ou são perdidos. O sentimento de uma ligação básica com os outros desaparece, como também a necessidade dos cidadãos de uma cidade, país ou da terra se ligarem por um elo espiritual comum.


O fogo está associado à cor vermelha, ao verão e ao coração. Ora representa a paixão, ora representa o espírito ou conhecimento intuitivo. Tanto no antigo quanto no novo testamento o fogo é elemento que purifica e limpa, tornando-se o veículo que separa o puro do impuro, uma visão compartilhada com a alquimía. O fogo desde os primórdios é adorado por eliminar as impurezas, as contaminações, tendo o aspecto de regenerar e renovar.

Em muitas culturas primitivas, são inumeráveis os ritos de purificação que se configuram nos incêndios dos campos que se revestem, em seguida, de um tapete verde de natureza viva. É a natureza que age como a fenix, renascendo das cinzas e essa imagem tem a sua correspondência psicológica. Segundo Bachelard, existem duas direções ou constelações psíquicas na simbologia do fogo, de acordo com sua origem e conforme é obtido: pela percussão ou pelo atrito.

Pela percussão está intimamente ligado ao relâmpago, à flecha, portanto, ao princípio espiritual e possui um valor de purificação e iluminação. Esse se opõe nesse sentido ao fogo sexual obtido pela fricção, assim como a chama purificadora se contrapõe ao centro genital da lareira, como a exaltação da luz celeste se distingue do ritual de fecundidade agrária. Na sua dimensão simbólica o fogo obtido pela percussão representa a etapa mais importante da intelectualização do Cosmo e afasta mais e mais o homem de sua condição animal.

Para os Astecas o fogo terrestre, ctônico, representa a força profunda que permite a união dos opostos, a ascensão, a sublimação da água impura em água celestial, a água pura e divina. O fogo é o motor, o grande responsável pela regeneração periódica. O fogo que simboliza Héstia é também ctônico, vindo das profundezas da Terra, é uma chama que nutre ao mesmo tempo que ilumina a vida psíquica. O fogo do sacrifício ao ser substituido pelo fogo interior, que é simultaneamente o conhecimento penetrante, iluminação e destruição do invólucro carnal, tem o poder de tornar-se indestrutível. O aspecto destruidor do fogo também comporta uma conotação negativa e o domínio do fogo é também uma função diabólica. Observe-se a propósito da forja: seu fogo é ao mesmo tempo de demiurgo e do demônio.

A importância de Héstia na vida psicológica advém de sua habilidade em mediar a alma, dando-lhe um lugar onde se congregar, um ponto de junção em que a alma e o mundo se misturam. É através da presença mediúnica de Héstia que a moradia do mundo do homem é psicológica. O ato de imaginar, atividade psicológica por excelência, não está separado do mundo. As moradias que criamos, é onde moram interiormente, sonhos e fantasias. Exteriormente manifestam um aspecto de nossa alma. A casa mais do que a paisagem é um estado psíquico.

As moradias do mundo cotidiano falam dos lugares de nossa alma e revelam um lado íntimo de nossa psique.
A alma sob a perspectiva de Héstia nos revela em termos de metáforas espaciais, assim a patologia que se manifesta através da linguagem da deusa da lareira contém frases referentes ao espaço: fora da base, fora do centro, incapaz de se fixar, distanciada, sem um tapete sob os pés, numa demonstração de que, sem os valores de Héstia e do seu poder de integração, a alma é incapaz de encontrar um lugar onde morar.

Uma das fantasias relacionadas à patologia da alma e que se faz muito presente desde os povos primitivos, é a da perda da alma. Cícero afirmava que a alma doente era aquela que não podia alcançar ou persistir, estava sempre perdida. Quando perdida, a alma não tem ligação psíquica com Héstia e sua centralidade. A alma não pode ir para casa porque não há um lugar para se retornar. Nesse contexto a ausência de Héstia representa uma ameaça para a integridade da psique, com sua multidão de imagens e a influência delas.

Sem Héstia não pode haver concentração na imagem e não há limites que distingam a intimidade da moradia interior e do mundo externo, pois não há uma casa psíquica que ofereça paredes protetoras que tornem possível as celebrações da vida, o alimento para a alma.
Sem a presença de Héstia, o que se pode observar em certas desordens transitórias da psicose, particularmente das esquizofrenias, não existe separação entre os espaços de dentro e de fora, não há barreiras protetoras, que possibilite a permanência das imagens de tal modo que o mundo psíquico todo é vivenciado como transitório e fugaz.

As imagens de sonhos comuns em pacientes esquizofrênicos latentes revelam esse desarranjo profundo em termos de um espaço habitável apresentados imagisticamente como a Terra ou como um edifício.
Barbara Kirksey acredita que essa frágil coesão e insegurança está relacionada com a ausência da capacidade mediadora de Héstia, que acolhe e centraliza os acontecimentos aleatórios num espaço comum e aqui cabe relembrar o mito realçando o fato de ser essa deusa, a primogênita e ao mesmo tempo a última, espécie de figura alfa-ômega da psique. Sua ausência ameaça toda a estrutura psíquica da personalidade em caos.

Assim como Hermes exerce a função mediadora que conecta e move a alma, também Héstia tem uma função coesiva na alma que preserva o elemento de plenitude e permite ao indivíduo imaginar em paz.
A lareira redonda de Héstia, com um fogo sagrado no centro, é uma forma de mandala; símbolo da integridade e da totalidade. Uma imagem de Atena em vestes guerreiras, era guardada por Héstia ou Vesta em seu templo localizado em Roma. Tal imagem havia sido roubada de Tróia e acreditava-se que a ela se devia a preservação do império. Héstia ou Vesta foi designada a guardiã dessa imagem de Minerva, graças ao seu poder de iluminação que nunca falha, um poder que tudo vê e que assim preservava com sua luz a integridade do império.

A força de Héstia difere das outras duas deusas virgens Atena e Ártemis, pois enquanto estas manifestam seu poder sob a forma de atos de afirmação, Héstia ilumina e sua luz proporciona proteção e nutrição às imagens. Jean Shinoda Bolen nos diz ser uma características das deusas virgens a visão e a percepção focada, mas enquanto Atena e Ártemis dirigem sua luz para o exterior, Héstia a direciona para o interior e quando o enfoque se volta para o interior, em direção a um centro espiritual, a vida adquire um significado maior, tem-se um ponto de referência interior que nos permite permanecer firmes no meio da confusão, da desordem, da afobação do dia-a-dia.

