Erisícton era um rei da Tessália, rico e violento, que não temia nem reverenciava os deuses. Um dia Erisícton resolveu construir um castelo e para isso violou um bosque consagrado a Deméter, deusa da agricultura, derrubando todas as árvores. Contra todos os argumentos de seus criados, Erisicton pos-se a derrubar árvores consagradas à deusa e a golpear com o machado um imenso carvalho, árvore favorita da deusa.
Do tronco ferido jorrava o sangue. Um dos criados tentou impedi-lo e teve a cabeça cortada em um único golpe. As dríades, divindades da floresta, também não conseguiram impedi-lo e correram a Deméter, exigindo justiça. Num ato de extrema indignação, Deméter recorreu a Éton que personificava a Fome, e a colocou no estômago de Erisicton, despertando-lhe um apetite devorador, que nada era capaz de apaziguar.
Em poucos dias, Erisicton consumiu toda a comida disponível em seu palácio e gastou toda sua fortuna para comprar mais e mais. Desesperado, vendeu sua filha Mnestra como escrava, para comprar mais comida. Mnestra recorreu à ajuda de Poseidon que lhe concedeu o dom da metamorfose.
Mnestra conseguiu escapar inúmeras vezes dos seus sucessivos proprietários, retornando sempre para junto de seu pai que precisava vendê-la em troca de comida. Mesmo assim, Erisicton não conseguiu saciar-se e emagreceu sem parar. Enlouquecido, Erisícton começou a comer os membros do próprio corpo e acabou devorando a si próprio.
***************************
O mito de Erisicton está presente naquelas pessoas que acham que os outros e o mundo deva fazer tudo para elas e, embora sejam alertadas sobre o perigo de sua indolência, continuam sempre dependendo dos outros para alimentá-los, vestí-los e para realizar seus desejos e caprichos. Estas pessoas, na sua ânsia de exigir dos outros cada vez mais, acabam destruindo sua capacidade de viver por si mesmas, desprezando os talentos e habilidades que cada ser humano traz em si.
Por outro lado, é um engano para aqueles que tentam atender todas as exigências dos outros, não só materiais como emocionais, pois logo lhe faltarão recursos para atendê-los. E mesmo que tenham atendido todas as exigências que lhes tenham sido feitas; mesmo que se desdobrem para poder atender aos outros, ao final terão apenas destruído um ser humano que tinha todas as possibilidades para tornar-se uma grande pessoa, e não se tornou graças à pretensão de alguém em salvá-los das dificuldades da vida.
"Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar. Nada lhe posso dar que já não exista em si mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar senão a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo." (Hermann Hesse)
Sendo artista plástica e arteterapeuta , adorei a págna. Parabéns.
ResponderExcluircara professora Lúcia, estou escrevendo um cordel sobre esse mito. Em qual fonte posso pesquisar esse mito?
ResponderExcluirAchei muito esclarecedora. Sua descrição do mito de Erisictão. Já conhecia o mito, mas a sua descrição a gregou muitas coisas.
ResponderExcluir