quinta-feira, 10 de maio de 2018

Atis e Cybele: os perigos das paixões e dos desejos






Contam os historiadores que há 3200 anos nasceu um Daemon no Monte Agdistis, que tinha atributos masculinos e femininos. Temendo a reação dos deuses do Olimpo, seus pais cortaram seu órgão masculino e enterraram num local onde depois nasceu uma amendoeira. Assim Cybele cresceu como uma menina. 

A amendoeira cresceu, floresceu e quando surgiu um fruto maduro, a ninfa Nana apanhou a fruta e a colocou sobre seus seios. Num passe de mágica o fruto desapareceu e ela engravidou. 

Depois de algum tempo nasceu um menino forte que recebeu o nome de Átis, mas ela o abandonou na montanha, onde foi criado por uma cabra e depois adotado por um casal de pastores. 

Átis cresceu, tornou-se um pastor de ovelhas e era muito admirado por sua extraordinária beleza. Por circunstâncias do destino, certo dia Átis e Cybele se encontraram e se tornaram amantes apaixonados. 

Os pais adotivos de Átis já tinham prometido que ele se casaria com a filha do Rei Midas, por isso providenciaram a cerimônia do enlace de Átis com a princesa. Porém no dia do casamento Cybele surgiu com seu poder transcendente fazendo Átis enlouquecer. 

Sem se dar conta de seus atos, Átis se automutilou. Depois de ter cortado seu órgão genital, Átis morreu aos pés de uma árvore. Com o fato consumado Cybele se arrependeu e em memória de Átis declarou que todos os sacerdotes deveriam ser castrados. 

Porém, não querendo ver o corpo de Átis apodrecer, a deusa o fez renascer como um pinheiro verde em 25 de março, dia em que ocorria o festival de Hilaria. 

A data do festival coincidia com o equinócio, que marcava o fim do inverno e anunciava a chegada da primavera. Além de ser o primeiro dia do ano também era o mais longo, que indicava a temporada de renascimento, renovação e rebrota.

Àtis passou a ser venerado como um deus da vegetação e dos frutos da terra que renascem na primavera. Seus sacerdotes, os gauleses ou Galli, se tornaram eunucos e jamais pensavam em sexo. 

Ao contrário das celebrações dedicadas para Átis, os cultos dedicados a Cybele eram feitos pelos Curetes ou Coribantes, incluindo muitas manifestações orgíacas. 

Com uma cornucópia nas mãos, ela representa a abundância, a fertilidade e riqueza, Cybele também ostentava uma coroa em forma de muralhas e um carro puxado por leões que simboliza seu poder ambivalente de proteger ou destruir...  


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A "Mãe Terra" aparece em muitas mitologias, sendo personificada como as deusas da fertilidade, da maternidade e da origem de todas as coisas vivas. Uma delas foi Cybele, adorada por gregos e romanos, que lhe prestavam muitas reverências para que tivessem o alimento gerado pela terra. 

Nos contos antigos a amêndoa figura como o princípio de todas as coisas, talvez porque sua delicada flor lilás é um dos primeiros arautos da primavera. Por não entenderem muito do processo de germinação, eles invocavam e pediam a proteção dos deuses no plantio e nas colheitas. 

Vários contos mitológicos e históricos relatam mulheres virgens que se tornaram mães virgens, mas na verdade são relíquias de uma era de ignorância quase infantil, em que as pessoas ainda não reconheciam o sexo como a verdadeira causa da prole. 

As mutilações narradas desde o início mostram a dificuldade para entender as questões sexuais e a dupla natureza contida nos seres vivos. Poetas e pensadores gregos tinham uma forma muito sofisticada para falar de amor e sexo. 

Além disso, os gregos se sentiam muito assustados com a ideia da paixão, pois sentiam que poderiam ser dominados por algo muito perigoso e até fatal. Prova disso são os mitos envolvendo grandes paixões, que sempre terminam em grandes tragédias. 

Os gregos sempre advertiam para os perigos das paixões e dos desejos. Quem já se apaixonou sabe do frio na barriga, o nervosismo, as mãos frias... O que poucos imaginam é que a paixão é construída no inconsciente muito antes de acontecer de fato. 

Cada pessoa tem a fantasia de que a sua metade está por aí. Há um preparo inconsciente de que um belo dia vai encontrar uma pessoa com características especiais, como a beleza, a sedução ou o sorriso, que se assemelham com essa figura inconsciente. 

Freud fala que a paixão não é um encontro, mas o reencontro de uma figura que já estava pré-marcada dentro da pessoa. Ou seja, cada um de nós imagina uma pessoa que, de repente, aparece. É quando a paixão que se desejava aparece como uma figura real. 

Freud diz que a paixão é uma forma de loucura, porque você sente coisas, delira, imagina. A paixão é um estado maravilhoso no sentido fantástico, possivelmente um dos maiores prazeres do ser humano. Porém a paixão é cega; se nega a ver os defeitos do outro. 

Também impede o raciocínio. Não se sabe de onde ela vem, mas certamente provoca em duas pessoas uma reação química. Química não tem a ver com beleza. Às vezes, um casal fica totalmente ligado sexualmente, mas não afetivamente. Mas embora seja intensa, não dura muito. 

A paixão não tem um tempo determinado. Na adolescência, costuma durar menos. Tudo é muito intenso, acontecem mudanças o tempo todo e o parceiro pode não acompanhar. Na fase adulta, há pessoas que são mais apaixonáveis, trocam de parceiro a cada seis meses e estão sempre apaixonados, só que não dura. 

Quem fica trocando de parceiros rápido, apaixona-se rápido, mas se frustra rápido também. É aí que a paixão pode se tornar perigosa e chegar a um ponto insuportável, principalmente quando não é correspondida. 

As pessoas que perdem uma paixão sofrem terrivelmente e há quem fique o resto da vida sonhando com essa paixão que não aconteceu. É um sofrimento absurdo. Não tem como não sofrer. Tem de passar por isso, atravessar a situação. 

O melhor de tudo vem depois que a paixão passa. Mantém a atração, a relação evolui e se transforma em amor. O amor é mais calmo, tranquilo, elaborado. Não precisa ser tão possessivo, mas podem existir áreas de paixão intensa. 

Há pessoas que mantêm uma relação durante toda a vida com o mesmo parceiro e, mesmo tendo o amor, continuam apaixonados por algum ponto específico, como o corpo, a personalidade, a cumplicidade a dois...





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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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