Quando se fala em capacidade de iluminar, vem-nos à mente a questão do lugar para onde se dirige essa luz, ou seja, qual o seu foco e, segundo Ovídio, a palavra para terra em latim é Focus e a terra (focus) em latim é assim chamada por suas chamas e porque ela nutre todas as coisas. No ramo da ciência que estuda os fenômenos da propagação da luz, a óptica, foco é o ponto no qual os raios se encontram depois de refletidos ou refratados e também o ponto do qual os raios podem originar-se. Foco, portanto, é o ponto de separação e ao mesmo tempo de convergência do raio. A origem desse ponto expressa-se pela figura mítica de Héstia.

Outra definição da palavra foco que se associa mais estreitamente com a vida psicológica vem do teatro moderno. No teatro, foco é a parte mais iluminada do palco e é nesse espaço mais iluminado que se desenvolve a trama que dá sentido à peça. Também em nossa vida psíquica aqueles caracteres que aparecem em nossas experiências psicológicas mais brilhantemente iluminados são o foco, que dão sentido ao drama de nossa vida. Pode-se dizer que Héstia não participa do drama como personagem, como figura, mas é ela que se encarrega da iluminação e se levarmos a sério a crença antiga da proteção através da iluminação, é Hestia que nos oferece a proteção necessária para que possamos iluminar e centralizar essas figuras ou imagens, nos cenários do nosso consciente.


Ainda se dá à palavra foco a definição que também se relaciona com a vida psíquica, é a que considera o foco como aquele ponto ou posição em que um objeto precisa situar-se, a fim de que a imagem produzida pelas lentes seja clara e bem definida. Focalizar está em oposição a interpretar a imagem, porque a ação de focalizar prende-se muito mais ao movimento das lentes buscando uma melhor definição da imagem do que a uma mudança de posição. O ajuste é, portanto, nosso. A imagem conserva o seu espaço, sendo o processo de focalizar que leva a pessoa a uma relação definitiva com a imagem, a partir da qual esta ganha iluminação e clareza. Retornar à imagem a partir de várias direções é uma tentativa de encontrar o foco, ou seja, isto é uma figuração ao modo de Héstia.


A condição de guardiã das imagens de Héstia faz-nos entrar em conexão com um outro aspecto dessa divindade, o da hospitalidade. Propiciando um lugar de união de congregação, Héstia oferece hospitalidade às imagens, elas são como espíritos que se corporificam ou se personificam através do acolhimento e do aconchego da lareira de Héstia. Personificar é um modo de conhecer; é uma possibilidade de se estabelecer um relacionamento fecundo com o inconsciente.


Desejo que em 2011 tenhamos os nossos corações aquecidos com a chama sagrada que emana da nossa alegria de viver. Que deixemos queimar todas as tristezas e frustrações, preservando apenas os nossos mais caros valores de alma, respeitando-nos e focalizando-nos, para que tenhamos um

Feliz Ano Novo!...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Circe a deusa da noite




Circe era uma famosa feiticeira, considerada a Deusa da Noite, que com imenso poder da alquimía, elaborava venenos e poções mágicas. Segundo a lenda, costumava transformar os homens em animais, vivendo em um palácio cheio de artifícios. Filha de Perséia - a destruição, também com significado de Hécate e de Hélios - o deus sol, Circe era considerada a Deusa da Lua Nova ou Lua Negra, do amor físico, feitiçaria, encantamentos, sonhos precognitivos, maldições, vinganças, magia negra, bruxaria, caldeirões.

Com o auxílio de sua varinha, poções, ervas e feitiços, transformava homens em animais, fazia florestas se moverem e o dia virar noite. Os escritores antigos Homero, Hesíodo, Ovídio e Plutarco relataram suas proezas, garantindo para ela um lugar nas lendas. Vivia num palácio encantado, cercado por lobos e leões, seres humanos enfeitiçados. Crê-se que essa ilha se encontra hoje onde é o Monte Circeu.

Circe casou-se com o Rei dos Sámatas e tendo-o envenenado, se refugiou na Ilha de Ea ou Eana, no litoral da Italia. O nome da ilha Ea ou Eana é traduzido como prantear e dela emanava uma luz tênue e fúnebre. Essa luz identificava Circe como a deusa da morte horrenda e do terror. Era também associada aos vôos mortais dos falcões, pois, assim como estes, ela rodeava suas vítimas para depois enfeitiçá-las.

O grito do falcão é "circ-circ", considerado a canção mágica de Circe, que controlava tanto a criação quanto a dissolução. Sua identificação com os pássaros é importante, pois eles têm a capacidade de viajar livremente entre os reinos do céu e da terra, possuidores dos segredos mais ocultos, mensageiros angélicos e portadores do espírito e da alma. Escritores gregos antigos a citavam como "Circe das Madeixas Trançadas", pois podia manipular as forças da criação e destruição através de nós e tranças em seus cabelos. Como o círculo, ela era também a tecelã dos destinos.

Na Odisséia, no decurso de suas perambulações, o herói Ulisses e sua tripulação desesperada chegaram na Ilha de Eana, onde vivia Circe. Ao desembarcar, Ulisses subiu até uma montanha de onde avistou um ponto no centro da ilha, um palácio rodeado de árvores.

Ulisses enviou seus homens para verificar as condições de hospitalidade. Ao se aproximarem do palácio os gregos viram-se rodeados de leões, tigres e lobos, não ferozes mas domados pela arte de Circe, que eram homens transformados em feras por seus encantamentos. De dentro do palácio vinha uma música suave e o canto de uma bela voz de mulher. Quando entraram, ela os recebeu e eles de nada desconfiaram, exceto Euríloco, o chefe da expedição.

A deusa serviu vinho e iguarias. Enquanto eles se divertiam, Circe tocou-os com uma varinha de condão e eles se transformaram imediatamente em porcos, embora conservando a inteligência de homens. Euríloco se apressou a voltar ao navio e contar o que vira. Ulisses, então, resolveu ir ele próprio tentar a libertação dos companheiros.

Enquanto se encaminhava para o palácio encontrou o jovem Hermes, que conhecia suas aventuras e lhe contou dos perigos de Circe.
Não sendo capaz de convencer Ulisses, Hermes deu-lhe o broto de uma planta chamada Moli, dotada do poder de resistir às bruxarias e ensinou-lhe o que deveria fazer.

