Ao ser injustamente difamado por seu rival Antífilos, que o acusou de ser cúmplice de uma conspiração diante do crédulo rei do Egito, Apeles provou sua inocência e para expressar sua indignação ele pintou um quadro. Mais tarde Sandro Botticelli reproduziu a cena do julgamento em sua obra "A Calúnia de Apeles"/1494.
A pintura mostra um homem inocente arrastado diante do trono pelas personificações da Calúnia, da Malícia, da Fraude ou Dolos e da Inveja. Eles são seguidos de um lado pelo Remorso, uma anciã angustiada que veste roupas surradas, que vira-se para enfrentar a Verdade nua, bela e pudica, que aponta para o céu.
A nudez da Verdade a relaciona ao jovem inocente, cujas mãos postas significam o apelo a um poder superior.
Assim como o jovem inocente quase tão nu quanto ela, a Verdade não tem nada a esconder.
Com seus gestos eloquentes e a expressão da única figura proeminente na pintura, ao apontar para o alto em direção ao céu mostra que uma Justiça mais elevada será dispensada ao acusado.
Com seus gestos eloquentes e a expressão da única figura proeminente na pintura, ao apontar para o alto em direção ao céu mostra que uma Justiça mais elevada será dispensada ao acusado.
O Rancor, vestido de preto, conduz a Calúnia com a mão direita. A Calúnia empunha uma tocha acesa com a mão esquerda, símbolo das mentiras que ela espalhou, enquanto arrasta pelos cabelos sua vítima, o jovem seminu, pela mão direita.
A Inocência do rapaz é representada pela sua nudez, que significa que ele nada tem a esconder. Ele cruza as mãos em vão, como que rogando a sua libertação a um poder superior.
Por detrás da Calúnia, as figuras da Fraude ou Dolos e da Inveja estão cuidadosamente ocupadas em trançar, hipocritamente, os cabelos de sua amante, a Calúnia, com uma fita branca e espalha rosas sobre sua cabeça e ombros.
Ao serem representadas com as formas enganosas de belas moças, elas estão fazendo um uso insidioso dos símbolos da pureza e da inocência para adornar as mentiras da Calúnia.
Ele está ladeado pelas personificações alegóricas da Ignorância e da Suspeita, que estão avidamente sussurrando rumores em suas orelhas de burro, que simbolizam a imprudência e a natureza tola do rei.
Ele tem os olhos apertados, mostrando que é incapaz de ver o que está realmente acontecendo e estende a mão cansada para o Rancor em pé diante dele.
****************
Desde pequenos somos condicionados a procurar por justiça e, quando na vida somos injustiçados, sentimos raiva, ansiedade e frustração. Na verdade, procurar por justiça plena é como procurar a fonte da juventude eterna. A justiça plena não existe, nunca existiu e nunca existirá. O mundo não funciona dessa forma.
A natureza não é justa. Animais são predadores naturais de outros: os ratos comem os percevejos; as cobras comem os ratos; as galinhas comem as cobras; os coiotes comem as galinhas etc. Mesmo que pareça injusta, assim é a cadeia alimentar dos bichos. Furacões, inundações, terremotos, todos são injustos, porque atingem bons e maus.
É um conceito mitológico sentir-se feliz ou infeliz devido à injustiça; é isentar-se da responsabilidade pela própria felicidade. A exigência da justiça é verdadeira, mas não podemos nos deixar envolver demais nela, pois assim estaremos sendo injustos em relação a nós mesmos. Apesar da injustiça, temos de nos manter em busca da verdade e defender a inocência.
A injustiça é constante, mas podemos nos recusar a sermos reduzidos a um estado de imobilidade emocional por causa dela. Esforçar-se para eliminar a injustiça é um dever, mas ninguém jamais poderá se sentir psicologicamente derrotado por ela.
Se você parar de plantar boas sementes de onde nunca nada se colhe, nunca se sentirá injustiçado. Plante sementes apenas onde haja possibilidade de germinar e de onde você possa colher bons frutos. E se quiseres combater a injustiça, comece por si mesmo. A injustiça se alimenta e ganha força onde há malícia, fraude, dolo, calúnia, inveja, mentira, ignorância, suspeita e imprudência...