domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tiphon e o impiedoso mundo das drogas





Tiphon, deus da seca, simbolizava o elemento ar em sua forma mais furiosa, os furacões. Filho de Tártaro e de Gaia, foi criado em Delfos e era inimigo hereditário dos deuses, principalmente de Zeus por quem mantinha um ódio cruel. Em algumas versões conta-se que Hera teria recebido de Gaia uma semente e ao ingerí-la teria gerado Tiphon.

Maior que todas as montanhas, Tiphon tinha um corpo horrível e amedrontador. Com braços poderosos, pés infatigáveis, cem cabeças de serpente com línguas negras, olhos que expeliam labaredas, estranhos sons provinham da estranha criatura.

Unindo-se a Equidna, Tiphon foi o pai de vários monstros: Cérbero, Ortro, Esfinge, Ládon, Hidra, Quimera, o Dragão de Cólquida e de Ethon, a águia todos os dias comia o fígado de Prometeu. E por ser o pai dos perigosos ventos cálidos, foi relacionado pelo persas aos tufões e os árabes relacionavam-os com as tormentas no Oceano Índico.


Descontente com a derrota dos gigantes, Gaia pediu a Tiphon que se insurgisse contra Zeus. Quando os deuses viram Tiphon avançando em direção ao Olimpo, fugiram aterrorizados. 

Dominados pelo medo, os deuses tentaram se esconder no deserto transformando-se em animais: Apolo em um corvo, Dionísio em uma cabra, Hera em uma vaca, Afrodite tornou-se um peixe e Ares um porco. De todos os deuses, somente a corajosa deusa Atenas teve coragem de permanecer com a sua própria forma.

Repreendido por sua covardia, Zeus resolveu combater o monstro e enviou um raio contra Tiphon. No confronto, Tiphon desarmou Zeus removendo sua consciência além dos tendões dos seus braços e pés. Impotente, Zeus foi arrastado para a caverna de Corician na Sicília onde permaneceu incapaz de mover-se. Tiphon envolveu os músculos de Zeus em uma pele de urso e confiou-os a Delfina, uma terrível criatura com língua de serpente.

Com sua flauta doce Pã conseguiu fazer adormecer a assustadora criatura. Hermes, que era médico, restaurou os tendões de Zeus que retomou imediatamente ao Olimpo. Mais uma vez Zeus reiniciou a luta contra Tiphon que arremessava montanhas contra Zeus. Enfrentando Tiphon com seus raios e trovões, a violenta luta fez tremer o céu, a terra, o mar e abalou o próprio mundo subterrâneo, mas Zeus conseguiu vencer enterrando Tiphon para sempre no Tártaro.

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O mito de Tiphon está relacionado a tudo que interfere em nossa consciência e nos torna incapazes de qualquer reação física para que possamos nos autoproteger. 

A consciência é uma qualidade da mente que nos permite estar atentos para perceber a nossa relação com o ambiente, cientes da forma que influenciamos o mundo que nos rodeia. Também é uma qualidade psíquica ou um atributo da mente e do pensamento humano, que pode sofrer alterações.

As alterações normais da consciência estão relacionadas ao sono, uma fase normal e necessária para a saúde mental. Outras alterações estão relacionadas a patologias que interferem na qualidade e quantidade de consciência. 

Um baixo nível consciência dificulta a compreensão ou nos torna incapazes de qualquer ação espontânea variando até o coma, um grau profundo de inconsciência que impossibilita qualquer reação consciente. Esse baixo nível de consciência pode ser causado por síndromes como a desorientação, alucinações e também por traumas e lesões nos nervos cerebrais.

O estado onírico ocorre devido às psicoses, síndromes de abstinência de drogas e quadros febris. Também se torna comprometida a consciência durante os transes, estados hipnóticos ou quando a pessoa "se desliga" da realidade de modo natural ou artificial.

Mas os maiores danos à consciência, que causam alterações psiquicas e físicas, são provocados pelas drogas naturais, químicas ou sintéticas, incluindo o álcool e o cigarro que podem comprometer a saúde, provocar dependência e, em alguns casos, pode levar à morte.
As drogas são classificadas de acordo com a ação que exercem sobre o sistema nervoso central, que podem ser depressoras, estimulantes, perturbadoras ou, ainda, combinar mais de um efeito.