Quando Ulisses chegou ao palácio foi recebido por Circe com muita cortesia, que lhe serviu vinho e comida. Mas quando ela o tocou com a varinha para transformá-lo em porco, Ulisses tirou sua espada e investiu furioso contra a deusa, que implorou clemência. Ulisses exigiu que ela libertasse seus companheiros e ela retirou o encantamento. Os homens readquiriram suas formas e Circe prometeu um banquete para toda tripulação.

Tratados magnificamente durante vários dias, Ulisses esqueceu de retornar à Ítaca, e se resignou àquela vida inglória de ócio e prazer. Por alguns anos, Ulisses permaneceu com Circe aprendendo com ela as magias do encantamento. Por fim seus companheiros apelaram para seus sentimentos mais nobres, e ele resolveu partir.

Circe recomendou aos marinheiros tapar os ouvidos com cera para passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias. As sereias eram ninfas marinhas que tinham o poder de enfeitiçar com seu canto, fazendo-os atirar-se ao mar e encontrar a morte. A Ulisses, Circe aconselhou a amarrar a si mesmo no mastro dando instruções a seus homens para não libertá-lo, fosse o que fosse que ele dissesse ou fizesse, até terem passado pela Ilha das Sereias.

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Circe representa a mente inconsciente capaz de metamorfosear e seu poder de criar encantamentos destrutivos. É a inteligência dos desejos que retém o homem à sua natureza inferior - animal. Graças a Hermes, símbolo da transmutação, Ulisses se inicia na arte da magia sem se deixar escravizar por ela.

Dos dois caminhos da magia: a negra - egoísta e a branca - que liberta o homem da condição animalesca, Ulisses escolhe permitir que seus companheiros reencontrem a sua condição de homens, continuando sua rota, agora esclarecido sobre qual o caminho a seguir.


A intenção de Ulisses era retornar à Ítaca e sem perder tempo nesse mundo transitório, ele continua a sua rota. Evitando o canto das sereias e fazendo-se amarrar ao mastro do barco, Ulisses se abstém da armadilha que representa as vozes do desejo que despertam no homem a ambição do poder. Ulisses, amarrado por sua vontade, irá resistir às forças da paixão e dos desejos. O herói da Odisseia representa a inteligência unida à vontade do Eu superior, que faz calar as vozes melosas da ilusão.


domingo, 19 de dezembro de 2010

Eros e anteros


Em uma versão, Eros nasceu pela intervenção de um poder divino e eterno, que como os elementos do próprio Caos, tem alguma conformidade com ele. É Eros que inspira ou produz esta invisível simpatia entre os seres, para os unir em outras procriações. O poder de Eros vai além da natureza viva e animada: ele aproxima, une, mistura, multiplica, dá variedade às espécies, em uma única palavra de toda a criação: o amor. Eros é o deus da união, da afinidade universal; nenhum outro ser pode furtar-se à sua influência ou à sua força: Eros é invencível.

Anteros (Anti-Eros) é irmão de Eros e a antitese de Eros, seu adversário no mundo divino. Anteros é a antipatia, a aversão. Ele tem todos os atributos opostos de Eros: Eros une, Anteros separa, desune e desagega. Tão forte e poderoso quanto Eros, Anteros impede que se confundam os seres da natureza dissemelhante. Se algumas vezes semeia em torno de si a discórdia e o ódio, prejudica a afinidade dos elementos, e pelo menos a hostilidade que entre eles cria, contém cada um nos limites marcados evitando que a natureza caia novamente no caos.

Tão difícil quanto descobrir a origem do mundo e dos homens, é definir as nuances do amor. Há muitos séculos, os filósofos tentaram explicar a criação do mundo. Para alguns, forças atuavam com os quatro elementos, terra, água, fogo e ar. Para os poetas, essa força era chamada de Eros, o Amor. Antes de ser representado como deus do Olimpo, Eros esteve presente nos mitos que contavam as primeiras criações do mundo e dos deuses, e que permitiu a aproximação dos seres.

O filósofo Platão chamou Eros de Daimon, uma espécie de ser espiritual que habitava entre os deuses e os homens. Na obra O Banquete, Platão conta sobre a união de Poros - o deus dos recursos e Pênia - a carência. Desse encontro teria nascido Eros, carente como a mãe, sempre em busca de algo que o satisfaça, mas com recursos para alcançar o que deseja, como o pai.

Na versão em que Eros é filho de Afrodite e Ares, queixando-se que seu filho continuava sempre criança, a deusa da prudência explicou que Eros era muito solitário e haveria de crescer se tivesse um irmão. Pouco tempo depois nasceu Anteros. Eros é o deus do amor; Anteros o deus da ordem. Eros cresceu e se tornou robusto e forte. Mas Anteros foi enviado para ser criado por um pescador, e quando Anteros partiu, Eros voltou a ser menino e nunca mais cresceu...

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O mito de Eros e Anteros mostra as fraquezas do amor. O amor quando sente-se carente busca conquistar o outro para preencher seu vazio. Amar o outro também é se preencher de amor, é aumentar o amor. Para crescer, o amor precisa ser partilhado e correspondido. Eros não crescia, até que nasceu Anteros. Eros precisava de um companheiro para aprender a compartilhar e conviver. Como seu próprio nome, Anteros = Anti-Eros, era o oposto de Eros. Seus poderes eram para ordenar, colocar uma ordem no amor.


Retratado assim, como um menino alado, Eros diverte-se ferindo os mortais e os deuses com suas flechas, como aparece em uma ode do poeta grego Anacreonte. Uma linda criança sob aparente inocência, que tem o poder de atingir sem piedade suas vítimas. Mas Eros não é mal e nem pretende magoar, ele é apenas inconsequente como uma criança; ele sabe que pode tocar o coração, mas não sabe que amar pode doer.

Eros é o amor imaturo que nunca usará a razão. É o amor menino, chamado Cúpido, que nunca chega à idade do discernimento. Porque amar e racionalizar não são dois verbos que se juntam; e a alma do menino tem muita vontade de afeto e pouco entendimento. E cada vez que se fala do amor, o Cupido retorna na forma de um coração com suas flechinhas atravessando os corações que diz:

Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente.
É
um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer
e aperta o coração da gente!...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Éolo, o deus dos ventos


Éolo era conhecido como o deus dos ventos. Vivia em Eólia, uma ilha flutuante, com seus seis filhos e seis filhas. Zeus lhe concedeu o poder de acalmar e despertar os ventos, mas o advertiu de nunca conceder gratuitamente nenhum de seus poderes.

