domingo, 13 de fevereiro de 2011

Erisícton e sua fome devoradora



Erisícton era um rei da Tessália, rico e violento, que não temia nem reverenciava os deuses. Um dia Erisícton resolveu construir um castelo e para isso violou um bosque consagrado a Deméter, deusa da agricultura, derrubando todas as árvores. Contra todos os argumentos de seus criados, Erisicton pos-se a derrubar árvores consagradas à deusa e a golpear com o machado um imenso carvalho, árvore favorita da deusa.

Do tronco ferido jorrava o sangue. Um dos criados tentou impedi-lo e teve a cabeça cortada em um único golpe. As
dríades, divindades da floresta, também não conseguiram impedi-lo e correram a Deméter, exigindo justiça. Num ato de extrema indignação, Deméter recorreu a Éton que personificava a Fome, e a colocou no estômago de Erisicton, despertando-lhe um apetite devorador, que nada era capaz de apaziguar.

Em poucos dias, Erisicton consumiu toda a comida disponível em seu palácio e gastou toda sua fortuna para comprar
mais e mais. Desesperado, vendeu sua filha Mnestra como escrava, para comprar mais comida. Mnestra recorreu à ajuda de Poseidon que lhe concedeu o dom da metamorfose.

Mnestra conseguiu escapar inúmeras vezes dos seus sucessivos proprietários, retornando sempre para junto de seu pai
que precisava vendê-la em troca de comida. Mesmo assim, Erisicton não conseguiu saciar-se e emagreceu sem parar. Enlouquecido, Erisícton começou a comer os membros do próprio corpo e acabou devorando a si próprio.

***************************

O mito de Erisicton está presente naquelas pessoas que acham que os outros e o mundo deva fazer tudo para elas e, embora sejam alertadas sobre o perigo de sua indolência, continuam sempre dependendo dos outros para alimentá-los, vestí-los e para realizar seus desejos e caprichos. Estas pessoas, na sua ânsia de exigir dos outros cada vez mais, acabam destruindo sua capacidade de viver por si mesmas, desprezando os talentos e habilidades que cada ser humano traz em si.


Por outro lado, é um engano para aqueles que tentam atender todas as exigências dos outros, não só materiais como
emocionais, pois logo lhe faltarão recursos para atendê-los. E mesmo que tenham atendido todas as exigências que lhes tenham sido feitas; mesmo que se desdobrem para poder atender aos outros, ao final terão apenas destruído um ser humano que tinha todas as possibilidades para tornar-se uma grande pessoa, e não se tornou graças à pretensão de alguém em salvá-los das dificuldades da vida.

"Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar. Nada lhe posso dar que já não exista em si mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar senão a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu
próprio mundo, e isso é tudo." (Hermann Hesse)

3 comentários:

  1. Sendo artista plástica e arteterapeuta , adorei a págna. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. cara professora Lúcia, estou escrevendo um cordel sobre esse mito. Em qual fonte posso pesquisar esse mito?

    ResponderExcluir
  3. Achei muito esclarecedora. Sua descrição do mito de Erisictão. Já conhecia o mito, mas a sua descrição a gregou muitas coisas.

    ResponderExcluir

Agradeço os seus comentários, críticas e sugestões

Related Posts with Thumbnails

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

Seguidores

Minha lista de blogs

Postagens populares