No mito, os deuses fogem do monstro simbolizando que prevenir-se das drogas é o melhor caminho para estar fora do alcance do vício. Pã e Hermes interviram para libertar Zeus.
Da mesma forma, pessoas viciadas podem se libertar dos vícios recorrendo à psicoterapia e aos tratamentos médicos para combater o vício.

Deixar-se dominar pelo vício das drogas é entregar-se a um monstro impiedoso e cruel. Seu impacto na consciência causa mudanças bruscas, tanto internas quanto externas, o que pode levar ao chamado "efeito dominó", mas é possível vencê-lo com força e coragem.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ate ou Agne, a personificação do erro e da tolice





Tema comum da mitologia, as tragédias gregas incluem personagens que sofriam de Húbris. Castigados pelos deuses como consequência da sua transgressão, lançavam sobre eles Ate, também chamada Agne, que personificava a ruína, o engano, o erro, a tolice e a cegueira da razão que interferia no destino daqueles que não pensavam em suas ações e por isso sofriam suas consequências.

Entre os romanos era chamada também Nefas - Nefasta ou Error - o erro ou desvario. Filha de Éris - a deusa da discórdia, Ate era considerada a deusa da fatalidade e frequentemente acompanhava a Húbris, um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida", a confiança excessiva, o orgulho exagerado, a presunção, a arrogância ou insolência, que frequentemente termina sendo punida.

Seu conceito opõe-se à Sofrósina, que é a virtude da prudência, do bom senso, do comedimento, do reconhecimento dos limites e da medida de todas as coisas. Quando Hera soube que nasceria um filho de Zeus e se tornaria um grande governante, Hera antecipou o nascimento de Euristeu para que ele se tornasse rei contando com a ajuda de Ate. Enfurecido, Zeus expulsou Ate do Olimpo obrigando-a a viver na terra junto aos mortais. Assim, Ate passou a percorrer o mundo causando o caos entre os mortais.

Quando Ate foi lançada à terra, ela caiu em uma montanha da Frígia e vive nos montes. Ate sempre está presente diante dos erros e das tolices cometidas devido à arrogância, imprudência ou orgulho excessivo que nos leva à destruição ou morte. 

Sendo uma deusa alada, ela é muito rápida e pousa, sem ser percebida, na cabeça dos mortais para perturbar-lhes a razão e induzi-los ao erro. Deusa excelsa que os homens conturba, com pés leves e funestos que a terra não roça, ao caminhar passeia sorrateira causando tropeços, principalmente sobre os mais altos enleia...



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O principal pilar da moral greco-romana desde a antiguidade, sobre o qual se assenta a moral contemporânea, é a de que a virtude está no meio. Este princípio que nasceu como teoria, foi reforçado por outros pelo ideal de moderação e garantia de tranquilidade. “In medio est vistus” - a virtude está no meio. O caminho do meio é uma expressão usada desde os antigos mas sugere apenas que devemos evitar os extremos.

Os gregos ensinavam a prudência e a moderação como um estado de espírito saudável. O oposto dessa virtude era o orgulho, a vaidade e o desejo de onipotência. "Nada em excesso", recomendavam os mestres ao contar histórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos. Da mesma forma, perpassam a existência humana dezenas de outros ensinamentos e preceitos morais com a finalidade de enaltecer a preferência pelo caminho do meio.

É preciso moderação e limites para namorar, divertir, trabalhar, comer, beber, gastar etc.
No entanto, esse não deve ser o caminho da mediocridade em nome de uma pretensa segurança, prudência e comedimento, que pode levar a uma vida mediana, castrada, regrada e refreada. 

A esse respeito é preciso romper com o próprio mundinho e lançar o olhar para outras possibilidades, embora seja preciso ter limites. Muitas vezes é preciso romper com fronteiras que teimosamente interferem em nossa vida saudável, sem medo de ser feliz.

Também podemos desejar colocar limites entre nós e o resto do mundo, mas se riscarmos uma linha na areia para que ninguém atravesse, os limites não manterão os outros do lado de fora apenas nos prenderão dentro. 

Podemos passar a vida traçando linhas ou atravessando-as, embora algumas linhas sejam perigosas. Mas se soubermos escolher a linha que iremos cruzar e estivermos dispostos a arriscar, a vista do outro lado pode ser espetacular...

Diz a música Epitáfio dos Titãs:
"Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer.

Devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração..."





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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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