Quando o herói grego Ulisses visitou Éolo, ele foi recebido como um convidado de honra. Éolo o presenteou com um vento favorável em uma sacola de couro repleta com todos os ventos, para usar em sua viagem. Ulisses foi imprudente deixando a sacola abandonada a um canto.


Os marinheiros de Ulisses pensando se tratar de uma sacola com ouro, abriram-na e a costa foi imediatamente varrida pelos ventos. Éolo se arrependeu de ter presenteado Ulisses com a força dos ventos e se recusou a ajudá-los. Novamente procurado por Ulisses, Éolo se justificou:

" Quem semeia ventos, colhe tempestades..."

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O mito de Éolo representa as nossas atitudes em relação aos outros. Quando distribuimos sorrisos e gentilezas, esperamos que os outros nos tratem da mesma maneira. No entanto, isso nem sempre acontece. Existem pessoas que não estão preparadas para viver em sociedade. A estas normalmente se julga serem injustas.

Somos condicionados desde pequenos a procurar por justiça, e quando na vida somos injustiçados sentimos raiva, ansiedade e frustração. Na verdade, procurar por justiça plena é como procurar a fonte da juventude eterna. A justiça não existe, nunca existiu e nunca existirá. O mundo não funciona dessa forma.

A natureza não é justa. Animais são predadores naturais de outros: os ratos comem os percevejos; a cobra comem os ratos; as galinhas comem as cobras; os coitores comem as galinhas etc. Assim é a cadeia alimentar dos bichos. Furacões, inundações, terremotos, todos são injustos, porque atingem bons e maus.

É um conceito mitológico sentir-se feliz ou infeliz devido à justiça; é isentar-se da responsabilidade pela própria felicidade. A exigência da justiça é verdadeira, mas não podemos nos deixar envolver demais nela, pois assim estaremos sendo injustos em relação a nós mesmos.

A injustiça é constante mas podemos nos recusar a sermos reduzidos a um estado de imobilidade emocional por causa dela. Esforçar-se para eliminar a injustiça é um dever mas ninguém jamais poderá se sentir psicologicamente derrotado por ela. Se você parar de plantar boas sementes de onde nunca nada se colhe, nunca se sentirá injustiçado. Porém saiba que: quem semeia ventos, colhe tempestades!...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mnemosine e as Musas


 
Mnemosine - a deusa de memória, era filha de Géia e Urano. Tendo se unido a Zeus gerou nove filhas: as Musas. Hesíodo pastoreava seus rebanhos no Hélicon quando as Musas se dirigiram a ele e lhe disseram que sabiam mentir e revelar a verdade. Deram-lhe um ramo de loureiro e iniciaram-no como poeta. Em vista disso, ele contou-nos as origens ancestrais dos deuses.
 
O esquecimento das tristezas e cessação dos cuidados eram governados pela personificação de Lethe ou Lesmosyne - a deusa do esquecimento. Como um rio, faz parte do Mundo Subterrâneo que era denominado "campos leteus ou a casa de Lethe", porque na região infernal havia também uma fonte de Mnemósine.
 
Longe de outros deuses Mnemosine deu a luz às suas filhas, as Musas que moravam com as Graças e Hímero, o duplo de Eros. Elas seguiam os caminhos do Olimpo entoando um canto imortal. Seus hinos ecoavam pela terra e lindo era o som dos seus passos. Tinham também um local de dança no cume do Hélicon e do altar de Zeus. Todas as vezes que se dirigiam ao Olimpo iam envoltas em nuvens, quando só se podia ouvir as suas vozes maravilhosamente belas na noite. 
 
As Musas sempre foram descritas pelos poetas como fonte de inspiração e diziam serem em quantidade muito maior. Da boca das pessoas que elas amavam fluíam a fala meiga e o doce canto. Elas também eram chamadas de Mnéias, plural de Mnemósine. Supunha-se que elas haviam sido chamadas: Mélete, "a que pratica"; Mneme,"a que recorda"; e Aede, "a que canta". 
  • Calíope - Musa da Eloquência
  • Clio ou Kleio - Musa da História
  • Erato - Musa da Poesia romântica
  • Euterpe - Musa da Música
  • Melpômene - Musa da tragédia e alegria
  • Polimnia - Musa da poesia lírica
  • Terpsícore - Musa da dança
  • Talia - Musa da comédia
  • Urânia - Musa da astronomia e da astrologia
 
Afirmavam os poetas que tudo que diziam era apenas repetição do que as Musas lhes haviam dito e davam a elas todo o crédito. Eles invocavam sua Musa e esperavam que ela viessem atendê-los na sua inspiração. Quando as Musas cantavam, tudo se imobilizava: o céu, as estrelas, o mar e os rios. Podiam assumir a forma de pássaros e se achavam muito próximas das ninfas das fontes, exatamente como sua mãe Mnemósina que era associada às nascentes, tanto no mundo subterrâneo quanto no mundo superior.
 
 Calíope
Musa da Eloquência
 
 
Seu nome tem o significado de rosto formoso. Era a mais velha, mais sábia e distinta das nove musas. Tinha uma linda voz e foi a mãe das sereias, dos coribantes, de Orfeu e Linus com Apolo. 
 
Atuou como mediadora na disputa de Adônis entre Perséfone e Afrodite. Representada sob a figura de uma donzela de ar majestoso, coroada de louros e armada de grinaldas, aparece sentada em atitude de meditação e um livro tendo, junto de si, mais três livros: a Ilíada, a Odisseia e a Eneida. Seus símbolos são um pergaminho,  a tábua de escrever e um estilete. 



 
 
Clio ou Kleio
Musa da História
 
Seu nome tem o significado "Proclamadora. Com Pierus rei da Macedônia, foi a mãe de Jacinto. A ela é atribuída a introdução do alfabeto fenício na Grécia.
 
Era a que divulgava e celebrava realizações, a que dá fama. Seus símbolos usuaus são um rolo de pergaminho ou um conjunto de tábuas para a escrita. 
 

  
 
 
 
 
Erato
Musa da poesia amorosa e romântica
 
 
Seu nome tem o significado "Adorável", a amável, que desperta o desejo. A Musa da poesia lírica, particularmente a poesia amorosa ou erótica, e da mímica. Ela é representada usualmente com uma lira ou com uma coroa de rosas. Teve com Arcas o filho Azan.
 







Euterpe
Musa da História
Seu nome tem o significado "Delícia, plena alegria". Pela cultura grega, é uma das nove musas de Apolo. Além da Música, é a Musa da alegria e do prazer e do tocar de flauta. A ela atribui-se a invenção da flauta dupla, que é o seu símbolo. No final do período clássico foi nomeada a musa da poesia lírica e usava uma flauta. Alguns consideram que tenha inventado aulos ou flauta-dupla, mas a maioria dos mitólogos dão crédito a Marsyas.  
 
 

 
 
 
 
Melpômene
Musa da tragédia e da alegria
 
Seu nome tem o significado de "Coro", a que canta. A Musa da tragédia é usualmente representada com uma máscara trágica e usando os coturnos - botas tradicionalmente gastas e usadas pelos atores. Algumas vezes ela segura uma faca ou bastão em uma mão, e a máscara na outra, e uma coroa de ciprestes.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Polímnia
Musa da poesia lírica
 
 
Seu nome tem o significado de "muitas canções e da narração de histórias". É a Musa grega do hino sagrado, da eloquência e da dança, representada usualmente numa posição pensativa ou meditativa.
 
Ela é uma mulher de olhar sério, vestindo num longo manto. Algumas vezes pensativa tem um dedo na boca, também era considerada a Musa da geometria, meditação e agricultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Terpsícore
Musa da dança
 
Seu nome tem o significado "Delícia de dançar", a radiante ou rodopiante. Seu símbolo é a lira. De acordo com algumas tradições, ela é a mãe da sereias junto com o deus ribeirinho Aquelau.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Talia
Musa da Comédia
 
Seu nome tem o significado "Festividade". É a Musa grega que preside a comédia e a poesia leve, a que floresce e festiva.
 
Seus símbolos são a máscara cômica e um cajado de pastor. Talia também é o nome de uma das Graças ou Cárites.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Urânia
Musa da Astronomia e Astrologia
 
Seu nome tem o significado "Rainha das montanhas", a celestial. Musa grega da astronomia e da astrologia, é representada com um globo na mão esquerda e um prendedor na direita. Urânia veste-se com um manto bordado com estrelas e ela mantém seus olhos fixos no céu.
 
 
 
 
 
  
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Mnemosine era a divindade que mantinha vivos os fatos frente aos perigos da infinitude e aos perigos do esquecimento que na cosmogonia grega aparece como um rio, o Lete, um rio a cruzar a morada dos mortos que provocava letal esquecimento. No Tártaro, era de onde as almas bebiam sua água quando estavam prestes a se reencarnarem e, por isso, esqueciam sua existência anterior.
 
A mnemónica, que partilha a etimologia de Mnemosine, é usada como auxiliar de memória, para memorizar listas e fórmulas, baseadas em formas simples de memorização, dentro do princípio de que a mente humana tem mais facilidade de memorizar dados quando estes são associados a informação pessoal, espacial ou de caráter relativamente importante, com significado aparente, pois sequências sem algum sentido são igualmente difíceis de memorizar.
 
Também pertence à mesma família etimológica pertence a palavra Música - que concerne às Musas e Museu - o templo das Musas, onde elas residem ou onde alguém se aperfeiçoa nas diversas artes.

Era através da audição do canto que o homem comum podia romper os estreitos limites de suas possibilidades físicas de movimento e visão, transcender suas fronteiras geográficas e temporais, entrar em contato e contemplar figuras, fatos e mundos que pelo poder do canto se tornavam audíveis, visíveis e presentes. O poeta, portanto, tem na palavra cantada o poder de ultrapassar e superar todos os bloqueios e distâncias espaciais e temporais, um poder que lhe é conferido pela Memória ou Mnemosine, através das palavras cantadas das Musas.
 
O dom de Mnemósine é conduzir o côro das Musas e, confundindo-se com elas, presidir a função poética. A Grécia arcaica da mesma forma que diviniza a função psicológica da memória e  diviniza a possibilidade de suas funções. A poesia é uma espécie de possessão pelas Musas, de delírio divino que toma o poeta e o transforma no intérprete de Mnemósine, daquela que tudo sabe.
 
Conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas. Aprende-se não só como as coisas passaram a existir, mas também onde as encontrar e como fazê-las ressurgir quando elas desaparecem. No contexto mítico, recordar significa resgatar um momento originário e torná-lo eterno. A recordação, como resgate do tempo, confere imortalidade àquilo que ordinariamente estaria perdido de modo irrecuperável. Traz de novo a presença dos Deuses, os feitos exemplares que forjam os heróis e que perseguimos ainda hoje como modelos exemplares. Nos coloca novamente em presença das tradições dos antepassados que nos tornaram o que somos.

O papel da memória não é apenas o de simples reconhecimento de conteúdos passados, mas um efetivo reviver que leva em si todo ou parte deste passado. É o de fazer aparecer novamente as coisas depois que desaparecem. É graças à faculdade de recordar que, de algum modo, escapamos da morte. O esquecimento é a impermanência, a mortalidade. Conforme Platão: a natureza mortal procura, na medida do possível, ser e ficar imortal.
 
O lugar da memória é o lugar da imortalidade, que guarda a glória imortal das obras produzidas e deixadas para as gerações. São os filhos uma espécie de memória que se perpetua pelo sangue ou pelos genes. São os valores e as culturas, que permanecem como expressão máxima do pensamento e do sentimento humano.
 
A memória não está apenas no passado, mas está presente em nossos corpos, em nosso idioma, no que valorizamos, no que aprendemos, tememos e no que esperamos. A memória liga o presente ao passado, mostra a diferença e aponta a repetição, permitindo que possamos admirar o que é novo. Porque só é novo aquilo que procuramos referências na memória e não encontramos, pois no instante seguinte em que percebemos algo novo, ele já pertence ao passado e ao domínio da memória.
 
Não nos lembramos de tudo, lembramos aquilo que tem significado, aquilo que é importante. Assim, vivemos entre a memória e o esquecimento, talvez porque vivamos entre o ser e o não ser mais. Certamente precisamos de ambos para viver. A memória nos faz lembrar de quem somos e é o que nos faz querer ir a algum lugar.
 
 

domingo, 12 de dezembro de 2010

Cárites ou Graças



As Cárites ou Graças, eram musas do encanto, da beleza, da natureza, da criatividade humana e da fertilidade, que dançavam juntas à luz da Lua. Habitualmente eram consideradas três: a menor Aglaya, representava o esplendor e beleza. Eufrósine era aquela que alegra o coração e Talía, aquela que faz florescer.

As Cárites também estavam associadas com o inframundo e os mistérios eleusinos. O rio Cefiso estava consagrado a elas e tinham suas próprias
festividades, as Caritesias ou Carisias. Elas presidiam sobre os banquetes, danças e todos os outros eventos sociais agradáveis, trazendo alegria para os deuses e aos mortais.

Eram as auxiliares especiais das divindades do amor, Afrodite e Eros, e junto com outras Musas cantavam aos deuses no Monte
Olimpo quando Apolo tocava sua lira. Elas formavam junto com outras Musas, o cortejo de Apolo, na sua qualidade de deus da poesia e da música.

Residindo no Olimpo, também faziam parte do cortejo de Afrodite a quem prestavam todos os cuidados, zelando por sua beleza e por seus prazeres. Quando Atena saia no exercício das suas atribuições pacíficas, nos trabalhos artísticos e operações espirituais, as Cárites a acompanhavam.

Como as Musas, acreditava-se que elas davam o dom aos artistas e poetas para a criação de lindos trabalhos de arte. As Graças eram tratadas como uma espécie de encarnação tripla de graça e beleza, uma triplicidade de Afrodite. Na arte elas normalmente são representadas como jovens virgens dançando num círculo.


Aglaya, o esplendor - a resplandecente, a que brilha, a esplendorosa, a esplêndida - era a mais jovem e bela das três Cárites. Simbolizava a inteligência, o poder criativo e a intuição do intelecto. 

Segundo algumas versões, era esposa de Hefesto - ainda que a versão mais difundida é de que Hefesto era casado com a deusa Afrodite. Seu casamento explica a tradicional associação das Graças com as artes. 

Aglaya era mãe de: Eucleia, deusa da boa reputação e a glória; Eufeme, deusa do correto discurso; Eutenia, deusa da prosperidade e a plenitude; Filofrósine, deusa da amabilidade as boas-vindas.

Eufrósine, o júbilo e alegria, era quem alegrava os corações. Alguns consideram que é a Graça intermedia entre Talía e Aglaya.

Talía, a festividade, aquela que fazia florescer, era a musa da comédia e da poesia bucólica ou pastoril. Era uma divinidade de caráter rural e era representada como uma jovem de aspecto zombador, levando em suas mãos uma máscara cómica e um cajado de pastor, uma coroa de hera na cabeça como símbolo da imortalidade e calçada de borceguíé ou sandálias. 

Foi mãe dos Coribantes junto com Apolo, sendo a maior das três Cárites ou as Obrigado. Presidia os banquetes e outras festividades, outorgando os dons da abundância e a fertilidade. 

Nas representações artísticas distingue-se por ser a única das três que leva flores na cabeça. Em outras obras aparece completamente vestida, em comparação com suas outras duas irmãs, que aparecem semidesnudas ou completamente nuas.


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Graça em sua primeira acepção designa a qualidade ou conjunto de qualidades que fazem agradável a pessoa que tem graça, ou aquela que é Cômica, que faz graça. No começo do século 20 era comum perguntar: - Qual é a sua graça? quando se perguntava o nome de uma pessoa. 

Esse costume, que ainda hoje se mantem em alguns lugares, e vem da cerimônia de batismo, quando se tornando um cristão, recebe a graça de Deus e, junto com a graça, recebe um nome.

O vocábulo Graça provém do latim gratia, que deriva de gratus - grato, agradecido - e por isso as Cárites ou Graças eram chamadas de As Obrigado. Graça derivado do latim gratiis - é o que foi dado pelas graças, gratuitamente e ainda gratificar, que desde o século 15, equivale a agradecer.

Pede-se
uma graça a Deus; cai-se nas graças de alguém, diz-se estar em estado de graça quando se sente imensamente feliz, faz-se graças para despertar o riso, tem-se a graça de conceber um filho. 

Das Graças herdamos as expressões: ficar em estado de Graça, ansiamos pelas Graças de Deus e também pelo desejo de reunir em uma só palavra esse estado de beleza e alegria, que embora sendo uma dádiva ou presente divino, é fruto do esforço humano.

Elas dispensam aos homens não somente a alegria e igualdade de humor, mas a liberdade, a eloquencia e prudência. As Cárites operam arquetipicamente em nós como forças que promovem impulsos dirigidos para a beleza e para plenitude de expressão. As encontramos em nossa consciência sempre quando tentamos construir uma obra de arte a partir do nosso eu interior.


São as dádivas das Graças que trazem mais sabor às nossas vidas e nos fazem sonhar, além de nos inspirar em pequenos gestos que operam como milagres. Quando estamos apaixonados, diz-se estar em estado de Graça, o espírito das Três Garças nos acompanha de forma peculiar, diferente do que acontece no cotidiano. Quando se ama, no reino do amor não existe nenhuma competição, possessividade ou controle. Quanto mais amor se distribui, mais amor se tem.

No ritmo secreto do universo é o amor que move o mundo; é a origem, o destino e centro de nossas experiências.
E as Graças ainda passam por nós todos os dias, nos convidando a sorrir, achar graça em tudo, para vivenciar a passagem suave e cheia de encanto das três Graças por nossas vidas...



Ceice e Alcion




Ceix ou Ceice era rei de Traquis, filho de Eósforo. Casado com Alción e pai de dois filhos - Hípaso e Hilas, Ceice foi até a Jonia para consultar o oráculo, porém durante a travessia, seu barco naufragou e ele se afogou.

Em vão Alción esperava pelo marido. Coube a Morpheus a incumbência pelos deuses de tomar a forma de Ceice e aparecer nos sonhos de Alción para lhe revelar sobre a morte do marido. Transtornada, ela se precipitou no mar.

Em homenagem a eles, os deuses os transformou em pássaros que viviam nas costas do mar. Quando estes pássaros faziam seu ninho na praia e as ondas ameaçavam destruir, Éolo, deus dos ventos, continha a sua força e fazia que as ondas se acalmassem durante os sete dias anteriores ao dia mais curto do ano, para que pudessem pôr seus ovos.

Estes dias passaram a chamar-se "Dias do Alción" e neles nunca tinha tormentas. O pássaro passou a simbolizar a tranquilidade. Porém levados pela vaidade, o casal se atreveu a equiparar-se aos deuses.

Por este sacrilégio, Alción foi transformada no pássaro Martín pescador, e Ceice em Alcatraz. Assim eles passaram a viver separados, pois Alcatraz foi condenado a viver nos rochedos e Martin Pescador vive mergulhando nas águas rasas da orla marítima.




Morpheus


Morpheus era o deus dos sonhos, sendo o principal dos Oneiroi ou Orinos, os mil filhos de Hypnos, deus do sono e da sonolência. Era representado com asas, voava rápido e silenciosamente, lhe permitindo chegar em qualquer lugar e a qualquer momento.

Morpheus encarregava-se de induzir os sonhos
a quem dormia e de adotar uma aparência humana para aparecer neles, especialmente igual aos entes queridos, permitindo aos mortais fugir por um momento do olhar dos deuses.

Morpheus dorme em uma cama de ébano em uma gruta pouco iluminada, rodeado de flores de dormideira, que contêm alcaloides de efeitos sedantes e
narcóticos, enquanto seus irmãos Phobetor e Phantasus são responsáveis pelos sonhos dos animais e os objetos inanimados que apareciam nos sonhos. Morpheus só se ocupa dos elementos humanos.

Inadvertidamente, Morpheus revelou os segredos aos mortais através de seus sonhos, e por isso foi fulminado por Zeus. Do seu nome procede o nome
da droga Morfina, por suas propriedades que induz à sonolência e tem efeitos análogos ao sonho. E toda noite Morpheus vem nos abraçar e nos fazer sonhar, por isso se diz que dormir bem é estar nos braços de Morpheus.

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Sonhar é um fenômeno que sempre fascinou o ser humano. Durante o sono somos transportados para outro mundo onde em incríveis sonhos podemos realizar façanhas, encontrar aqueles que já morreram ou encontrar desconhecidos, subir aos céus, voar e descer aos infernos. Toda essa experiência que ocorre enquanto dormimos constrasta com a imobilidade que nos domina, parecendo que quem dorme se encontra com Thânatos, ou deixou de viver. Disso resultava que na antiguidade pensasse que através do sono se podia enxergar além da vida e encontrar com os antepassados mortos.

O descanso também está associado ao sono. De fato nas noites em que há muitos sonhos, a pessoa acorda cansada, porque os sonhos acontecem nas últimas horas de sono; e Alfred Maury considerava o sonho como um estado de semi-vigilia. Freud, o precursor dos estudos mais avançados dos sonhos, julgava que os instintos, quando reprimidos, tendem a se manifestar através dos sonhos. Isto numa linguagem simbólica representativa do desejo; nossa personalidade gravitaria em torno da auto-afirmação, do desejo do domínio.


As duas proposições foram consideradas válidas por Jung, que descobriu que nos recessos do inconsciente, existe uma infra-estrutura feita de imagens ou símbolos que integram a mitologia de todos os povos. São os arquétipos, reminiscências de caráter genérico que remontam a fases muito primitivas da evolução.

Todos nós temos nossas máquinas de tempo. Algumas nos levam de volta, elas são chamadas recordações. Algumas nos levam adiante, elas são chamadas de sonhos. Uma das calamidades da vida é sonhar apenas quando estivermos dormindo, porque o homem mais pobre não é o homem perde seu dinheiro; é o homem que perde a capacidade de sonhar...

Hypnos


Hypnos, filho de Nix - a noite e Erubus - a escuridão, era o deus grego do sono e da sonolência; e seu equivalente romano era Somnus. Era irmão gêmeo de Thanatus, o deus da morte. Hypnos seria o responsável pelo descanso restaurador de todas as criaturas terrestres, enquanto Thanatus pairava sobre a superfície.

Hypnos se uniu a uma das Graças ou Cárites, Pasítea, e com ela teve mil filhos, os Oneiroi ou Oniros. De todos eles, três eram responsáveis por distribuir os sonhos a quem dormia; e uma filha distribuia os sonhos aos acordados:

* Ícelus - criador dos pesadelos;
* Morpheus - criador dos sonhos;
* Phantasos e Phobetor - criador dos objetos inanimados que aparecem nos sonhos;
* A Phantasia, era a única filha, criadora dos monstros e devaneios.

Às vezes mostrado adormecido em um leito de penas com cortinas negras à volta, seus atributos incluiam um chifre contendo ópio, um talo de papoula e outras plantas hipnóticas, um ramo gotejando água do rio Lete - do esquecimento - e uma tocha invertida.Costumava ser visto trajando peças douradas enquanto seu irmão gêmeo, Tânatos - a morte, normalmente usava tons prateados. Também foi retratado como um jovem nu dotado de asas, tocando flauta com a qual adormecia os homens, com um rastro de névoa por onde passava.

Hypnos vivia num palácio construído dentro de uma grande caverna no oeste distante, onde o sol nunca alcançava, para que nenhum galo cantasse e acordasse o mundo, nem gansos ou cães, de modo que Hypnos viveu sempre em tranquilidade, em paz e em silêncio.

Do outro lado deste lugar peculiar passava Lete, o rio do esquecimento, e nas margens, cresciam plantas que junto ao murmúrio das águas límpidas do rio ajudavam os homens a dormir. No meio do palácio existia uma bela cama, cercada por cortinas pretas onde Hipnos descansava, e Morpheus, seu filho e principal auxiliar, cuidava para que ninguém o acordasse.

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De Hypnos provem a hipnose, um estado alterado e temporário de atenção, que pode ser induzido, possibilitando fenêmenos espontâneos como em resposta a estímulos verbais ou de outra natureza, como toques ou sons. Segundo especialistas, a hipnose provém de uma forma intensa de pensar, com conseqüências no corpo e na atividade neural. Como o cérebro não distingue atenção concentrada e a realidade, o corpo responde como se a experiência fosse real. Na prática, significa entrar em contato direto com as emoções; é como abrir uma janela para estabelecer um diálogo com o inconsciente.

A hipnose é tão antiga quanto o próprio homem. Os egípcios, os romanos e os astecas já utilizavam a técnica no tratamento de doentes. Para os ocidentais, a hipnose moderna começou com o médico alemão Franz Anton Mesmer, no século 18, com o mesmerismo. Mas as maiores descobertas aconteceram na segunda metade do século 19, graças aos trabalhos de clínicos como Charcot, Liebeault e Bernheim. A hipnose foi o ponto de partida de Freud e dos primeiros psicanalistas.

Durante muito tempo se confundia a hipnose com o sono, devido ao relaxamento físico enquanto a pessoa está em transe. O transe hipnótico é, na verdade, um estado de consciência alterado, mas simultâneo a um estado natural; se quiser, a pessoa se lembra de tudo o que acontece à sua volta durante uma sessão.

A hipnose tem aplicações úteis para diagnósticos e tratamentos, como na psicologia os registros de pânico, fobia, transtornos e depressão. Na medicina e odontologia, como auxiliar de pré-operatório, controle de dores, distúrbios psicossomáticos, ou doenças de fundo emocional, como em casos de alergia, asma, gastrite e até câncer.
Pode encurtar os tratamentos, sendo eficaz aos pacientes que não podem tomar anestésicos.

A seriedade do método é aprovada pelos conselhos federais de psicologia, medicina e odontologia, que regulamentam o uso da hipnose como recurso terapêutico, que já é utilizado em muitos hospitais. A maioria das pessoas são aptas a entrar em transe, através da atenção concentrada numa música ou numa imagem, mas nem todos tem essa capacidade de atenção concentrada, impedindo seu uso.


DISTÚRBIOS QUE PODEM SER TRATADOS COM HIPNOSE

Anorexia nervosa, Ansiedade, Asma, Bulimia, Dependência de drogas, álcool e cigarros, Depressão, Dificuldades de aprendizagem, Distúrbios sexuais, Dores, Fobia social, Gagueira, Insônia, Obesidade, Síndrome do pânico, Sonambulismo, Stress e Stress pós-traumático, Timidez, Transtorno Obsessivo- Compulsivo (TOC).

Quando a pessoa também se concentra fixamente em algo, acontece essa espécie de transe leve, como se a pessoa entrasse no piloto automático. Isso é favorável para ir ao dentista, tomar uma injeção. Mas não são indicados para pessoas em surto psicótico, pois já estão alterados; e nem para pacientes cardíacos e hipertensos pois o estado alterado podem produzir fortes emoções que mais prejudicam do que beneficiam.

A pessoa hipnotizada permanece constantemente dona de si, não diz ou faz coisas que não diria nem faria em estado de vigília. Não há perigo de confessar segredos sem querer. O hipnoterapeuta não domina a mente do paciente. Ele é apenas um facilitador e a pessoa não se corre o risco de permanecer em transe para sempre. Se a pessoa mergulhar em uma experiência agradável ou em um estágio mais profundo, pode permanecer por mais tempo mas simplesmente por sua vontade.

A hipnose não é regressão a vidas passadas. A técnica é um fenômeno meramente psíquico, ou seja, um estado especial da mente que possibilita ações terapêuticas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nix e Érubus


Segundo a Teogonia, de Hesíodo, Érebus era a personificação da profunda escuridão, o criador das sombras e das trevas. Tinha seus domínios demarcados por seus mantos escuros e sem vida, predominando sobre as regiões do espaço conhecidas como Vácuo logo acima dos mantos noturnos de sua irmã Nix, a personificação da noite.

Sendo filhos do Caos - a desordem do mundo, Érebus - as sombras e sua irmã gêmea Nix - a noite, nasceram de cisões assim como se reproduzem os seres unicelulares; a partir de pedaços. São os mais velhos imortais do universo, logo após Caos. Érebus desposou Nix, gerando outros deuses primordiais: o Éter - a Luz celestial e Hemera - o Dia.

Conhecido por ser um dos maiores inimigos de Zeus, conta-se que os Titãs pediram socorro a Erebus e
pessoalmente o primórdio havia descido até o Tártaro para libertar os filhos de Gaia, porém foi surpreendido por Zeus e Hades que tiveram a ajuda de Nix para lançar Erebus nas profundezas do rio Aqueronte, a fronteira dos dois mundos.

Na medida em que o pensamento mítico dos gregos se desenvolveu, Érebus deu seu nome a uma região do
Hades por onde os mortos tinham de passar imediatamente depois da morte, para entrar no Hades. Após Caronte tê-los feito atravessar o rio Aqueronte, entravam no Tártaro, o submundo propriamente dito.

Eram filhos de Nix e Érebus: * Éter, a luz celestial e Hemera, o dia. Depois, sozinha, deu origem a outros filhos:

* Hypnos, o sono * Thânatus, a morte * Éris, a discórdia * Hespérides, a tarde * Apáte, o engano * Philótes, a amizade * Geras, a velhice * Lissa, a loucura * Oizus, a miséria * Lete, o esquecimento * Até, o erro * Nêmesis, a ética e deusa da retribuição * Kera, o destino do homem em seus momentos finais ou a morte em batalha * Oniro, a legião dos Sonhos * Moiras, as desapiedadas deusas do destino * Limos, a fome * Ftono, a inveja Caronte, o barqueiro do mundo dos mortos * Moro, o escárnio e o quinhão que cada homem receberá em vida - o destino. Em uma versão, as Erínias seriam filhas de Nyx.

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O mito de Nix de Erebus representa a vida organizada através dos tempos. No princípio havia a escuridão e a noite; eles criaram a luz do dia e a tarde para vivermos a vida e realizarmos as nossas tarefas principais.

Também criaram as qualidades morais, as fases da vida e a morte, para que nos lembrássemos de aproveitar o nosso tempo de vida. Sendo os pais de Leto - o esquecimento - lembra-nos de que nada melhor do que o tempo para curar as nossas mágoas de situações e momentos desagradáveis.

E para isso, reservaram um momento em que eles reinam, auxiliados por seus filhos e netos: Hypnos - o sono e
Morpheu - o sonho, nos propiciando o descanso e recuperação de energias, que são sagrados, como deuses. Quando não lhes damos o devido tempo, os deuses reclamam através da doença e do envelhecimento precoce, devido a falta de uma boa noite de sono.
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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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